São Paulo, domingo, 03 de dezembro de 2000

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A ÁGUIA POUSOU
Risco de calote é o maior desde 1991

Mas dificuldade não afeta empresas tradicionais

DE WASHINGTON

Os seis últimos aumentos dos juros norte-americanos reduziram a oferta de crédito a empresas, estrangularam os balanços de algumas companhias e provocaram a quebra de outras.
Mas ninguém soube ainda identificar se o aperto monetário e os calotes estão atingindo somente empresas frágeis, que cresceram com dinheiro fácil nos últimos anos, ou se os bancos também fecharam suas torneiras para companhias tidas como sólidas -o que poderia causar uma onda de falências significativas.
As três principais agências de avaliação de risco dos EUA (Standard & Poor's, Moody's e Fitch) alertaram que a qualidade do crédito corporativo está em péssima situação, sugerindo que a segunda hipótese é provável.
Mas há controvérsias.
A Standard & Poor's anunciou que 104 companhias deixaram de pagar seus credores em 2000, num calote global de US$ 37,7 bilhões. O valor equivale ao de 1999.
A Moody's anunciou que a qualidade do crédito nos EUA está em sua pior situação desde a recessão de 1991. Mas há quem diga que ele continua do jeito que estava para as empresas viáveis.
Mas algumas delas também foram atingidas pelo aperto monetário recentemente, o que torna essa discussão complexa.
A Xerox não conseguiu emitir "commercial papers" e teve de recorrer a linhas de crédito convencionais para captar US$ 7 bilhões. A AT&T teve sua avaliação de crédito reduzida pela Moody's por causa de previsões sombrias sobre consumo.
Segundo a Moody's, fatores como queda de demanda e de gastos com consumo e aumento dos custos de energia e material de construção pressionam para baixo a qualidade de crédito. Por ora, as empresas menos tradicionais pagam o maior preço. Na quarta-feira, a Fitch alertou que o índice de calote dos "junk bonds" (títulos de alto risco) é o maior desde a recessão de 91. Em novembro, nove em cada dez investidores tiraram dinheiro de fundos formados por esses títulos.
"O canal de crédito para a economia reduziu-se, mas ainda existe", diz Roberto Rigobon, professor do MIT. "Não se pode dizer que houve um "credit crunch", nem que haverá um."
Para Rigobon, uma recessão com fechamento total do canal de crédito só ocorreria se o Fed elevasse ainda mais as taxas de juros.
Os dados do Fed mostram que os empréstimos dos bancos para o setor privado cresceram 6,9% no último trimestre -pouco menos da metade do índice do primeiro trimestre do ano (15%).
A maior preocupação de analistas e investidores diz respeito aos créditos que os bancos forneceram sem critério, na última década, a companhias privadas.
A perspectiva de desaquecimento severo da economia vai impedir que cerca de 80% dos investimentos privados feitos por essas empresas venham a apresentar lucro.
Isso significa que os bancos terão de retrair o crédito para todos os setores industriais para equilibrar seus balanços, o que atingiria a economia dos EUA como um todo. Ou seja: mesmo a eventual quebra do setor de "junk bonds", avaliado em US$ 680 bilhões, poderia contagiar setores industriais tradicionais. (MARCIO AITH)



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