São Paulo, quarta-feira, 03 de setembro de 2008

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Argentina diz que pagará dívida com o Clube de Paris

Valor, de US$ 6,7 bi, será quitado com reservas do BC

ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES

Depois de ter suas notas rebaixadas por agências de classificação de risco e de bancos de investimento alertarem para a possibilidade de um novo default, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, anunciou ontem que o país irá pagar, com reservas do banco central, a dívida de US$ 6,7 bilhões que mantinha com o Clube de Paris (formado por 19 nações credoras internacionais).
Os temores de que o país pudesse declarar um novo calote cresceram ainda mais recentemente diante da queda no preço das commodities, que representam mais da metade das exportações do país e que podem reduzir a receita do governo.
Com o anúncio, a Argentina pretende dissipar esses rumores e voltar a ter acesso ao crédito internacional, perdido após o default da dívida durante a grave crise política e econômica de 2001.
"Isso [o anúncio] reafirma, uma vez mais, a vontade da Argentina de pagar seus compromissos internacionais por parte de uma gestão que não contraiu nenhuma dessas dívidas", afirmou a presidente em ato na Casa Rosada que marcava o Dia da Indústria. Empresários presentes ao evento aplaudiram de pé o anúncio.
Após o calote da dívida em 2001, o ex-presidente Néstor Kirchner também se valeu das reservas do banco central para saldar, em 2006, a dívida de US$ 9,6 bilhões que mantinha com o órgão. Atualmente, as reservas do banco central estão em cerca de US$ 47 bilhões.

Acalmar o mercado
A decisão de quitar a dívida com o Clube de Paris faz parte de uma série de medidas tomadas nas últimas semanas pelo governo para acalmar os mercados. Sem acesso ao crédito internacional após o default, a Argentina teve, nos últimos anos, a Venezuela como seu maior credor. Após a venda de US$ 1 bilhão em títulos à Venezuela, no começo de agosto, os bônus despencaram e o governo teve que sair a recomprá-los.
Nesse cenário, o pagamento da dívida foi comemorado por empresários. "Terá uma repercussão muito positiva, local e internacionalmente. Cairá bem para os credores e dará ao governo a possibilidade de descomprimir a situação e às empresas, de melhorar o financiamento", afirmou o presidente da União Industrial Argentina, Juan Carlos Lascurain.
No entanto alguns economistas criticaram o uso de fundos do BC para pagar a dívida. Afirmam que a decisão confirma que o país não estava disposto a se submeter a uma auditoria do Fundo Monetário Internacional, necessária para o parcelamento e a negociação da dívida com o Clube de Paris.


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