|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FMI vê expansão mais sustentável na AL
Relatório diz que economias da região se aproveitaram das condições favoráveis em bases mais sólidas que anos 80 e 90
Segundo projeções do Fundo, Brasil crescerá menos que os vizinhos
em 2006 e 2007, mas
diferença está diminuindo
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
O Brasil crescerá menos do
que a América Latina, que, por
sua vez, crescerá num ritmo
menor do que o das demais economias emergentes. Apesar
disso, a expansão por que passa
o país e o continente agora é
mais sustentável do que a dos
anos 1970 e 1980 e, por isso, pode ser mais duradoura. Essas
são as principais conclusões do
relatório "Perspectiva Econômica Regional - Hemisfério
Ocidental", do FMI (Fundo
Monetário Internacional).
Segundo o Fundo, a economia brasileira crescerá 3,2%
em 2006 (a previsão média dos
analistas brasileiros é de 3%) e
4% em 2007 (3,5% para os analistas). Para a América Latina, a
previsão é de 4,8% para este
ano e 4,3% em 2007. O contraste é mais evidente na América
do Sul: puxado pelos 12% previstos para a Argentina em
2007, o continente deverá crescer 5,7% no ano que vem.
A previsão para o Brasil em
2007, no entanto, coloca a economia brasileira mais próxima
dos índices da América Latina
em geral, tanto por conta do
crescimento do país quanto pela desaceleração do continente
em geral. Os números são tímidos quando comparados com o
que se espera dos mercados
emergentes (perto de 7%), liderados pela China, que expandiu
sua taxa anualizada de crescimento para mais de 10% no primeiro semestre de 2006.
O relatório destaca que a
América Latina passa por uma
significativa recuperação, com
a projeção de que 2006 seja o
terceiro ano seguido de crescimento acima de 4%. "No passado, tais mudanças traziam em
si as sementes de sua própria
destruição", afirma o texto, citando a "década perdida" de
1980 e as crises dos anos 1990.
"Os países usaram as condições dadas pelo ambiente econômico favorável para reduzir
suas vulnerabilidades e colocar
sua expansão em bases mais sólidas que as anteriores?" é a
pergunta retórica que se faz o
relatório. "Em geral, a resposta
é "sim", embora o progresso não
tenha sido uniforme em todas
as áreas e países e haja alguns
sinais recentes de erosão", responde o próprio Fundo.
"No contexto de um ambiente global ainda favorável, a
perspectiva econômica para o
hemisfério Ocidental continua
boa", diz o relatório. Apesar de
condições monetárias mais
restritas, o crescimento global
deve ficar em torno de 5% em
2006 e 2007, com a desaceleração da economia dos EUA sendo atenuada por uma expansão
na Europa e no Japão e por um
salto na Ásia, prevê o FMI.
Já o crescimento da América
Latina será impulsionado principalmente por gastos públicos
mais elevados, aumento no
consumo e em investimento.
Riscos
Há, no entanto, "riscos claros" nessa perspectiva, alerta o
Fundo, entre eles a saída dos
países do Caribe do Sistema
Geral de Preferências (SGP) e o
impasse das negociações comerciais globais (Rodada Doha): "[Os riscos incluem] uma
queda mais radical do crescimento da economia dos EUA,
constrição inesperada dos mercados financeiros globais, volatilidade dos preços das commodities, principalmente dos não-derivados de petróleo, pressões
comerciais que se seguiriam à
erosão do acesso preferencial
dos países do Caribe e ausência
de progresso nos acordos de liberalização do comércio".
"Nos últimos anos, o Brasil
não avançou nada em termos
estruturais que pudesse nos
tornar mais competitivos e nos
fazer crescer mais", disse à Folha Ricardo Amorim, economista do WestLB. "Em alguns
setores, como a carga tributária, até regrediu." Para ele, existe uma "oportunidade única"
com a reeleição, que é a de o governo usar seu capital político
para avançar as reformas. "Infelizmente, até agora, pelo menos, não há indicações claras de
que o governo vá fazer isso."
A economia brasileira ganha
destaque em três passagens do
relatório: nos programas sociais como forma de diminuir a
desigualdade social, em que o
Bolsa Família é citado, na crítica que países da região fazem à
rigidez orçamentária e nos esforços recentes pela liberalização das regras relacionadas ao
mercado externo.
Sobre o último assunto, escrevem os economistas do FMI
Max Alier e Marcello Estevão,
tais medidas "reduziram os
custos de transações associadas com o comércio exterior e
com o fluxo de investimentos"
no Brasil.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Frases Índice
|