São Paulo, domingo, 03 de setembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasil fica na lanterna entre emergentes

Em indicadores como taxas de crescimento econômico, juros e exportações, país ocupa o final de lista de 25 economias

Sob Lula, progresso superior ao de outros países só é verificado no controle da inflação, objetivo mais associado aos tucanos

GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A despeito da melhora de resultados no governo Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil continua ocupando as piores colocações entre os países emergentes quando se comparam taxas de crescimento econômico, juros e exportações.
Levantamento feito pela Folha aponta que, entre as 25 principais economias emergentes, o Brasil de Lula só apresenta progresso superior ao dos concorrentes em um indicador que pouco aparece na propaganda oficial e costuma ser mais associado aos rivais tucanos -o controle da inflação.
Esse grupo de países foi beneficiado, nos últimos anos, por uma maré excepcionalmente favorável da economia internacional, impulsionada por juros baixos no mundo desenvolvido e alta dos preços dos produtos primários.
Uns se beneficiaram mais que os outros. A Argentina, por exemplo, que viu sua economia encolher 18% no período 1999-2002, caminha para encerrar o quadriênio seguinte com o segundo maior crescimento do mundo, atrás apenas da China.
Já o Brasil, mesmo que cresça neste ano à taxa de 4% prometida por Lula, não escapará, pelas previsões do FMI (Fundo Monetário Internacional), de terminar o período como o último colocado no ranking -depois de ocupar, na média do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, o 20º lugar.
É verdade que, na administração petista, o país elevou sua taxa de crescimento. Mas o mesmo aconteceu em 21 dos países pesquisados. As exceções, Coréia do Sul, Egito e Hungria, crescem a um ritmo superior a 4% ao ano, enquanto o PIB brasileiro fica nos 2,8%.

Exportações
A comparação também ajuda a pôr no devido lugar outro feito auto-atribuído do governo Lula: as exportações, que "cresceram 100%, um índice muito acima da média mundial".
Os exageros, no caso, são perdoáveis. De 2002 a 2005, as exportações do país cresceram 96%, para um aumento de 79,5% do conjunto dos principais emergentes.
Mais esclarecedor é observar o ranking dos exportadores a partir do volume de vendas como proporção da economia. No final do governo FHC, o Brasil ocupava o antepenúltimo lugar, superando Índia e Egito; hoje, com US$ 60 bilhões de vendas anuais a mais, o país está no mesmo posto.
Em comparação, a China subiu cinco posições e passou à condição de 13º maior exportador (em valores absolutos, é o maior); a Venezuela subiu quatro e chegou ao 8º lugar; o Chile passou da 14º à 11º colocação.
Os dados mostram que o país segue como uma das economias mais fechadas do mundo, com exportações abaixo de seu potencial. E a base reduzida ajuda a explicar as recentes taxas elevadas de crescimento.

Inflação e juros
A política econômica lulista fez diferença, porém, no controle da inflação -sua prioridade de fato. Em 2002, a campeã da inflação foi a Argentina, onde os consumidores arcaram com uma alta de preços de 41%.
Neste ano, a maior taxa acumulada em 12 meses são os 15% na Indonésia. No período, o Brasil reduziu a taxa de 12,5% para os menos de 4% esperados neste ano. No ranking, passou da 6ª maior taxa para a 13ª.
No período, o governo Lula restabeleceu a credibilidade do regime de metas de inflação, adotado em 1999 e posto em xeque por descumprimentos da meta em 2001, 2002 e 2003.
O preço desse sucesso pode ser encontrado na lista das maiores taxas de juros reais (descontada a inflação) entre os países pesquisados, na qual, apesar da recente queda da taxa nominal, o país passou da terceira à segunda pior colocação do ranking.
Os cinco países com maiores juros eram os mesmos no final de 2002 e na semana passada: Brasil, Turquia, Indonésia, Rússia e Venezuela. Desses, o Brasil é o único que não está entre as cinco maiores inflações.

Na mesma
O balanço do governo Lula aponta que a aceleração discreta do crescimento, a alta das exportações e a queda da inflação e dos juros nominais foram insuficientes para tirar o papel de patinho feio do país.
Num ranking hipotético em que todas as variáveis tivessem o mesmo peso, o país registraria um penúltimo lugar em 2002 e um último agora.
O Brasil tem a maior carga tributária das 25 economias, ainda que os critérios variem de país a país. A renda per capita era a 14ª maior em 2002 e em 2005. Na concentração de renda, só Colômbia e Chile têm índices tão altos.
Boa parte dos principais emergentes protagonizou crises na década de 90 e precisou de pacotes de socorro do FMI. Nessa lista, ao lado do Brasil, estão Argentina, Coréia do Sul, Malásia, Tailândia, Indonésia, Turquia, Rússia e México.
Dos nove, apenas Coréia, Malásia e Tailândia combinam hoje boas taxas de crescimento econômico e inflação baixa. Argentina, Indonésia, Turquia e Rússia apresentam taxas elevadas de crescimento e inflação. O México segue, com mais sucesso, o modelo brasileiro.


Texto Anterior: Governo vira "sócio majoritário" nas empresas ao levar 40% em tributos
Próximo Texto: Mínimo terá aumento real, diz ministro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.