São Paulo, sexta-feira, 03 de dezembro de 2004

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VIZINHOS EM CRISE

Empresas brasileiras consideram negociações encerradas e ameaçam pedir ao governo que recorra à OMC

Brasil e Argentina não definem cota para TV

SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES

O setor privado de eletrodomésticos brasileiro considerou ontem encerradas, sem acordo, as negociações sobre a participação do país no mercado argentino de televisores no próximo ano.
"Agora deixamos ao arbítrio do governo. As empresas brasileiras que se sentirem prejudicadas podem entrar na Justiça argentina com ações por lucros cessantes", disse o presidente da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), Paulo Saab.
A proposta apresentada pelo empresariado argentino em reunião ontem em Buenos Aires, na terceira rodada de negociações sobre TVs, foi que o Brasil limitasse suas exportações no ano que vem a 60 mil unidades (num mercado estimado de 1 milhão).
O Brasil propôs autolimitar-se em 160 mil unidades e requisitou a retirada imediata da sobretaxa de 21% que a Argentina aplica desde julho passado aos produtos da Zona Franca de Manaus.
Os argentinos não concordam em retirar a sobretaxa, que tem prazo até fevereiro para ser ratificada (por quatro anos) ou suspensa, de acordo com o resultado das investigações feitas pela Argentina de suposta invasão de seu mercado pelo produto brasileiro.

Expectativa negativa
Saab diz que as investigações "estão eivadas de erros jurídicos e administrativos" e antevê resultado negativo para o Brasil. "Vamos pedir a abertura de um painel [comitê de arbitragem] na OMC (Organização Mundial do Comércio) sobre a questão." Caso o resultado das investigações argentinas seja de fato desfavorável ao Brasil, a Eletros solicitará ao governo a abertura de processo na OMC.
Citando o recente reconhecimento da China como economia de mercado pelo governo argentino, Saab disse estranhar a atitude do empresariado do país vizinho em relação ao Brasil, seu maior sócio no Mercosul. "Se eles não têm escala no mercado interno, que mercado estão visando?"

Máquinas de lavar
Anteontem, negociadores da Eletros se reuniram com seus pares argentinos para tratar da exportação de lavadoras para o país vizinho no próximo ano. A reunião também terminou sem que houvesse um acordo.
Os argentinos propuseram que o Brasil limitasse sua participação no mercado de lavadoras a 35% em 2005. Fornecedores de outros países teriam 11% e os fabricantes locais ficariam com os restantes 54%. "Minhas representantes estavam absolutamente dispostas a negociar, não a aceitar imposições", afirmou Saab.
Quando instituiu as medidas que teriam o objetivo de proteger a indústria argentina, o ministro da Economia, Roberto Lavagna, disse que o Brasil concentrava 95% das importações de geladeiras, 70% das de máquinas de lavar e 100% das de fogões.


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