São Paulo, sexta-feira, 03 de novembro de 2006

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China debate o que fazer com reservas de US$ 1 tri

Economista defende valor limite e uso do excedente em acesso a matérias-primas

Volume, equivalente a 40% do PIB, está aplicado na maior parte em ativos de baixo rendimento, como títulos do Tesouro dos EUA

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O que fazer com US$ 1 trilhão? Esse doce dilema está diante do governo chinês desde o fim de outubro, quando as reservas internacionais do país deixaram a casa do bilhão para ingressar no terreno do trilhão.
O valor equivale a cerca de 40% do PIB da China e representa o maior volume de reservas internacionais de todo o mundo. As principais fontes dessa montanha de dólares são investimentos estrangeiros, o crescente saldo comercial e dinheiro especulativo.
Grande parte das reservas está investida em ativos de alta liquidez, mas baixo rendimento, como títulos do Tesouro dos EUA, o que tem estimulado a defesa de aplicações mais produtivas dos recursos.
Nesta semana, o "Diário do Povo", jornal do Partido Comunista, deu destaque às posições de Zhong Wei, professor da Teacher's University, que defende um limite de US$ 800 bilhões para as reservas internacionais -valor que se aproxima de todo o PIB brasileiro.
O que ultrapassasse esse teto seria utilizado para garantir o acesso da China a petróleo e matérias-primas, aprimorar a tecnologia das empresas estatais, sanear o sistema financeiro e desenvolver um sistema de seguridade social no país.

Sistema financeiro
Desde 2003, o governo usou US$ 60 bilhões das reservas internacionais para capitalizar os três maiores bancos estatais, que lançaram ações nos últimos 12 meses. As reservas do Brasil estão em US$ 78 bilhões.
A posição de Zhong está longe de obter consenso dentro do governo, que vê com bastante cautela mudanças na maneira como as reservas são administradas. Mas a velocidade de crescimento da pilha de dólares se transformou em um problema para as autoridades.
Desde o início do ano, as reservas têm aumentado a uma média de quase US$ 20 bilhões por mês, cifra equivalente à metade de todo o superávit comercial que o Brasil deve ter neste ano. No fim de setembro, último dado disponível, elas atingiram US$ 988 bilhões.
O próximo balanço oficial só será divulgado em janeiro, mas os jornais do governo afirmam que a marca de US$ 1 trilhão foi atingida no fim de outubro.
Para evitar que essa avalanche de moeda estrangeira pressione para cima a cotação do yuan, o banco central compra os dólares, que se transformam em reservas. Em troca, emite yuans e os retira de circulação com títulos da dívida interna.
O problema é que a estratégia tem sido incapaz de enxugar toda a liquidez criada pela emissão de yuans, o que infla o volume de crédito e de investimentos e alimenta o temor de superaquecimento da economia.

Medidas pouco drásticas
Por enquanto, os dirigentes do país têm optado por medidas pouco drásticas para tentar reduzir o ritmo de crescimento das reservas. Entre elas, está a ampliação dos valores que os chineses podem enviar ao exterior ou destinar à compra de ativos em outros países.
O aumento de importações é outra mudança que tornaria a vida do governo mais fácil. A China deve fechar este ano com superávit comercial próximo de US$ 150 bilhões, quantia que supera de longe o recorde de US$ 102 bilhões de 2005.
Além de alimentar as reservas, o superávit crescente aumenta a tensão entre a China e seus principais parceiros comerciais, que pressionam pela valorização do yuan.
Entre os caminhos para elevar as importações, está o aumento do consumo interno, um dos principais objetivos do governo para os próximos anos.
Os dirigentes chineses pretendem modificar a estrutura da economia do país, reduzindo o peso dos investimentos como motor do crescimento e elevando o da demanda interna.
"O ponto-chave é formular uma política que favoreça a distribuição de renda. Muitos dos problemas que estão emergindo nos conflitos macroeconômicos estão relacionados à política de distribuição de renda", declarou em entrevista ao "Diário do Povo" o economista Wang Tongsan, da Academia Chinesa de Ciências Sociais.


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