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FMI quer papel de Banco Central global
Diretor do Fundo propõe que instituição tenha mais caixa e possa ser mais ágil para liberar empréstimos a países em crise
Ideia é que países membros não precisem acumular tantas reservas externas contra crises e possam recorrer ao FMI; Brasil apoia
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A ISTAMBUL
O diretor-gerente do FMI
(Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Khan,
propôs ontem aos 168 países
membros do órgão transformá-lo em uma espécie de Banco
Central mundial.
Na visão de Strauss-Khan, os
países não precisariam mais
acumular tantas reservas internacionais para se proteger de
crises cambiais ou de ataques
especulativos contra suas moedas, já que o próprio Fundo garantiria a proteção das economias com seus recursos.
Para o chefe do FMI, em vez
de acumular trilhões de dólares
em reservas, os países poderiam usar os recursos para projetos de infraestrutura, saúde e
educação.
O ministro Guido Mantega
(Fazenda) diz que apoia a ideia.
Mas que ela é ainda muito preliminar e exigiria uma série de
mudanças no funcionamento
das linhas de crédito do Fundo
e na divisão de poder entre os
países no organismo.
Entre o final dos anos 1990 e
hoje, os países emergentes e os
ricos aumentaram o volume de
suas reservas cambiais de US$
2 trilhões para US$ 8 trilhões.
As do Brasil saltaram de US$ 58
bilhões para US$ 220 bilhões
nos últimos três anos.
A acumulação de reservas se
deu justamente para que os
países não precisem recorrer
ao FMI em crises, já que o Fundo sempre condicionou a liberação de dinheiro a medidas
draconianas.
"A acumulação ocorreu porque os países não podem contar
com uma proteção adequada
contra súbitas interrupções
nos fluxos de capital. Eles também não confiavam na capacidade de ajuda do Fundo e nas
condições impostas para os
empréstimos", afirmou o diretor-gerente do FMI.
Ele ressaltou que, em muitos
casos, acumular reservas custa
caro aos países.
Como grande parte das reservas dos países é denominada
em dólares, há um custo na
acumulação para quem (como
o Brasil) pratica taxas de juros
superiores às pagas pelos títulos do Tesouro dos EUA.
O FMI sustenta que, para
corrigir os atuais e profundos
desequilíbrios globais, países
com reservas (como China, Índia e Brasil) deverão consumir
mais. Por outro lado, os endividados (EUA, principalmente)
terão de poupar e exportar
mais de seus produtos a fim de
sustentar seu crescimento.
Ao terem outra fonte de proteção, na visão do FMI, os países com reservas gastariam
parte delas para consumir mais
globalmente, acelerando o reequilíbrio mundial.
O grande problema na proposta do Fundo é que hoje nenhum país pode sacar dinheiro
dos cofres do órgão sem um
acordo prévio. Já as reservas
internacionais estão à disposição imediatamente.
Outro ponto é que o FMI precisaria ampliar muito o seu caixa, hoje de US$ 750 bilhões
(menos da metade das reservas
da China). As discussões sobre
a ideia devem continuar nos
próximos meses.
Desemprego alto até 2011
O FMI previu ontem que o
desemprego nos países ricos
continuará alto até 2011, que a
contração no crédito ao consumo persistirá até o fim de 2010
e que o mundo perderá cerca de
10% de sua capacidade de crescimento nos próximos sete
anos por conta da crise.
"O crescimento está voltando, mas o desemprego paira como uma sombra sobre essa recuperação. Os países não podem cair na tentação de retirar
os estímulos estatais", disse
Strauss-Kahn.
Ontem, os EUA anunciaram
novo aumento no desemprego,
de 9,7% para 9,8%, após mais
263 mil cortes de postos de trabalho em setembro.
Segundo o diretor-adjunto
do FMI para o Hemisfério Ocidental, David Robinson, neste
contexto de "troca de modelo"
para o crescimento global, a situação dos Estados Unidos é
particularmente difícil, pois a
atual recuperação estaria muito centrada na elevação dos
gastos públicos e na temporária
reposição de estoques.
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