|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Brasil fica na lanterna entre emergentes
Em indicadores como taxas de crescimento econômico, juros e exportações, país ocupa o final de lista de 25 economias
Sob Lula, progresso superior ao de outros países só é verificado no controle da inflação, objetivo mais associado aos tucanos
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A despeito da melhora de resultados no governo Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil continua ocupando as piores colocações entre os países emergentes quando se comparam taxas
de crescimento econômico, juros e exportações.
Levantamento feito pela Folha aponta que, entre as 25
principais economias emergentes, o Brasil de Lula só apresenta progresso superior ao dos
concorrentes em um indicador
que pouco aparece na propaganda oficial e costuma ser
mais associado aos rivais tucanos -o controle da inflação.
Esse grupo de países foi beneficiado, nos últimos anos,
por uma maré excepcionalmente favorável da economia
internacional, impulsionada
por juros baixos no mundo desenvolvido e alta dos preços dos
produtos primários.
Uns se beneficiaram mais
que os outros. A Argentina, por
exemplo, que viu sua economia
encolher 18% no período 1999-2002, caminha para encerrar o
quadriênio seguinte com o segundo maior crescimento do
mundo, atrás apenas da China.
Já o Brasil, mesmo que cresça neste ano à taxa de 4% prometida por Lula, não escapará,
pelas previsões do FMI (Fundo
Monetário Internacional), de
terminar o período como o último colocado no ranking -depois de ocupar, na média do segundo mandato de Fernando
Henrique Cardoso, o 20º lugar.
É verdade que, na administração petista, o país elevou sua
taxa de crescimento. Mas o
mesmo aconteceu em 21 dos
países pesquisados. As exceções, Coréia do Sul, Egito e
Hungria, crescem a um ritmo
superior a 4% ao ano, enquanto
o PIB brasileiro fica nos 2,8%.
Exportações
A comparação também ajuda
a pôr no devido lugar outro feito auto-atribuído do governo
Lula: as exportações, que "cresceram 100%, um índice muito
acima da média mundial".
Os exageros, no caso, são perdoáveis. De 2002 a 2005, as exportações do país cresceram
96%, para um aumento de
79,5% do conjunto dos principais emergentes.
Mais esclarecedor é observar
o ranking dos exportadores a
partir do volume de vendas como proporção da economia. No
final do governo FHC, o Brasil
ocupava o antepenúltimo lugar, superando Índia e Egito;
hoje, com US$ 60 bilhões de
vendas anuais a mais, o país está no mesmo posto.
Em comparação, a China subiu cinco posições e passou à
condição de 13º maior exportador (em valores absolutos, é o
maior); a Venezuela subiu quatro e chegou ao 8º lugar; o Chile
passou da 14º à 11º colocação.
Os dados mostram que o país
segue como uma das economias mais fechadas do mundo,
com exportações abaixo de seu
potencial. E a base reduzida
ajuda a explicar as recentes taxas elevadas de crescimento.
Inflação e juros
A política econômica lulista
fez diferença, porém, no controle da inflação -sua prioridade de fato. Em 2002, a campeã
da inflação foi a Argentina, onde os consumidores arcaram
com uma alta de preços de 41%.
Neste ano, a maior taxa acumulada em 12 meses são os 15%
na Indonésia. No período, o
Brasil reduziu a taxa de 12,5%
para os menos de 4% esperados
neste ano. No ranking, passou
da 6ª maior taxa para a 13ª.
No período, o governo Lula
restabeleceu a credibilidade do
regime de metas de inflação,
adotado em 1999 e posto em xeque por descumprimentos da
meta em 2001, 2002 e 2003.
O preço desse sucesso pode
ser encontrado na lista das
maiores taxas de juros reais
(descontada a inflação) entre
os países pesquisados, na qual,
apesar da recente queda da taxa
nominal, o país passou da terceira à segunda pior colocação
do ranking.
Os cinco países com maiores
juros eram os mesmos no final
de 2002 e na semana passada:
Brasil, Turquia, Indonésia,
Rússia e Venezuela. Desses, o
Brasil é o único que não está entre as cinco maiores inflações.
Na mesma
O balanço do governo Lula
aponta que a aceleração discreta do crescimento, a alta das exportações e a queda da inflação
e dos juros nominais foram insuficientes para tirar o papel de
patinho feio do país.
Num ranking hipotético em
que todas as variáveis tivessem
o mesmo peso, o país registraria um penúltimo lugar em
2002 e um último agora.
O Brasil tem a maior carga
tributária das 25 economias,
ainda que os critérios variem de
país a país. A renda per capita
era a 14ª maior em 2002 e em
2005. Na concentração de renda, só Colômbia e Chile têm índices tão altos.
Boa parte dos principais
emergentes protagonizou crises na década de 90 e precisou
de pacotes de socorro do FMI.
Nessa lista, ao lado do Brasil,
estão Argentina, Coréia do Sul,
Malásia, Tailândia, Indonésia,
Turquia, Rússia e México.
Dos nove, apenas Coréia,
Malásia e Tailândia combinam
hoje boas taxas de crescimento
econômico e inflação baixa. Argentina, Indonésia, Turquia e
Rússia apresentam taxas elevadas de crescimento e inflação.
O México segue, com mais sucesso, o modelo brasileiro.
Texto Anterior: Governo vira "sócio majoritário" nas empresas ao levar 40% em tributos Próximo Texto: Mínimo terá aumento real, diz ministro Índice
|