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São Paulo, quarta-feira, 03 de dezembro de 2003

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MORATÓRIA

Grupo de portadores de títulos do país, em moratória há dois anos, terá encontro com secretário de Finanças

Credores farão contraproposta à Argentina

CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES

Um grupo de detentores de títulos da dívida argentina, país que está em moratória desde dezembro de 2001, deve apresentar hoje, em Nova York, uma contraproposta para a reestruturação dos débitos.
O encontro será com o secretário de Finanças argentino, Guillermo Nielsen. A Argentina cessou o pagamento aos portadores de títulos da dívida há dois anos. Em setembro deste ano, o governo fez uma proposta oficial para retomar os pagamentos, reestruturando US$ 88 bilhões.
Os credores, reunidos em um grupo (Argentine Credit Advisory Group), devem apresentar uma contraproposta que prevê a renegociação de US$ 106,7 bilhões -os US$ 18,7 bilhões de diferença equivaleriam aos juros acumulados desde o "default" e que não constam da proposta oficial de reestruturação.
Querem ainda que o governo faça um pagamento inicial aos investidores equivalente a 5% dos juros atrasados, em dinheiro, que serviria como um incentivo para a adesão à reestruturação.
A proposta do governo, apresentada em setembro, prevê três tipos de bônus para substituir os que estão em "default". O principal deles estipula um desconto de 75% no valor dos títulos, com taxa de juros entre 1% e 5% ao ano e vencimento de 8 a 20 anos.
Outro, chamado "a la par", prevê o pagamento integral do valor nominal, com juro anual de até 1,5%. Já o "quase par" oferece desconto de 30% no valor de face, com rendimento de 1% a 2% anuais. Em ambos os casos, o vencimento varia de 20 a 42 anos.
Os credores querem a oferta de três tipos de bônus, com prazos de pagamento previstos para 2014, 2018 e 2034, com um desconto de 35% no valor nominal da dívida.
O grupo é uma coalização de investidores dos EUA e do Japão. Ele busca a adesão dos demais credores -especialmente os italianos e alemães, que resistem à idéia de ter de aceitar algum tipo de desconto no valor dos títulos.
Marc Dreier, representante dos portadores de bônus que recorreram à Justiça em Nova York para reaver seus investimentos, fez pressão sobre o governo ontem para que apresente uma proposta satisfatória aos seus clientes. Disse que bens argentinos poderão ser embargados a partir de fevereiro.
O advogado representa 75 causas de credores argentinos e estrangeiros contra o país, no montante de US$ 25 milhões. Ele afirma que a proposta oficial está forçando os credores privados a recorrer à Justiça. Segundo ele, antes do fim do ano, outras 25 causas devem ser apresentadas.
O futuro dessas causas depende do juiz nova-iorquino Thomas Griesa, que, no início de novembro, condenou a Argentina a pagar US$ 700 milhões ao fundo de investimentos EM Limited. No entanto, a execução da ação, que autorizaria o embargo de bens do governo argentino no exterior, foi suspensa por 90 dias, até o final de janeiro de 2004.
O juiz acatou pleito dos advogados do governo argentino, que pediram um prazo maior para que o país avançasse na negociação internacional.
Guillermo Nielsen afirma que somente depois que forem definidos os bancos responsáveis pela organização da reestruturação (o que deve ocorrer na próxima semana) serão definidos os detalhes da oferta final do governo.


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