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A ÁGUIA POUSOU
Risco de calote é o maior desde 1991
Mas dificuldade não afeta empresas tradicionais
DE WASHINGTON
Os seis últimos aumentos dos
juros norte-americanos reduziram a oferta de crédito a empresas, estrangularam os balanços de
algumas companhias e provocaram a quebra de outras.
Mas ninguém soube ainda identificar se o aperto monetário e os
calotes estão atingindo somente
empresas frágeis, que cresceram
com dinheiro fácil nos últimos
anos, ou se os bancos também fecharam suas torneiras para companhias tidas como sólidas -o
que poderia causar uma onda de
falências significativas.
As três principais agências de
avaliação de risco dos EUA (Standard & Poor's, Moody's e Fitch)
alertaram que a qualidade do crédito corporativo está em péssima
situação, sugerindo que a segunda hipótese é provável.
Mas há controvérsias.
A Standard & Poor's anunciou
que 104 companhias deixaram de
pagar seus credores em 2000,
num calote global de US$ 37,7 bilhões. O valor equivale ao de 1999.
A Moody's anunciou que a qualidade do crédito nos EUA está
em sua pior situação desde a recessão de 1991. Mas há quem diga
que ele continua do jeito que estava para as empresas viáveis.
Mas algumas delas também foram atingidas pelo aperto monetário recentemente, o que torna
essa discussão complexa.
A Xerox não conseguiu emitir
"commercial papers" e teve de recorrer a linhas de crédito convencionais para captar US$ 7 bilhões.
A AT&T teve sua avaliação de
crédito reduzida pela Moody's
por causa de previsões sombrias
sobre consumo.
Segundo a Moody's, fatores como queda de demanda e de gastos
com consumo e aumento dos
custos de energia e material de
construção pressionam para baixo a qualidade de crédito. Por ora,
as empresas menos tradicionais
pagam o maior preço. Na quarta-feira, a Fitch alertou que o índice
de calote dos "junk bonds" (títulos de alto risco) é o maior desde a
recessão de 91. Em novembro, nove em cada dez investidores tiraram dinheiro de fundos formados
por esses títulos.
"O canal de crédito para a economia reduziu-se, mas ainda
existe", diz Roberto Rigobon,
professor do MIT. "Não se pode
dizer que houve um "credit
crunch", nem que haverá um."
Para Rigobon, uma recessão
com fechamento total do canal de
crédito só ocorreria se o Fed elevasse ainda mais as taxas de juros.
Os dados do Fed mostram que
os empréstimos dos bancos para
o setor privado cresceram 6,9%
no último trimestre -pouco menos da metade do índice do primeiro trimestre do ano (15%).
A maior preocupação de analistas e investidores diz respeito aos
créditos que os bancos forneceram sem critério, na última década, a companhias privadas.
A perspectiva de desaquecimento severo da economia vai
impedir que cerca de 80% dos investimentos privados feitos por
essas empresas venham a apresentar lucro.
Isso significa que os bancos terão de retrair o crédito para todos
os setores industriais para equilibrar seus balanços, o que atingiria
a economia dos EUA como um
todo. Ou seja: mesmo a eventual
quebra do setor de "junk bonds",
avaliado em US$ 680 bilhões, poderia contagiar setores industriais
tradicionais.
(MARCIO AITH)
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