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China debate o que fazer com reservas de US$ 1 tri
Economista defende valor limite e uso do excedente em acesso a matérias-primas
Volume, equivalente a 40%
do PIB, está aplicado na
maior parte em ativos de
baixo rendimento, como
títulos do Tesouro dos EUA
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O que fazer com US$ 1 trilhão? Esse doce dilema está
diante do governo chinês desde
o fim de outubro, quando as reservas internacionais do país
deixaram a casa do bilhão para
ingressar no terreno do trilhão.
O valor equivale a cerca de
40% do PIB da China e representa o maior volume de reservas internacionais de todo o
mundo. As principais fontes
dessa montanha de dólares são
investimentos estrangeiros, o
crescente saldo comercial e dinheiro especulativo.
Grande parte das reservas está investida em ativos de alta liquidez, mas baixo rendimento,
como títulos do Tesouro dos
EUA, o que tem estimulado a
defesa de aplicações mais produtivas dos recursos.
Nesta semana, o "Diário do
Povo", jornal do Partido Comunista, deu destaque às posições
de Zhong Wei, professor da
Teacher's University, que defende um limite de US$ 800 bilhões para as reservas internacionais -valor que se aproxima
de todo o PIB brasileiro.
O que ultrapassasse esse teto
seria utilizado para garantir o
acesso da China a petróleo e
matérias-primas, aprimorar a
tecnologia das empresas estatais, sanear o sistema financeiro e desenvolver um sistema de
seguridade social no país.
Sistema financeiro
Desde 2003, o governo usou
US$ 60 bilhões das reservas internacionais para capitalizar os
três maiores bancos estatais,
que lançaram ações nos últimos 12 meses. As reservas do
Brasil estão em US$ 78 bilhões.
A posição de Zhong está longe de obter consenso dentro do
governo, que vê com bastante
cautela mudanças na maneira
como as reservas são administradas. Mas a velocidade de
crescimento da pilha de dólares
se transformou em um problema para as autoridades.
Desde o início do ano, as reservas têm aumentado a uma
média de quase US$ 20 bilhões
por mês, cifra equivalente à
metade de todo o superávit comercial que o Brasil deve ter
neste ano. No fim de setembro,
último dado disponível, elas
atingiram US$ 988 bilhões.
O próximo balanço oficial só
será divulgado em janeiro, mas
os jornais do governo afirmam
que a marca de US$ 1 trilhão foi
atingida no fim de outubro.
Para evitar que essa avalanche de moeda estrangeira pressione para cima a cotação do
yuan, o banco central compra
os dólares, que se transformam
em reservas. Em troca, emite
yuans e os retira de circulação
com títulos da dívida interna.
O problema é que a estratégia
tem sido incapaz de enxugar toda a liquidez criada pela emissão de yuans, o que infla o volume de crédito e de investimentos e alimenta o temor de superaquecimento da economia.
Medidas pouco drásticas
Por enquanto, os dirigentes
do país têm optado por medidas pouco drásticas para tentar
reduzir o ritmo de crescimento
das reservas. Entre elas, está a
ampliação dos valores que os
chineses podem enviar ao exterior ou destinar à compra de
ativos em outros países.
O aumento de importações é
outra mudança que tornaria a
vida do governo mais fácil. A
China deve fechar este ano com
superávit comercial próximo
de US$ 150 bilhões, quantia que
supera de longe o recorde de
US$ 102 bilhões de 2005.
Além de alimentar as reservas, o superávit crescente aumenta a tensão entre a China e
seus principais parceiros comerciais, que pressionam pela
valorização do yuan.
Entre os caminhos para elevar as importações, está o aumento do consumo interno,
um dos principais objetivos do
governo para os próximos anos.
Os dirigentes chineses pretendem modificar a estrutura
da economia do país, reduzindo
o peso dos investimentos como
motor do crescimento e elevando o da demanda interna.
"O ponto-chave é formular
uma política que favoreça a distribuição de renda. Muitos dos
problemas que estão emergindo nos conflitos macroeconômicos estão relacionados à política de distribuição de renda",
declarou em entrevista ao "Diário do Povo" o economista
Wang Tongsan, da Academia
Chinesa de Ciências Sociais.
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