São Paulo, sábado, 03 de outubro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FMI quer papel de Banco Central global

Diretor do Fundo propõe que instituição tenha mais caixa e possa ser mais ágil para liberar empréstimos a países em crise

Ideia é que países membros não precisem acumular tantas reservas externas contra crises e possam recorrer ao FMI; Brasil apoia


FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A ISTAMBUL

O diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Khan, propôs ontem aos 168 países membros do órgão transformá-lo em uma espécie de Banco Central mundial.
Na visão de Strauss-Khan, os países não precisariam mais acumular tantas reservas internacionais para se proteger de crises cambiais ou de ataques especulativos contra suas moedas, já que o próprio Fundo garantiria a proteção das economias com seus recursos.
Para o chefe do FMI, em vez de acumular trilhões de dólares em reservas, os países poderiam usar os recursos para projetos de infraestrutura, saúde e educação.
O ministro Guido Mantega (Fazenda) diz que apoia a ideia. Mas que ela é ainda muito preliminar e exigiria uma série de mudanças no funcionamento das linhas de crédito do Fundo e na divisão de poder entre os países no organismo.
Entre o final dos anos 1990 e hoje, os países emergentes e os ricos aumentaram o volume de suas reservas cambiais de US$ 2 trilhões para US$ 8 trilhões. As do Brasil saltaram de US$ 58 bilhões para US$ 220 bilhões nos últimos três anos.
A acumulação de reservas se deu justamente para que os países não precisem recorrer ao FMI em crises, já que o Fundo sempre condicionou a liberação de dinheiro a medidas draconianas.
"A acumulação ocorreu porque os países não podem contar com uma proteção adequada contra súbitas interrupções nos fluxos de capital. Eles também não confiavam na capacidade de ajuda do Fundo e nas condições impostas para os empréstimos", afirmou o diretor-gerente do FMI.
Ele ressaltou que, em muitos casos, acumular reservas custa caro aos países.
Como grande parte das reservas dos países é denominada em dólares, há um custo na acumulação para quem (como o Brasil) pratica taxas de juros superiores às pagas pelos títulos do Tesouro dos EUA.
O FMI sustenta que, para corrigir os atuais e profundos desequilíbrios globais, países com reservas (como China, Índia e Brasil) deverão consumir mais. Por outro lado, os endividados (EUA, principalmente) terão de poupar e exportar mais de seus produtos a fim de sustentar seu crescimento.
Ao terem outra fonte de proteção, na visão do FMI, os países com reservas gastariam parte delas para consumir mais globalmente, acelerando o reequilíbrio mundial.
O grande problema na proposta do Fundo é que hoje nenhum país pode sacar dinheiro dos cofres do órgão sem um acordo prévio. Já as reservas internacionais estão à disposição imediatamente.
Outro ponto é que o FMI precisaria ampliar muito o seu caixa, hoje de US$ 750 bilhões (menos da metade das reservas da China). As discussões sobre a ideia devem continuar nos próximos meses.

Desemprego alto até 2011
O FMI previu ontem que o desemprego nos países ricos continuará alto até 2011, que a contração no crédito ao consumo persistirá até o fim de 2010 e que o mundo perderá cerca de 10% de sua capacidade de crescimento nos próximos sete anos por conta da crise.
"O crescimento está voltando, mas o desemprego paira como uma sombra sobre essa recuperação. Os países não podem cair na tentação de retirar os estímulos estatais", disse Strauss-Kahn.
Ontem, os EUA anunciaram novo aumento no desemprego, de 9,7% para 9,8%, após mais 263 mil cortes de postos de trabalho em setembro.
Segundo o diretor-adjunto do FMI para o Hemisfério Ocidental, David Robinson, neste contexto de "troca de modelo" para o crescimento global, a situação dos Estados Unidos é particularmente difícil, pois a atual recuperação estaria muito centrada na elevação dos gastos públicos e na temporária reposição de estoques.


Texto Anterior: Cesar Benjamin: Impactos do latifúndio
Próximo Texto: China é motor da recuperação em países da AL
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.