São Paulo, sexta-feira, 03 de outubro de 2008

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Bolsa cai 7% com medo de recessão nos EUA

Bovespa chega a marcar depreciação de 9,4% durante o pregão; mercado espera aprovação de pacote norte-americano

Apenas 3 das 66 ações que formam o Ibovespa não fecharam o dia com perdas; queda da Bolsa de São Paulo já alcança 27,7% no ano

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A aprovação do pacote de socorro do governo Bush no Senado criou a expectativa de que os pregões poderiam ter um dia mais calmo ontem. Mas o que se viu foi exatamente o contrário. A Bovespa, após operar em terreno negativo durante todo o pregão, terminou o dia com desvalorização de 7,34%, aos 46.145 pontos. O dólar subiu 5,09%, vendido a R$ 2,023.
A queda foi atribuída em parte aos dados desanimadores da economia americana -como o aumento nos pedidos de seguro-desemprego-, que reforçaram as previsões de recessão na maior economia do mundo.
A exemplo do que ocorreu em outros momentos desta crise, a queda da Bolsa brasileira superou a dos principais centros financeiros. Em Nova York, o índice Dow Jones caiu 3,22%. A Bolsa de Frankfurt perdeu 2,51%. Nos emergentes, quedas mais fortes foram registradas nas Bolsas de Buenos Aires (-5,27%), do México (-4,34%) e da Rússia (-4,04%).
No pior momento de ontem, a Bovespa registrou desvalorização de 9,41% e quase teve seu pregão interrompido -o que teria acontecido se as perdas superassem os 10%, como ocorreu na segunda-feira.
"Esperava que o dia fosse mais calmo", disse Flávio Zullo, gerente da HSBC Corretora. "Vimos investidores tentando se desfazer de ações de qualquer jeito. Nesses momentos, acaba não se olhando muito para os fundamentos das companhias, e todo mundo sofre."
A Bovespa está com perdas acumuladas de 27,7% no ano.
O dia de perdas ontem não poupou quase ninguém. Das 66 ações do índice Ibovespa, só 3 não caíram: TIM Participações ON (com alta de 0,55%), Sabesp ON (0,36%) e Comgás PN (0,35%).
As ações mais líquidas, como Petrobras e Vale, têm sofrido dupla pressão: além de os estrangeiros seguirem abandonando esses papéis, a continuidade na queda das commodities no exterior também tira sua atratividade. Ontem, o petróleo desceu a US$ 93,97 em Nova York -baixa de 4,6%. Em julho, superava US$ 147.
Depois de marcar depreciação de 10,2%, as ações preferenciais da Petrobras se recuperaram um pouco, mas encerraram o dia com forte perda de 8,16%. O papel ON da estatal recuou 6,49%. Para a ação preferencial "A" da Vale, a segunda mais negociada do dia, a queda ficou em 10,09%.
"As incertezas se mantêm no mercado internacional, com analistas e investidores preocupados e atentos aos desdobramentos da crise. E não há como a Bovespa ficar isolada da tensa cena externa", afirma Bolívar Godinho Filho, professor do Laboratório de Finanças da FIA (Fundação Instituto de Administração). Para o professor, "se o pacote for aprovado pelos deputados americanos hoje, o mercado deverá passar a ter oscilações menos intensas".
Os setores dependentes do mercado interno foram destaque de perda ontem. Papéis como os ON da Lojas Renner (que caíram 16,45%) e os PN da B2W Varejo (resultante da fusão entre Americanas.com e Submarino), com baixa de 10,80%, ficaram entre as quedas mais expressivas do dia.
Ontem, o Citigroup divulgou relatório no qual reduziu a recomendação para ações brasileiras de produtos de consumo supérfluo, em um cenário em que o país está exposto a "estancamento de fluxos de crédito" e "considerando os altos índices de endividamento".
Apesar das quedas expressivas, a movimentação não foi tão elevada na Bolsa, tendo sido negociados ontem R$ 5,6 bilhões -a média diária do ano está em R$ 5,9 bilhões.


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