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Saída de estrangeiros da Bolsa é recorde
Turbulência no setor imobiliário dos EUA faz investidores venderem ações e também papéis da dívida externa do país
Estrangeiros são o segmento que mais
negocia ações na Bovespa; analistas vêem movimento de fuga como temporário
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A saída recorde de estrangeiros do pregão da Bovespa em
julho foi a principal causa da
queda no mercado acionário no
mês passado. O saldo de compra e venda de ações por estrangeiros ficou negativo em
R$ 3,248 bilhões nos pregões
de julho da Bolsa. Foi o mês que
registrou o pior saldo no fluxo
de investimentos estrangeiros
desde o Plano Real (1994).
A Bovespa, que caiu 0,39%
em julho, não fechava um mês
no vermelho desde fevereiro.
A causa da fuga de estrangeiros foi a turbulência global desencadeada pelo mercado de
crédito habitacional nos EUA
que assustou os investidores.
Eles preferiram vender ações
em todos os mercados e comprar títulos mais seguros, como
os do Tesouro americano.
"As dúvidas com o futuro das
hipotecas nos EUA assustaram
e afugentaram os investidores
dos emergentes, como o Brasil.
Mas essa não é uma tendência
que deve se manter, é apenas
um período de maior instabilidade. Os investidores estrangeiros seguem atentos e interessados nos papéis brasileiros", avalia Fausto Gouveia,
analista da Alpes Corretora.
Há cerca de três anos os estrangeiros são o segmento de
investidores que mais negocia
ações na Bovespa. Por isso geralmente determinam o rumo
do mercado acionário brasileiro.
Neste ano, a participação dos
estrangeiros representa 34,6%
das operações. A segunda categoria com maior peso é a dos investidores institucionais (basicamente fundos de pensão),
com 28,6% dos negócios. O investidor pessoa física, fatia
crescente na Bovespa, responde por 23% das operações.
Em julho, as operações dos
investidores institucionais registraram saldo positivo de R$
3,36 bilhões. E as de pessoa física, negativa em R$ 161,4 milhões.
"Em julho houve uma saída
mais forte de estrangeiros devido ao aumento da aversão ao
risco, originada nos temores de
outros setores da economia
americana serem afetados com
a crise [de crédito hipotecário]", afirmou Marco Franklin,
sócio da Paraty Investimentos.
"Mas entendo que esse cenário
seja momentâneo", disse.
Mais do que no mercado à
vista, a participação dos estrangeiros nos IPOs (oferta pública
inicial de ações, na sigla em inglês) tem sido bastante expressiva. Em 2007, com 46 IPOs
realizados até agora, o capital
externo absorveu 67% do volume ofertado.
Para analistas, se a turbulência aprofundar a crise nos mercados, algumas empresas devem suspender planos de abertura de capital. Há quem veja
nessa revisão de planos um
"ajuste" necessário num mercado exuberante que surfava
no excesso de liquidez global.
Títulos
A saída de estrangeiros de papéis brasileiros não se restringiu ao mercado acionário. Isso
é o que mostra a escalada do
risco-país, especialmente nas
duas últimas semanas de julho.
O risco-país é medido pelo
banco americano JP Morgan a
partir de uma cesta de títulos
da dívida externa. Quando os
investidores internacionais
procuram com maior apetite
esses papéis da dívida externa,
o risco-país recua. O inverso
ocorre quando os títulos são
vendidos de forma mais expressiva.
O risco subiu quase 30% no
mês passado, fruto da venda
pesada de títulos da dívida brasileira. No dia 26, o risco alcançou os 222 pontos, maior patamar do ano. No começo de julho, estava em 157 pontos.
Quanto mais elevado os pontos registrados no risco, maiores as dificuldades e os custos
para os setores público e privado captarem recursos no mercado internacional. Com a tensão diminuindo nos últimos
dias, o risco-país brasileiro
caiu. No fim das operações de
ontem marcava 201 pontos.
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