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São Paulo, quarta-feira, 03 de dezembro de 2003

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ANO DO DRAGÃO

Reajustes respondem por parte da inflação

Correção de tarifa pública pode limitar espaço para corte de juros

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Os reajustes das tarifas públicas devem responder por 2,5 pontos percentuais da meta de inflação do próximo ano, fixada em 5,5% pelo governo. Isso significa que sobrariam 3,0 pontos para a variação dos preços livres, fato que diminuiria o espaço para a queda de juros pelo BC (Banco Central).
Na avaliação de Alexandre Póvoa, do Banco Modal, a combinação do regime de metas de inflação com um sistema que garante a indexação das tarifas públicas por índices corrigidos pela variação do dólar é um dos fatores que obrigam o Brasil a ter uma taxa de juro real mais alta que a média mundial. Isso porque a correção dos chamados preços administrados compromete uma parte considerável da meta de inflação, exigindo maior rigor do BC no controle dos demais preços.
O analista estima que o IPCA vai fechar 2003 em 9,5%, 1 ponto percentual acima da meta de 8,5% estabelecida pelo BC. Os preços administrados devem ser responsáveis por 3,9 pontos percentuais do índice. Os livres devem responder por 5,6 pontos percentuais.
De acordo com o sistema de metas de inflação, o BC regula a taxa de juros com o objetivo de atingir a meta fixada para o ano. Quanto mais distantes os preços estiverem dela, maiores tendem a ser os juros. As taxas altas inibem o consumo, levam à retração da economia e, em consequência, à queda de preços.
Ricardo Denadai, da LCA Consultores, acredita que a indexação das tarifas em um sistema de metas de inflação dificulta a atuação do BC na redução dos juros.
Mas ele ressalta que o alto nível da taxa de juros no Brasil é definido mais por fatores estruturais, como a vulnerabilidade externa e a fragilidade fiscal. "O impacto da correção das tarifas mina um pouco o efeito da política monetária", afirma Denadai.
Alexandre Bassoli, economista-chefe do HSBC, reconhece o impacto dos preços administrados sobre os índices de inflação, mas diz não acreditar que eles sejam um fator que dificulte a queda dos juros reais no Brasil. "Não acredito que a trajetória da política monetária tivesse sido muito diferente se não houvesse a indexação desses preços", afirma.

Indexação
Tanto Bassoli quanto Denadai vêem problemas no modelo de reajuste das tarifas públicas adotado nas privatizações das estatais brasileiras. Os contratos prevêem correções pelo IGP-DI ou IGP-M, índices influenciados pela variação do dólar. "Não tem sentido, porque os custos das empresas nem sempre são afetados pelo dólar", diz Denadai.


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