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ENTREVISTA JAMES GALBRAITH
Esse plano não evita recessão nos EUA
Para economista, socorro só empurra problema para o próximo presidente
Para ele, "o que acontece aqui não é socialismo, mas um ato de tentar salvar um grupo de pessoas culpado de atos muito prejudiciais"
DE WASHINGTON
O pai escreveu sobre a era da
incerteza, o filho a vive -e não
gosta do que vê. O economista
progressista James Galbraith,
56, acha que os EUA estão a
meio caminho da recessão, que
o Plano Paulson serve para salvar o que ele chama de "Estado
predatório" (título de seu livro
mais recente) e que empurra o
problema com a barriga.
Foi o que o professor da Universidade do Texas e diretor da
associação Economistas para
Paz e Segurança disse à Folha
ontem, emendando uma frase
atribuída a seu pai, o keynesianista John Kenneth Galbraith
(1908-2006): "Nos EUA, a única forma aceitável de socialismo é o socialismo para os ricos"
(SÉRGIO DÁVILA) .
FOLHA - O sr. já disse que a possibilidade de uma nova Depressão nos
EUA é muito mais onda da mídia do
que risco real. E quanto a recessão?
JAMES GALBRAITH - Recessão é
certamente uma possibilidade
clara. Na verdade acho que já
estamos no meio do caminho.
FOLHA - É inevitável? O plano não
ajuda a diminuir essa possibilidade?
GALBRAITH - Infelizmente, esse
plano não faz nada para evitar
uma recessão. O que eles estão
tentando fazer é ajudar algumas instituições financeiras
que se meteram num problema
enorme, e estão fazendo isso de
uma maneira extremamente
ineficiente. O que farão é empurrar o problema com a barriga até que haja um governo
competente para lidar com ele,
em janeiro.
FOLHA - Então, o sr. não acha que
esse é o plano coreto?
GALBRAITH - Se eu o tivesse feito, seria muito diferente. O pacote pode ser melhor do que
não fazer nada, no sentido de
que colocar dinheiro é melhor
do que não colocar, mas só. A
base do plano é comprar ativos
do sistema financeiro, e isso é
uma maneira ineficiente de lidar com o problema da falta de
capital das instituições financeiras dos EUA.
FOLHA - Qual seria a maneira eficiente, na sua opinião?
GALBRAITH - O Plano B ideal seria fazer o que a Escandinávia
fez no final dos anos 1990, que é
basicamente garantir todos os
depósitos no sistema bancário
e comprar ações preferenciais
dos bancos, recapitalizando as
instituições financeiras. Especificamente:
Comprar títulos podres pelo
valor de mercado, não acima,
como o Fed quer fazer agora, e
os colocar numa nova corporação, independente. E então
criar uma outra corporação de
financiamento imobiliário para
lidar com o problema das hipotecas inadimplentes.
FOLHA - O que acha dos acréscimos
do Senado?
GALBRAITH - O corte de impostos é uma idéia péssima, o aumento dos depósitos garantidos é o.k., mas eles deveriam ter
ido além e aumentado a independência do órgão garantidor
(Fdic), dando completo domínio nas decisões sobre que limite colocarão nos depósitos garantidos. Não deveriam ter limitado a US$ 250 mil, porque
pode não ser o suficiente.
FOLHA - O sr. mencionou que o
problema ficará com o próximo governo. Quem espera que seja o presidente?
GALBRAITH - O senador Obama,
porque o senador McCain está
intimamente associado a todos
os arquitetos desse desastre.
Um governo McCain insistiria
nas políticas atuais e aprofundaria o problema. Henry Paulson é um homem de negócios
competente, mas falta a ele a
experiência com governo que é
requerida para que seja feito
um trabalho competente. Além
disso, ele sofre constantemente
de um conflito de interesses
potencial, o que vem destruindo completamente a credibilidade do Tesouro no processo.
FOLHA - Sobre o secretário do Tesouro, ele tem sido chamado de "socialista" no Congresso, pelo tamanho inédito e histórico da intervenção federal que propõe. Não sei sua
posição sobre comentar frases de
seu pai, mas uma das atribuídas a
ele diz: "Nos EUA, a única forma
aceitável de socialismo é o socialismo para os ricos". É este o caso?
GALBRAITH - Primeiro, eu não
tenho certeza de que meu pai
disse isso. Pode muito bem ter
dito. Mas eu prefiro usar a frase
que usei no título do meu livro
mais recente: "Estado Predatório". O que acontece aqui não é
socialismo, mas um ato de tentar salvar um grupo de pessoas
culpado de atos extremamente
prejudiciais. O Plano Paulson é
claramente pensado para evitar que eles sejam chamados à
responsabilidade. Também
não corrige os problemas causados por aquele grupo de pessoas.
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