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ENTREVISTA CLAUDIO HADDAD
Regulação no mercado pode "errar na mão"
Ex-diretor do BC aponta risco de
excesso na regulamentação após crise
Para economista, tomar
risco faz parte do jogo e
permitiu desenvolvimento;
contrapartidas são as
crises financeiras cíclicas
DA REPORTAGEM LOCAL
Ex-sócio do Garantia, banco
que ajudou a moldar o mercado
brasileiro, o economista Claudio Haddad afirma que, após o
pânico nos mercados, virá a crise na economia "real", uma tendência intervencionista de regulação que "pode errar na
mão" e a recuperação. Ex-diretor do BC e diretor-presidente
do Ibmec-SP, Haddad não vê
uma crise no capitalismo financeiro, mas um acidente que
ocorre de tempos em tempos.
"Se não fosse a disposição de
tomar risco, não haveria desenvolvimento."
(TONI SCIARRETTA)
FOLHA - Como conviver com a
atual instabilidade nos mercados?
CLAUDIO HADDAD - Temos que
esperar passar a tempestade e
depois procurar novas oportunidades. Chega um ponto em
que começa a ficar atraente de
novo. Agora, só vai poder ver o
que ficou atraente quando passar a tormenta. Com essa tempestade -e com a visibilidade
zero-, o melhor é ficar debaixo
de uma marquise e se proteger.
FOLHA - Qual o sinal de que a tormenta está passando?
HADDAD - Quando o ritmo se
reduzir e [a Bolsa] passar a cair
mais devagar. O problema agora é resolver esse sufoco do sistema financeiro e torcer para
que essa desalavancagem se dê
com um mínimo de perturbação. Que [a recuperação] vai
acontecer, vai. Tem muitos fatores que continuam impulsionando o crescimento.
FOLHA - O que sucede o pânico?
HADDAD - Vem a crise na economia real e tem também a regulação. Haverá uma tendência
de colocar regras para não deixar essas coisas acontecerem
de novo. E que pode errar a mão
e ser excessiva. Crises periodicamente acontecem. É bom
não achar que somos superpoderosos, inteligentes e controladores para evitar que novas
crises aconteçam. O negócio é
aprender sempre, minimizar os
efeitos e colocar incentivos para sair o mais rápido possível
das futuras crises. Mas muita
coisa tem de ser revista.
FOLHA - Ruiu o modelo de banco
de investimento e do capitalismo financeiro que temos hoje?
HADDAD - Não, mas haverá
uma volta para o básico do mercado. Certamente, vai haver
menos exageros. Uma coisa é
entender o que se faz, no que
aplica, e muita gente não entendia. E terá de ter mais transparência. Sobre o capitalismo,
ninguém descobriu um sistema
melhor. Pode ter muitos defeitos -e tem-, mas o problema é
que os outros são piores. Não
há nada de alternativo com um
mínimo de eficiência.
FOLHA - Risco é sempre ruim?
HADDAD - Não, porque é assim
que o mundo anda. Se as pessoas não assumissem nada, ainda estaríamos na Idade Média.
Se não fosse o engenho humano, a disposição de tomar risco,
a livre iniciativa, não haveria
desenvolvimento. A contrapartida é que alguns erros são cometidos, você tem recessões e
crises. A única coisa que a gente
sabe é que a próxima crise será
diferente desta e das outras.
FOLHA - A decepção do pequeno
investidor vai prejudicar o mercado?
HADDAD - A gente vai pagar um
preço alto. Uma das coisas extraordinárias que aconteceram
no Brasil nos últimos anos foi o
ressurgimento do mercado de
capitais, que é ótimo para a formação de capital e de novas
empresas. Muitos investidores
que entraram vão ficar traumatizados e talvez se afastem.
FOLHA - O que o país pode fazer?
HADDAD - É importante cuidar
da política fiscal, que necessita
de muitos ajustes. Os gastos
crescem acima do PIB.
FOLHA - Não é difícil pedir corte
nos gastos aqui, quando os EUA despejam dinheiro nos mercados?
HADDAD - Mas o governo não
gosta de inflação, não quer crise
financeira e quer uma taxa de
juros baixa para favorecer o
crescimento. Se colocar tudo
isso na equação, o governo pode concluir que, seguindo uma
política fiscal mais conservadora, pode precisar de uma política monetária menos contracionista, que teria efeitos benéficos para todo mundo. E aí o cacife político aumentaria com a
política fiscal conservadora.
FOLHA - Qual o papel do BC, do
BNDES e do governo durante a crise?
HADDAD - Aumentar a oferta de
crédito na época em que o BC
está perseguindo uma política
monetária contracionista não
parece uma boa opção. Claro
que se pode ter bolsões. E reduzir o compulsório me parece
adequado. Mesmo que o problema seja aumentar a oferta
de crédito, a pergunta é: a que
taxas? Por que tem de ser subsidiado? O subsídio favorece
poucos com custo para muitos.
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