São Paulo, sexta-feira, 03 de agosto de 2007

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Saída de estrangeiros da Bolsa é recorde

Turbulência no setor imobiliário dos EUA faz investidores venderem ações e também papéis da dívida externa do país

Estrangeiros são o segmento que mais negocia ações na Bovespa; analistas vêem movimento de fuga como temporário

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A saída recorde de estrangeiros do pregão da Bovespa em julho foi a principal causa da queda no mercado acionário no mês passado. O saldo de compra e venda de ações por estrangeiros ficou negativo em R$ 3,248 bilhões nos pregões de julho da Bolsa. Foi o mês que registrou o pior saldo no fluxo de investimentos estrangeiros desde o Plano Real (1994).
A Bovespa, que caiu 0,39% em julho, não fechava um mês no vermelho desde fevereiro.
A causa da fuga de estrangeiros foi a turbulência global desencadeada pelo mercado de crédito habitacional nos EUA que assustou os investidores. Eles preferiram vender ações em todos os mercados e comprar títulos mais seguros, como os do Tesouro americano.
"As dúvidas com o futuro das hipotecas nos EUA assustaram e afugentaram os investidores dos emergentes, como o Brasil. Mas essa não é uma tendência que deve se manter, é apenas um período de maior instabilidade. Os investidores estrangeiros seguem atentos e interessados nos papéis brasileiros", avalia Fausto Gouveia, analista da Alpes Corretora.
Há cerca de três anos os estrangeiros são o segmento de investidores que mais negocia ações na Bovespa. Por isso geralmente determinam o rumo do mercado acionário brasileiro.
Neste ano, a participação dos estrangeiros representa 34,6% das operações. A segunda categoria com maior peso é a dos investidores institucionais (basicamente fundos de pensão), com 28,6% dos negócios. O investidor pessoa física, fatia crescente na Bovespa, responde por 23% das operações.
Em julho, as operações dos investidores institucionais registraram saldo positivo de R$ 3,36 bilhões. E as de pessoa física, negativa em R$ 161,4 milhões.
"Em julho houve uma saída mais forte de estrangeiros devido ao aumento da aversão ao risco, originada nos temores de outros setores da economia americana serem afetados com a crise [de crédito hipotecário]", afirmou Marco Franklin, sócio da Paraty Investimentos. "Mas entendo que esse cenário seja momentâneo", disse.
Mais do que no mercado à vista, a participação dos estrangeiros nos IPOs (oferta pública inicial de ações, na sigla em inglês) tem sido bastante expressiva. Em 2007, com 46 IPOs realizados até agora, o capital externo absorveu 67% do volume ofertado.
Para analistas, se a turbulência aprofundar a crise nos mercados, algumas empresas devem suspender planos de abertura de capital. Há quem veja nessa revisão de planos um "ajuste" necessário num mercado exuberante que surfava no excesso de liquidez global.

Títulos
A saída de estrangeiros de papéis brasileiros não se restringiu ao mercado acionário. Isso é o que mostra a escalada do risco-país, especialmente nas duas últimas semanas de julho.
O risco-país é medido pelo banco americano JP Morgan a partir de uma cesta de títulos da dívida externa. Quando os investidores internacionais procuram com maior apetite esses papéis da dívida externa, o risco-país recua. O inverso ocorre quando os títulos são vendidos de forma mais expressiva.
O risco subiu quase 30% no mês passado, fruto da venda pesada de títulos da dívida brasileira. No dia 26, o risco alcançou os 222 pontos, maior patamar do ano. No começo de julho, estava em 157 pontos.
Quanto mais elevado os pontos registrados no risco, maiores as dificuldades e os custos para os setores público e privado captarem recursos no mercado internacional. Com a tensão diminuindo nos últimos dias, o risco-país brasileiro caiu. No fim das operações de ontem marcava 201 pontos.


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