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Volks enfrenta sua maior crise no país
Custo trabalhista, câmbio e aposta em modelos errados são apontados por analistas como os principais problemas da montadora
Segundo especialistas,
empresa também demorou a
reestruturar sua rede de
concessionárias; Volks diz
que produtividade cresceu
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Altos custos trabalhistas, impacto de um câmbio desfavorável para exportações em uma
empresa que vende 42% da
produção para fora, matéria-prima cara, apostas que não se
confirmaram em alguns modelos e demora em reestruturar
sua rede de concessionárias.
Esses são alguns dos principais fatores, de acordo com
consultores especializados ouvidos pela Folha, que levaram a
Volkswagen à atual situação no
país. A montadora, que anunciou que pode demitir entre
4.000 e 6.000 trabalhadores
até 2008, é citada como uma
das empresas do setor em pior
situação financeira.
A própria diretora para Assuntos Governamentais da
Volks, Elizabeth de Carvalhaes,
chegou a afirmar, em julho, durante audiência na Comissão
de Desenvolvimento, Indústria
e Comércio da Câmara dos Deputados, que a situação financeira da montadora é "absolutamente constrangedora".
Para especialistas, a empresa
pegou mais tarde o bonde das
exportações e, quando o fez,
entrou com volumes muito
maiores e foi pega logo depois
na contramão do câmbio.
"Nesse momento, quem depende mais de exportação vai
estar em uma situação complicada sempre", afirmou José
Caporal Filho, diretor da consultoria Megadealer.
De acordo com a empresa, as
suas exportações atualmente
possuem rentabilidade próxima de zero. Ao impacto do
câmbio desfavorável deve ser
somada a forte alta no preço de
matérias-primas nos últimos
anos, como o aço.
O contrato assinado pela
montadora com o sindicato em
2001, que deu estabilidade aos
seus trabalhadores da unidade
Anchieta, em São Bernardo, até
novembro deste ano, também é
apontado como um dos motivadores da crise. A diferença
entre o que ganha o trabalhador dessa unidade e o operário
de fora do ABC é de 128%.
A produção da unidade, que
possui um custo elevado e cujo
processo de fabricação é considerado obsoleto e ineficiente, é
significativo na empresa: ela
produziu, no ano passado,
192.693 veículos na unidade.
Na fábrica do Taubaté, por
exemplo, foram 205.100.
"O problema da Volkswagen
se chama unidade São Bernardo", disse o consultor André
Beer. "Os custos lá são mais
elevados, e a montadora fez
uma ação estrategicamente errada que foi assinar o contrato
de manutenção de emprego
por cinco anos", completou.
Concessionárias
Mas alguns especialistas afirmam que os problemas da
Volks vão além da sua dependência das exportações em um
momento de câmbio desfavorável e da falta de competitividade da unidade Anchieta. A
demora da montadora em reestruturar sua rede de concessionárias -a concentração de revendas nas mãos de grupos de
empresários melhora a profissionalização do negócio e permite maior controle sobre a
marca- também é apontada
como um dos fatores da crise.
Todas as montadoras realizaram esse processo de reestruturação, mas a avaliação é que a
Volkswagen demorou mais em
fazê-lo e o realizou com menos
intensidade. A montadora afirma, entretanto, citando dados
da Assobrav (associação das revendas da Volkswagen), que a
sua rede foi reestruturada e
que, de 1,4 ponto-de-venda por
grupo, a média passou a ser de
1,7 ponto-de-venda.
Outra crítica feita à empresa
é que, diferentemente de outras grandes montadoras do
país, como a GM e a Ford, ela
não reestruturou suas operações e investiu em modelos cujas vendas ficaram aquém do
esperado, como o Polo e o Golf.
Para consultores, a montadora tem um custo maior, uma estrutura mais complexa para gerenciar (são cinco unidades no
país) e uma gama menor de
modelos de veículos na comparação com outras empresas.
A montadora se defende afirmando que fez a lição de casa:
seus custos fixos caíram 30%,
em 2003, para 17%, e sua produtividade melhorou 52%. A
Volkswagen diz ainda que, de
13 veículos em seu portfólio em
2003, passou para 16 hoje.
Cenário incerto
Apesar do sofrimento com o
câmbio e das demissões, a avaliação entre os consultores é
que este será um bom ano para
as montadoras no país, com o
mercado interno impulsionado
pelo crédito. Segundo Beer, a
perspectiva é uma alta da produção de 8% a 9%.
"O setor está bem, os juros
em queda ajudam as vendas, a
gasolina mais barata também",
afirma Richard Dubois, diretor-associado da consultoria
AT Kearney. Para o ano que
vem, entretanto, o cenário começa a se tornar um pouco
mais incerto. "Se a economia
esfriar em 2007, a indústria pode perder o seu bom momento
e não terá o mercado externo
para se sustentar", alerta.
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