São Paulo, sexta-feira, 03 de novembro de 2006

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FMI vê expansão mais sustentável na AL

Relatório diz que economias da região se aproveitaram das condições favoráveis em bases mais sólidas que anos 80 e 90

Segundo projeções do Fundo, Brasil crescerá menos que os vizinhos em 2006 e 2007, mas diferença está diminuindo

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

O Brasil crescerá menos do que a América Latina, que, por sua vez, crescerá num ritmo menor do que o das demais economias emergentes. Apesar disso, a expansão por que passa o país e o continente agora é mais sustentável do que a dos anos 1970 e 1980 e, por isso, pode ser mais duradoura. Essas são as principais conclusões do relatório "Perspectiva Econômica Regional - Hemisfério Ocidental", do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Segundo o Fundo, a economia brasileira crescerá 3,2% em 2006 (a previsão média dos analistas brasileiros é de 3%) e 4% em 2007 (3,5% para os analistas). Para a América Latina, a previsão é de 4,8% para este ano e 4,3% em 2007. O contraste é mais evidente na América do Sul: puxado pelos 12% previstos para a Argentina em 2007, o continente deverá crescer 5,7% no ano que vem.
A previsão para o Brasil em 2007, no entanto, coloca a economia brasileira mais próxima dos índices da América Latina em geral, tanto por conta do crescimento do país quanto pela desaceleração do continente em geral. Os números são tímidos quando comparados com o que se espera dos mercados emergentes (perto de 7%), liderados pela China, que expandiu sua taxa anualizada de crescimento para mais de 10% no primeiro semestre de 2006.
O relatório destaca que a América Latina passa por uma significativa recuperação, com a projeção de que 2006 seja o terceiro ano seguido de crescimento acima de 4%. "No passado, tais mudanças traziam em si as sementes de sua própria destruição", afirma o texto, citando a "década perdida" de 1980 e as crises dos anos 1990.
"Os países usaram as condições dadas pelo ambiente econômico favorável para reduzir suas vulnerabilidades e colocar sua expansão em bases mais sólidas que as anteriores?" é a pergunta retórica que se faz o relatório. "Em geral, a resposta é "sim", embora o progresso não tenha sido uniforme em todas as áreas e países e haja alguns sinais recentes de erosão", responde o próprio Fundo.
"No contexto de um ambiente global ainda favorável, a perspectiva econômica para o hemisfério Ocidental continua boa", diz o relatório. Apesar de condições monetárias mais restritas, o crescimento global deve ficar em torno de 5% em 2006 e 2007, com a desaceleração da economia dos EUA sendo atenuada por uma expansão na Europa e no Japão e por um salto na Ásia, prevê o FMI.
Já o crescimento da América Latina será impulsionado principalmente por gastos públicos mais elevados, aumento no consumo e em investimento.

Riscos
Há, no entanto, "riscos claros" nessa perspectiva, alerta o Fundo, entre eles a saída dos países do Caribe do Sistema Geral de Preferências (SGP) e o impasse das negociações comerciais globais (Rodada Doha): "[Os riscos incluem] uma queda mais radical do crescimento da economia dos EUA, constrição inesperada dos mercados financeiros globais, volatilidade dos preços das commodities, principalmente dos não-derivados de petróleo, pressões comerciais que se seguiriam à erosão do acesso preferencial dos países do Caribe e ausência de progresso nos acordos de liberalização do comércio".
"Nos últimos anos, o Brasil não avançou nada em termos estruturais que pudesse nos tornar mais competitivos e nos fazer crescer mais", disse à Folha Ricardo Amorim, economista do WestLB. "Em alguns setores, como a carga tributária, até regrediu." Para ele, existe uma "oportunidade única" com a reeleição, que é a de o governo usar seu capital político para avançar as reformas. "Infelizmente, até agora, pelo menos, não há indicações claras de que o governo vá fazer isso."
A economia brasileira ganha destaque em três passagens do relatório: nos programas sociais como forma de diminuir a desigualdade social, em que o Bolsa Família é citado, na crítica que países da região fazem à rigidez orçamentária e nos esforços recentes pela liberalização das regras relacionadas ao mercado externo.
Sobre o último assunto, escrevem os economistas do FMI Max Alier e Marcello Estevão, tais medidas "reduziram os custos de transações associadas com o comércio exterior e com o fluxo de investimentos" no Brasil.


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