São Paulo, domingo, 03 de setembro de 2006

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Casas Bahia reduz investimento e corta vagas

DA REPORTAGEM LOCAL

A Casas Bahia enfrenta uma de suas maiores crises dos últimos dez anos, admite a empresa. A rede varejista reduziu investimentos, vai abrir menos lojas em 2006, demitiu pessoal -afirma que novos cortes não estão descartados- e registra aumento na inadimplência, atualmente em 10%.
Maior rede de eletrodomésticos e móveis do país, a companhia verificou queda de 3% na receita de vendas (valor real) de janeiro a junho em relação a igual período de 2005.
A expansão de 9,2% no volume de itens vendidos não compensou a perda no faturamento. A queda ocorre porque o brasileiro está gastando menos, resume Michael Klein, diretor-superintendente da cadeia, em entrevista à Folha. "A população não está comprando, tem muito mais gente com medo de perder o emprego", diz ele.
A explicação para o tropeço da cadeia está na dificuldade de recuperação no rendimento no Sul e no Sudeste do país -onde estão as lojas da rede varejista.
A crise da agricultura e da pecuária nos Estados do Sul afetou o bolso do consumidor. Em novembro, a rede fará forte ação nacional com a intenção de chamar os consumidores com dívidas em aberto para renegociar o pagamento em atraso- aproveitando o 13º salário.
"Nas lojas no Sul, o faturamento caiu até 50%. Tivemos que fechar lojas. Mas não é só isso. Há fatores mais globais que afetaram os resultados. Por exemplo, tivemos os jogos da Copa do Mundo. Se por um lado isso elevou as vendas de TVs, por outro tirou o povo das lojas", conta Klein.
Segundo a planilha de vendas da rede, de janeiro a junho a cadeia vendeu 19% menos mercadorias na categoria refrigeração (que inclui refrigeradores e freezers). Para a linha "quente" (microondas e fogão), a queda foi de 6%. Em telefones celulares, a venda caiu de 2 milhões de aparelhos para 1,5 milhão em igual período.
A linha de eletrônicos foi menos afetada: a Casas Bahia vendeu 1,1 milhão de TVs de janeiro a junho, contra 1 milhão em 2005. Um dos principais efeitos nas contas foi a inadimplência: quanto maior o calote, menor o lucro.
"A inadimplência subiu um ponto de um ano para cá e está nos 10%", diz Klein. Não é uma taxa desprezível: estava em pouco mais de 9% no final de dezembro e, desde aquela época, a empresa fala em buscar uma redução para cerca de 8%.
"Hoje, pedimos que os clientes novos dêem uma entrada na hora da compra, por exemplo. Isso faz com que ele se comprometa mais com aquela dívida. Mas não mudamos o critério de aprovação das compras", afirma o diretor.
"O banco não aprova a compra do consumidor que está no SCPC, mas nós não verificamos isso. Olhamos o nosso cadastro de clientes e, se ele está adimplente, liberamos o negócio."

Agressividade
Na avaliação de especialistas, a empresa foi "agressiva demais nas suas ações de concessão de crédito", como diz Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo. "Agora, ela vai ter de parar a máquina e rever a estratégia."
Para 2006, a rede pretende abrir cerca de 60 novos pontos -foram 30 até junho. A cadeia falava em cem lojas novas no ano. Seriam investidos até R$ 120 milhões. Agora, a cadeia fala em cerca R$ 70 milhões. Também já demitiu neste ano 2.000 pessoas e tem agora 54 mil empregados.
A rede planeja faturar R$ 11,5 bilhões (contando inaugurações e antigas lojas) em vendas reais em 2006 -o mesmo volume do ano passado. Isso, diz o grupo de lojas, se o ritmo de vendas no segundo semestre mostrar alguma reação.
Alguns investimentos da cadeia foram engavetados: a companhia deixou para 2007 a construção de um novo depósito em Sapucaia do Sul (RS).
"Se a venda não melhorar em 2007, então isso fica para 2008", diz Klein, em entrevista no escritório central da empresa, em São Caetano do Sul (SP).
Foram fechadas lojas em várias cidades pequenas no Sul do país e outras foram transferidas para diferentes cidades.
"Devo remanejar umas dez lojas no ano. O ponto fecha numa cidade e vai para outra. Em alguns casos, em cidades onde tínhamos duas lojas, fechamos uma." (AM)


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