São Paulo, sexta-feira, 03 de outubro de 2008

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BC age de novo para socorrer banco pequeno

Regra permite desconto no compulsório para instituições que comprarem carteira de crédito de menores e pode pôr R$ 23,5 bi no mercado

Ação ocorre após Bolsa cair 7,34% e dólar superar R$ 2 e em meio a crise de liquidez; BC já havia mexido no compulsório em setembro

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pela segunda vez em menos de dez dias, o Banco Central anunciou mudanças no recolhimento compulsório para socorrer bancos de pequeno e médio porte que têm enfrentado dificuldades em captar dinheiro devido ao agravamento da crise financeira.
As medidas foram anunciadas por volta das 22h, após um dia em que a Bolsa caiu 7,34%, o dólar superou R$ 2 e o mercado de crédito seguiu congelado.
As novas regras darão um desconto no compulsório para os bancos maiores que comprarem parte da carteira de crédito de instituições de menor porte. Dessa maneira, o BC acredita que incentivará o próprio mercado a resolver o problema de liquidez que tem sido observado no sistema financeiro.
O desconto será dado no compulsório que incide sobre os depósitos a prazo, como os CDBs, e não poderá ultrapassar 40% do total que cada banco tem a recolher atualmente. As instituições financeiras são obrigadas a recolher no BC o equivalente a 15% desses depósitos, o que equivale hoje a cerca de R$ 55 bilhões.
Para tentar fazer com que os bancos grandes ajudem o maior número possível de instituições financeiras, foi definido também que esse limite de 40% não poderá ser todo usado em só uma operação de compra de carteira: se quiser usar toda a folga oferecida pelo BC, os bancos terão que adquirir a carteira de empréstimos de ao menos duas outras instituições. Essas carteiras estão entre os melhores ativos desses bancos.
O BC acredita que, se todos os bancos utilizarem todo o limite que as novas normas oferecem, a medida pode injetar R$ 23,5 bilhões no mercado. No final do mês passado, iniciativa semelhante direcionada a instituições de menor porte já havia liberado outros R$ 13 bilhões. No total, as duas medidas podem colocar à disposição do mercado R$ 36,5 bilhões.
A medida tem caráter temporário, pois só valerá para o banco que adquirir carteiras de crédito de terceiros de outras instituições até o fim de 2008. Por serem voltadas aos bancos de menor porte, só poderão vender parte das carteiras as instituições com patrimônio de até R$ 2,5 bilhões, o que exclui os 17 maiores do país.
Por meio de nota, o BC informou que a alteração tem "o objetivo de melhorar a distribuição de recursos no sistema financeiro nacional, em função das restrições de liquidez que têm sido verificadas no ambiente internacional".
Para o BC, mesmo com o agravamento da crise, não falta dinheiro no mercado. O problema, segundo esse diagnóstico, é que bancos grandes têm dinheiro em caixa, mas, com receio de piora ainda maior no cenário internacional, preferem não emprestar esses recursos para instituições menores.
Nesse caso, uma simples redução de alíquotas do compulsório não melhoraria a situação, pois não garantiria que os bancos maiores iriam pôr mais dinheiro em circulação.
No último dia 24, o BC já havia decidido dar desconto no recolhimento compulsório para os bancos que tivessem volume baixo de depósitos captados no mercado. Para as instituições menores, a iniciativa significou uma isenção do compulsório, o que ajudou a resolver, ao menos temporariamente, a falta de dinheiro em caixa. Nesse caso, entre os beneficiados, há bancos com forte presença no crédito consignado.

Como isso não foi suficiente para reverter o quadro, o ministro Guido Mantega (Fazenda) e o presidente do BC, Henrique Meirelles, reuniram-se duas vezes nos últimos dois dias com Lula para discutir a questão.


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