São Paulo, domingo, 03 de setembro de 2006

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Baixo investimento trava expansão do PIB

Avanço tímido da economia no segundo trimestre expõe fragilidade do país em ano de conjunção de fatores favoráveis

Desaceleração ocorre em momento de expansão mundial e alta do salário mínimo; para empresários, carga tributária é empecilho

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Entidades empresariais e executivos de empresas afirmam que os três anos e meio do governo Lula não conseguiram colocar o Brasil na rota do crescimento sustentável.
O aumento de 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto) no segundo trimestre do ano, anunciado na semana passada, seria uma prova contundente disso. Especialmente porque 2006 carrega um conjunto de fatores extremamente favoráveis.
Para empresários e economistas ouvidos pela Folha, o nível de investimento público e privado no país, estagnado em torno de 20% do PIB há anos, é o indicador fundamental que mostra que o Brasil continua andando "de lado".
Eles afirmam que será extremamente difícil para o atual governo, se reeleito, cumprir a nova promessa de campanha de aumentar a taxa de investimentos para 25% do PIB.
Para isso, seriam necessárias várias reformas, com a tributária à frente, e uma diminuição radical nas despesas estatais.
Na prática, foram os investimentos públicos e privados que determinaram a evolução maior ou menor do PIB nos últimos 15 anos.
Sem um aumento nesse percentual, seria muito difícil para o Brasil crescer acima de 3,5% ao ano e sem os recentes ciclos de altos e baixos, afirmam.
O resultado fraco da evolução do PIB, que apontou retração no ritmo de crescimento (no primeiro trimestre, o país cresceu 1,3%), segundo os empresários, expôs a precariedade do modelo econômico atual.

Investimentos em queda
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), os investimentos no segundo trimestre de 2006 caíram 2,2%, o maior tombo em mais de um ano.
Balanços de mais de 300 empresas abertas analisados a pedido da Folha explicitam essa queda nos investimentos totais ao longo do primeiro semestre. Além disso, houve também redução na rentabilidade geral.
A desaceleração do PIB e dos investimentos ocorre no momento em que o Brasil tem vários "ventos a favor", o que revelaria uma certa "artificialidade" na fraca expansão atual. Entre eles, destacam-se:
1) o ano é eleitoral, com mais gastos públicos;
2) o reajuste do salário mínimo em 2006 foi o maior no atual governo, de 13,4%, com forte impacto sobre rendimentos de aposentados e pensionistas da Previdência;
3) o Bolsa-Família chegou ao teto, com R$ 8,5 bilhões e 11,5 milhões de famílias atendidas;
4) a inflação prevista está abaixo da meta de 4,5%;
5) a criação de empregos formais atingiu 4,5 milhões durante o governo Lula, 90% deles, porém, pagando só até R$ 700 ao mês; e
6) o cenário econômico internacional atual é o melhor dos últimos 30 anos.
Para os empresários e economistas, é certo que não haverá uma conjunção de fatores tão favorável como a atual em 2007 e adiante, tanto do lado dos gastos do governo, que tendem a ser contidos após as eleições, quanto no cenário externo. Os EUA, por exemplo, devem passar a crescer menos.
Até mesmo a expectativa de queda maior na taxa de juro básica (hoje em 14,25% ao ano) não seria suficiente para acelerar os investimentos na proporção necessária para fazer o país crescer mais rapidamente.
Há 15 dias, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, apelou para o "espírito animal" dos empresários por um aumento nos investimentos.
Mas, na opinião do setor produtivo, a carga tributária elevada, atingindo 39% do PIB, é o principal entrave hoje para o investimento e a produção e a ponta de um iceberg de problemas gerados pelo atual peso do Estado na economia.


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