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A ÁGUIA POUSOU
"BC dos EUA exagerou, e recessão vem aí"
Para o economista Brian Wesbury, alta excessiva dos juros fatalmente levará à desaceleração econômica
DE WASHINGTON
Analistas acham que o principal
mérito do economista e investidor Brian Wesbury é que ele criticou a política monetária de Alan
Greenspan quando ninguém ousava desafiar conceitualmente o
presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano).
Ex-economista-chefe da principal comissão econômica do Congresso dos EUA, Wesbury é hoje
um dos donos da corretora Griffin, Kubik, Stephens & Thompson, baseada em Chicago, e tornou-se um dos principais críticos
de Greenspan nos EUA.
Em 99, Wesbury dizia que a política monetária do Fed estava
equivocada. Agora, sustenta que
dificilmente escapa da recessão.
"A economia norte-americana
tem o potencial de crescer 5% ao
ano sem criar inflação. Mas, por
acreditar que esse crescimento
deve ficar perto de 3,5%, o Fed
tentou por todos os meios adaptar o ritmo da atividade econômica a essa visão míope."
Wesbury lidera o grupo de investidores e analistas (que formam uma minoria) segundo os
quais o Fed exagerou na dose.
O raciocínio básico de Wesbury
é o de que alguns setores que não
precisavam entrar no vermelho já
estão em recessão mesmo sem
que o último aumento de juros do
Fed (de 0,5 ponto percentual, em
maio) tenha ainda surtido efeito
sobre a economia.
A Folha expôs alguns dos argumentos de Wesbury a Roberto Rigobon, professor do MIT (Massachusetts Institute of Technology)
e um dos maiores defensores de
Greenspan.
"Esse é o raciocínio de quem
não vê a economia como um todo", disse ele. "Em política monetária, deve-se agir antes que a recessão e a inflação apareçam, e é
isso que Greenspan fez."
Wesbury e Rigobon concordam
que o último aumento dos juros
de Greenspan foi exagerado, embora Rigobon considere esse tipo
de exagero como inevitáveis em
processos de desaquecimento.
Wesbury o considerou um erro.
Rigobon também não descarta
uma recessão nos EUA. "Mas se
ela ocorrer, não será por culpa do
Fed, e sim do cenário externo, do
fraco desempenho da Europa, do
Japão ou do petróleo."
A seguir, a entrevista de Wesbury, por telefone, na sexta-feira.
Folha - Por que o sr. acha que os
EUA caminham para a recessão?
Brian Wesbury - Porque desaquecer suavemente uma economia crescendo no maior período
de expansão da história é como
pousar um avião Cessna no meio
de um furacão. De vez em quando
alguém consegue, mas, na maioria das vezes, o resultado é um desastre.
Folha - Sim, mas não é melhor
pousar numa tempestade do que
deixar o avião explodir?
Wesbury - Não havia bomba
dentro do avião. A inflação está
controlada e há superávit fiscal
nas contas do governo.
Folha - Havia pelo menos uma
bomba dentro da Nasdaq...
Wesbury - As ações sobrevalorizadas acabariam caindo sem um
crash da economia. Além disso, se
o objetivo de Greenspan era desinflar as Bolsas, aí sim sua política foi enviesada.
Folha - Quando o sr. acha que haverá recessão?
Wesbury - O Fed já percebeu que
os juros subiram exageradamente. Portanto, acredito que um corte virá logo, não neste mês, mas ao
final de janeiro. Acho que poderá
haver redução do PIB no primeiro
ou no segundo trimestres de 2001.
Folha - E essa recessão será prolongada?
Wesbury - Não. O Fed deverá
cortar os juros ao longo do ano,
enquanto for percebendo a queda
no nível de atividades. Minha previsão é que os juros estarão em
5,5% ao final de 2001.
Folha - Na sua opinião, qual é o
maior sinal de que o Fed exagerou?
Wesbury - Muitos. As encomendas de bens duráveis caíram 5,5%
em outubro e as de bens de capital, 0,5%, a terceira queda em quatro meses. A venda de casas usadas caiu 3,9% (2,3% em setembro). Os pedidos de auxílio-desemprego na semana até 25 de
novembro subiram para seu mais
alto nível em dois anos e meio.
Folha - Mas os setores de alta tecnologia continuam em expansão...
Wesbury - Sim, mas não como
no primeiro semestre. Semicondutores e computadores continuam sendo o lado forte da economia, mas não estão sólidos a
ponto de segurar outros setores.
Folha - O que ocorreria na hipótese de um "hard-landing'?
Wesbury - A oportunidade perdida seria enorme. Num crescimento real de 5% da economia, o
PIB real atingiria US$ 15,3 trilhões
em 2010. Crescendo a 3,5%, chegaria apenas a US$ 13,2 trilhões e,
a 2%, a apenas US$ 11,4 trilhões. O
impacto nas contas do governo
federal é enorme. Uma perda de
US$ 10 trilhões em produção reduziria as receitas do governo em
US$ 2 trilhões. Esses números são
muito grandes para serem ignorados pelo Fed.
(MARCIO AITH)
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