São Paulo, terça-feira, 03 de agosto de 2004

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VÔO DA ÁGUIA

Freqüência de dispensas nos três primeiros anos do governo Bush só é menor do que a verificada em 81-83

Ritmo de demissões nos EUA é o 2º maior

Scott Applewhite - 01.set.03/Associated Press
Manifestantes em Ohio protestam contra o presidente Bush e contra a falta de empregos no país


LOUIS UCHITELLE
DO "NEW YORK TIMES"

Nos primeiros três anos da administração de George W. Bush, as demissões nos EUA ocorreram no segundo ritmo mais rápido já registrado, segundo um relatório do próprio governo americano.
Na última pesquisa do governo sobre a freqüência com que os trabalhadores são demitidos permanentemente de seus empregos, o índice de demissões atingiu 8,7% de todos os trabalhadores adultos nos EUA, ou 11,4 milhões de homens e mulheres de 20 anos ou mais. O valor quase equivale à taxa de 9% do período 1981-1983, que incluiu a maior contração da economia americana desde a Grande Depressão.
A recessão e o fraco crescimento econômico caracterizaram a maior parte do período de 2001 a 2003, e milhões de empregos desapareceram.
Mas, enquanto as demissões normalmente aumentam em tempos difíceis e caem em anos prósperos, a nova pesquisa publicada na sexta-feira pelo Escritório de Estatísticas do Trabalho do Departamento de Trabalho dos EUA aumentou as evidências estatísticas de que hoje as demissões são mais freqüentes, tanto em épocas boas quanto ruins, do que foram em ciclos semelhantes uma década atrás.
Há casos ilustrativos abundantes sobre isso, mas a evidência estatística está apenas começando a contar a mesma história.
O índice de demissões dos últimos três anos, por exemplo, foi maior do que na recessão de 1990-91, revelou a pesquisa sobre deslocamento. O índice também foi maior no final do boom da década de 90 do que no final da de 80, um período semelhante de forte crescimento econômico.
"Ninguém deveria se surpreender com a crescente freqüência das demissões", disse James Glassman, economista-sênior do JP Morgan Chase. "É o eco da globalização. As companhias estão mudando o local de produção com maior freqüência para aproveitar os centros de baixo custo."
Uma porta-voz do governo Bush, Claire Buchan, solicitada a comentar, respondeu com uma declaração que se concentrou no aumento da criação de empregos nos últimos meses, e não mencionou o relatório sobre deslocamento de trabalhadores.
Enquanto o deslocamento de empregos aumentou gradativamente nos 23 anos das pesquisas, o índice de desemprego caiu.
Para alguns pesquisadores do mercado de trabalho do país - como Farber e Jared Bernstein do Instituto de Políticas Econômicas, por exemplo -, isso torna ainda mais notável o índice crescente de demissões. "Se você comparar o índice de deslocamento com o de desemprego, é uma escada ascendente", disse Bernstein.
"Há maior probabilidade de alguém ser demitido hoje do que em níveis de desemprego semelhantes no passado."
A queda do índice de desemprego também sugere que a maioria dos que perdem o emprego é recontratada relativamente depressa, e as pesquisas confirmam.
O pagamento é outro assunto. Na última pesquisa, 56,9% dos que disseram que foram recontratados também disseram estar ganhando menos em seus novos empregos do que nos que haviam perdido. Isso comparado com 46,6% de 1991 até 1993, um período semelhante de recessão seguido por uma recuperação fraca, e 42,2% de 1997 até 1999.
A pesquisa de deslocamento de trabalhadores foi realizada em janeiro ou fevereiro de cada ano par desde 1984. Membros de 60 mil famílias são questionados se perderam o emprego em algum momento nos três anos precedentes devido ao fechamento de uma fábrica ou empresa, se o trabalho era insuficiente ou o cargo que ocupavam foi extinto. Um "sim" significava que o emprego havia desaparecido permanentemente, sem perspectiva de retorno.
O presidente Ronald Reagan (1981-1989) instituiu a pesquisa em resposta a queixas do Congresso sobre o aumento das demissões. As pesquisas se concentraram inicialmente em trabalhadores que foram demitidos depois de manter um emprego por pelo menos três anos.
Esses trabalhadores de "longa permanência" ainda recebem grande atenção nos relatórios bianuais; 5,3 milhões deles foram deslocados no período 2001-2003, ou 6,3% de todos os trabalhadores de 20 anos ou mais com pelo menos três anos no emprego.
Esse índice foi o mais alto entre trabalhadores de longa permanência, ligeiramente acima dos 6,2% do período 1981-1983.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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