São Paulo, quarta-feira, 03 de setembro de 2008

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Lula exalta governo para "inaugurar" pré-sal

Presidente afirma em plataforma no ES que país vive melhor momento e que Petrobras terá que dar contribuição ao país

Petista evita falar sobre novo marco regulatório para explorar região e leva platéia às gargalhadas em seu discurso de 40 minutos

Rafael Andrade/Folha Imagem
O presidente Lula mostra recipiente com petróleo extraído do pré-sal do litoral do Espírito Santo

ROBERTO MACHADO
SERGIO TORRES
ENVIADOS ESPECIAIS A VITÓRIA (ES)

Cobrindo de elogios a Petrobras e seu próprio governo, mas sem nenhuma referência à possibilidade de criar um novo marco regulatório para o setor, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugurou ontem, numa plataforma a 112 km da costa, a produção do primeiro poço a extrair petróleo da camada pré-sal -o poço 1-ESS-103, no campo de Jubarte, na parte da bacia de Campos que fica no litoral do Espírito Santo.
Repetindo o gesto que fez quando o país atingiu a auto-suficiência, Lula molhou as mãos no óleo e as esfregou no macacão laranja da Petrobras.
O pré-sal é uma faixa que se estende do litoral de Santa Catarina ao do Espírito Santo e que, segundo estudos preliminares, pode conter reservas expressivas de petróleo. Só no campo de Tupi, são estimados 8 bilhões de barris. A produção iniciada ontem é experimental, em condições muito menos difíceis das que serão enfrentadas na bacia de Santos.
Em Vitória, Lula fez um discurso de 40 minutos no qual disse três vezes que era um homem de sorte. "Eu tenho tanta sorte que acho que Deus passou por aqui e resolveu ficar. Porque a sorte aumenta a cada dia." Repetiu que as riquezas do pré-sal serão usadas no combate à pobreza e no financiamento à educação, embora elas só devam se concretizar por volta de 2014. E que a nova fronteira do petróleo vai desenvolver a indústria do país -mas que, para isso, a direção da Petrobras terá que contribuir.
Lula usou o exemplo das sondas de perfuração, que custam até US$ 700 milhões e são produzidas no exterior: "Ou nós tomamos a decisão de fazê-las aqui, gerando tecnologia, emprego, renda e desenvolvimento, ou a Petrobras vai economizar US$ 100 milhões e comprar todas em Cingapura".
Sobre o fato de que a Petrobras possui milhares de acionistas minoritários -incluindo trabalhadores que compraram ações da estatal-, que seriam prejudicados por decisões como essa, Lula foi irônico: "Pensando do ponto de vista de empresa, é isso o que ela deveria fazer [economizar US$ 100 milhões]. Afinal de contas, ela tem ações na Bolsa de Nova York".
Por diversas vezes, o presidente, bem-humorado, levou a platéia de cerca de 400 pessoas (a maioria, da estatal) às gargalhadas. A primeira, num comentário sobre os 7.000 metros de profundidade do pré-sal: "Estamos indo tão fundo para procurar petróleo que qualquer dia a Petrobras traz um japonesinho em sua broca e aí vai dar um problema internacional sem precedentes".
Depois, ao dizer que a primeira vez que ouviu a palavra pré-sal foi quando o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, e o diretor Guilherme Estrella foram comunicá-lo sobre a descoberta de Tupi: "Até então, o sal que eu conhecia a gente colocava no churrasco ou na salada". E, dirigindo-se a Estrella, indagou: "Por isso que a água é salgada? É por causa do pré-sal? Eu pensei que fosse por causa do xixi que as pessoas fazem na praia, no domingo".
Lula ainda pediu ao diretor da Petrobras: "Só espero que achem uma [bacia sedimentar] em Caetés, Pernambuco, onde eu nasci. Faça um estudo lá, pelo amor de Deus. Cava um buraquinho lá".
Sobre a controvérsia sobre o plano, ainda não confirmado publicamente, de criar uma estatal para administrar o pré-sal, Lula disse que a Petrobras é uma espécie de "mãe": "A Petrobras, coitadinha, vai ser abandonada, já dizia o Gabrielli. Eu achava tudo inusitado, porque era como se acordasse um belo dia e dissesse que a minha mãe já não presta. Vou arrumar outra mãe. Mas mãe é única. E a Petrobras é a mãe da industrialização deste país".
Lula voltou a dizer que o país vive seu melhor momento: "Duvido que em algum momento dos 500 anos de existência alguém tenha tido a oportunidade de vivenciar o momento que o Brasil vive hoje".


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