São Paulo, domingo, 03 de dezembro de 2000

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A ÁGUIA POUSOU
"BC dos EUA exagerou, e recessão vem aí"

Para o economista Brian Wesbury, alta excessiva dos juros fatalmente levará à desaceleração econômica
DE WASHINGTON

Analistas acham que o principal mérito do economista e investidor Brian Wesbury é que ele criticou a política monetária de Alan Greenspan quando ninguém ousava desafiar conceitualmente o presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano).
Ex-economista-chefe da principal comissão econômica do Congresso dos EUA, Wesbury é hoje um dos donos da corretora Griffin, Kubik, Stephens & Thompson, baseada em Chicago, e tornou-se um dos principais críticos de Greenspan nos EUA.
Em 99, Wesbury dizia que a política monetária do Fed estava equivocada. Agora, sustenta que dificilmente escapa da recessão.
"A economia norte-americana tem o potencial de crescer 5% ao ano sem criar inflação. Mas, por acreditar que esse crescimento deve ficar perto de 3,5%, o Fed tentou por todos os meios adaptar o ritmo da atividade econômica a essa visão míope."
Wesbury lidera o grupo de investidores e analistas (que formam uma minoria) segundo os quais o Fed exagerou na dose.
O raciocínio básico de Wesbury é o de que alguns setores que não precisavam entrar no vermelho já estão em recessão mesmo sem que o último aumento de juros do Fed (de 0,5 ponto percentual, em maio) tenha ainda surtido efeito sobre a economia.
A Folha expôs alguns dos argumentos de Wesbury a Roberto Rigobon, professor do MIT (Massachusetts Institute of Technology) e um dos maiores defensores de Greenspan.
"Esse é o raciocínio de quem não vê a economia como um todo", disse ele. "Em política monetária, deve-se agir antes que a recessão e a inflação apareçam, e é isso que Greenspan fez."
Wesbury e Rigobon concordam que o último aumento dos juros de Greenspan foi exagerado, embora Rigobon considere esse tipo de exagero como inevitáveis em processos de desaquecimento. Wesbury o considerou um erro.
Rigobon também não descarta uma recessão nos EUA. "Mas se ela ocorrer, não será por culpa do Fed, e sim do cenário externo, do fraco desempenho da Europa, do Japão ou do petróleo."
A seguir, a entrevista de Wesbury, por telefone, na sexta-feira.

Folha - Por que o sr. acha que os EUA caminham para a recessão?
Brian Wesbury -
Porque desaquecer suavemente uma economia crescendo no maior período de expansão da história é como pousar um avião Cessna no meio de um furacão. De vez em quando alguém consegue, mas, na maioria das vezes, o resultado é um desastre.

Folha - Sim, mas não é melhor pousar numa tempestade do que deixar o avião explodir?
Wesbury -
Não havia bomba dentro do avião. A inflação está controlada e há superávit fiscal nas contas do governo.

Folha - Havia pelo menos uma bomba dentro da Nasdaq...
Wesbury -
As ações sobrevalorizadas acabariam caindo sem um crash da economia. Além disso, se o objetivo de Greenspan era desinflar as Bolsas, aí sim sua política foi enviesada.

Folha - Quando o sr. acha que haverá recessão?
Wesbury -
O Fed já percebeu que os juros subiram exageradamente. Portanto, acredito que um corte virá logo, não neste mês, mas ao final de janeiro. Acho que poderá haver redução do PIB no primeiro ou no segundo trimestres de 2001.

Folha - E essa recessão será prolongada?
Wesbury -
Não. O Fed deverá cortar os juros ao longo do ano, enquanto for percebendo a queda no nível de atividades. Minha previsão é que os juros estarão em 5,5% ao final de 2001.

Folha - Na sua opinião, qual é o maior sinal de que o Fed exagerou?
Wesbury -
Muitos. As encomendas de bens duráveis caíram 5,5% em outubro e as de bens de capital, 0,5%, a terceira queda em quatro meses. A venda de casas usadas caiu 3,9% (2,3% em setembro). Os pedidos de auxílio-desemprego na semana até 25 de novembro subiram para seu mais alto nível em dois anos e meio.

Folha - Mas os setores de alta tecnologia continuam em expansão...
Wesbury -
Sim, mas não como no primeiro semestre. Semicondutores e computadores continuam sendo o lado forte da economia, mas não estão sólidos a ponto de segurar outros setores.

Folha - O que ocorreria na hipótese de um "hard-landing'?
Wesbury -
A oportunidade perdida seria enorme. Num crescimento real de 5% da economia, o PIB real atingiria US$ 15,3 trilhões em 2010. Crescendo a 3,5%, chegaria apenas a US$ 13,2 trilhões e, a 2%, a apenas US$ 11,4 trilhões. O impacto nas contas do governo federal é enorme. Uma perda de US$ 10 trilhões em produção reduziria as receitas do governo em US$ 2 trilhões. Esses números são muito grandes para serem ignorados pelo Fed. (MARCIO AITH)


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