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São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2003

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PÓS-APAGÃO

No setor industrial, autogeração aumentou 17%; termelétricas são as mais usadas, com quase 80% do total

Energia "cara" faz indústria investir em geração própria

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após a crise do racionamento, aumentou o número de indústrias e estabelecimentos comerciais que optam por gerar a própria energia que consomem. A autogeração foi a fórmula encontrada para se proteger de altas de tarifa e de eventuais novas restrições ao consumo, que possam afetar a produção.
Entre 2000 e 2002, durante a crise elétrica, o consumo de energia pela indústria cresceu apenas 1,27%. No mesmo período, a autogeração aumentou 17,29%. Em 2001, durante o racionamento, o consumo de energia pela indústria caiu 5%, em relação ao ano anterior, enquanto a autogeração aumentou 8,7%.
Para a indústria e o comércio, a autogeração é uma forma de proteção contra novas restrições ao consumo de energia e, principalmente, contra a alta tarifária, que encarece os custos e causa perda de competitividade dos produtos.
Não há risco a médio prazo de racionamento, mas neste ano o governo iniciou um processo de redução dos subsídios na tarifa de energia da indústria. Até 2006, esses subsídios serão retirados, o que significará aumentos até 41,12% maiores do que os que aconteceriam normalmente para os consumidores industriais e comerciais. Produzindo sua própria energia, a indústria e o comércio reduzem os efeitos, nos custos, do fim dos subsídios.

Comércio
Setores que usam a energia como fonte principal do processo produtivo investem tradicionalmente em autogeração. São eles os setores ligados à manufatura de ferro e alumínio, indústria química e de papel e celulose.
No entanto, devido à crise, setores que não investiam na geração da própria energia passaram a fazer essa opção. É o caso do comércio. Até 1998, não havia autogeração nesse setor. Entre 1998 e 1999, o comércio gerou aproximadamente 40 GWh em energia própria. Entre 2000 e 2002, período da crise do racionamento, a autogeração saltou para 142 GWh, um aumento de 372%.
De acordo com Pio Gavazzi, diretor do Departamento de Infra-Estrutura da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), a autogeração de energia é uma boa opção quando a indústria ou o comércio têm como usar o calor gerado no processo produtivo. "É o caso dos shoppings ou hotéis, que usam o calor no sistema de ar condicionado."
As indústrias e o comércio podem virar autoprodutores de energia de duas formas: construindo uma pequena usina ou gerador de energia próximo à sua planta industrial ou local de consumo; ou participando de projetos de construção de usinas.
Nessa segunda forma, geralmente usada por grandes consumidores de energia, a indústria entra como sócia no consórcio que está construindo uma usina. Como investe dinheiro na construção da usina, depois que começa a geração de energia, passa a ter direito de receber uma parte da energia gerada pela nova usina.
A autogeração de energia geralmente é feita por meio de usinas termelétricas. Dos 29.335 GWh produzidos atualmente em autogeração, 23.074 GWh (78,56%) são de usinas termelétricas.

Perdas
Quando indústrias ou comércio optam por gerar sua própria energia, deixam de comprar de distribuidoras, o que pode agravar a crise das elétricas. Isso tem acontecido principalmente com as grandes distribuidoras da região Sudeste.
Luiz Fernando Rolla, diretor de relação com investidores da Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais), admite que parte dos consumidores da distribuidora migrou para autogeração, mas afirma que a energia que deixou de ser vendida para eles já foi direcionada para outros clientes.
Segundo ele, a principal vantagem da autogeração não é um seguro contra um eventual novo racionamento, mas as vantagens econômicas. "O consumidor recebe a energia e deixa de pagar o imposto que incidiria na compra", explica.



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