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Baixo investimento trava expansão do PIB
Avanço tímido da economia no segundo trimestre expõe fragilidade do país em ano de conjunção de fatores favoráveis
Desaceleração ocorre em momento de expansão mundial e alta do salário
mínimo; para empresários, carga tributária é empecilho
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Entidades empresariais e
executivos de empresas afirmam que os três anos e meio do
governo Lula não conseguiram
colocar o Brasil na rota do crescimento sustentável.
O aumento de 0,5% do PIB
(Produto Interno Bruto) no segundo trimestre do ano, anunciado na semana passada, seria
uma prova contundente disso.
Especialmente porque 2006
carrega um conjunto de fatores
extremamente favoráveis.
Para empresários e economistas ouvidos pela Folha, o
nível de investimento público e
privado no país, estagnado em
torno de 20% do PIB há anos, é
o indicador fundamental que
mostra que o Brasil continua
andando "de lado".
Eles afirmam que será extremamente difícil para o atual
governo, se reeleito, cumprir a
nova promessa de campanha
de aumentar a taxa de investimentos para 25% do PIB.
Para isso, seriam necessárias
várias reformas, com a tributária à frente, e uma diminuição
radical nas despesas estatais.
Na prática, foram os investimentos públicos e privados que
determinaram a evolução
maior ou menor do PIB nos últimos 15 anos.
Sem um aumento nesse percentual, seria muito difícil para
o Brasil crescer acima de 3,5%
ao ano e sem os recentes ciclos
de altos e baixos, afirmam.
O resultado fraco da evolução do PIB, que apontou retração no ritmo de crescimento
(no primeiro trimestre, o país
cresceu 1,3%), segundo os empresários, expôs a precariedade
do modelo econômico atual.
Investimentos em queda
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), os investimentos
no segundo trimestre de 2006
caíram 2,2%, o maior tombo
em mais de um ano.
Balanços de mais de 300 empresas abertas analisados a pedido da Folha explicitam essa
queda nos investimentos totais
ao longo do primeiro semestre.
Além disso, houve também redução na rentabilidade geral.
A desaceleração do PIB e dos
investimentos ocorre no momento em que o Brasil tem vários "ventos a favor", o que revelaria uma certa "artificialidade" na fraca expansão atual.
Entre eles, destacam-se:
1) o ano é eleitoral, com mais
gastos públicos;
2) o reajuste do salário mínimo em 2006 foi o maior no
atual governo, de 13,4%, com
forte impacto sobre rendimentos de aposentados e pensionistas da Previdência;
3) o Bolsa-Família chegou ao
teto, com R$ 8,5 bilhões e 11,5
milhões de famílias atendidas;
4) a inflação prevista está
abaixo da meta de 4,5%;
5) a criação de empregos formais atingiu 4,5 milhões durante o governo Lula, 90% deles, porém, pagando só até
R$ 700 ao mês; e
6) o cenário econômico internacional atual é o melhor
dos últimos 30 anos.
Para os empresários e economistas, é certo que não haverá
uma conjunção de fatores tão
favorável como a atual em
2007 e adiante, tanto do lado
dos gastos do governo, que tendem a ser contidos após as eleições, quanto no cenário externo. Os EUA, por exemplo, devem passar a crescer menos.
Até mesmo a expectativa de
queda maior na taxa de juro básica (hoje em 14,25% ao ano)
não seria suficiente para acelerar os investimentos na proporção necessária para fazer o
país crescer mais rapidamente.
Há 15 dias, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, apelou
para o "espírito animal" dos
empresários por um aumento
nos investimentos.
Mas, na opinião do setor produtivo, a carga tributária elevada, atingindo 39% do PIB, é o
principal entrave hoje para o
investimento e a produção e a
ponta de um iceberg de problemas gerados pelo atual peso do
Estado na economia.
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