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VIZINHOS EM CRISE
Empresas brasileiras consideram negociações encerradas e ameaçam pedir ao governo que recorra à OMC
Brasil e Argentina não definem cota para TV
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
O setor privado de eletrodomésticos brasileiro considerou ontem
encerradas, sem acordo, as negociações sobre a participação do
país no mercado argentino de televisores no próximo ano.
"Agora deixamos ao arbítrio do
governo. As empresas brasileiras
que se sentirem prejudicadas podem entrar na Justiça argentina
com ações por lucros cessantes",
disse o presidente da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes
de Produtos Eletroeletrônicos),
Paulo Saab.
A proposta apresentada pelo
empresariado argentino em reunião ontem em Buenos Aires, na
terceira rodada de negociações
sobre TVs, foi que o Brasil limitasse suas exportações no ano que
vem a 60 mil unidades (num mercado estimado de 1 milhão).
O Brasil propôs autolimitar-se
em 160 mil unidades e requisitou
a retirada imediata da sobretaxa
de 21% que a Argentina aplica
desde julho passado aos produtos
da Zona Franca de Manaus.
Os argentinos não concordam
em retirar a sobretaxa, que tem
prazo até fevereiro para ser ratificada (por quatro anos) ou suspensa, de acordo com o resultado
das investigações feitas pela Argentina de suposta invasão de seu
mercado pelo produto brasileiro.
Expectativa negativa
Saab diz que as investigações
"estão eivadas de erros jurídicos e
administrativos" e antevê resultado negativo para o Brasil. "Vamos
pedir a abertura de um painel [comitê de arbitragem] na OMC (Organização Mundial do Comércio)
sobre a questão." Caso o resultado das investigações argentinas
seja de fato desfavorável ao Brasil,
a Eletros solicitará ao governo a
abertura de processo na OMC.
Citando o recente reconhecimento da China como economia
de mercado pelo governo argentino, Saab disse estranhar a atitude
do empresariado do país vizinho
em relação ao Brasil, seu maior
sócio no Mercosul. "Se eles não
têm escala no mercado interno,
que mercado estão visando?"
Máquinas de lavar
Anteontem, negociadores da
Eletros se reuniram com seus pares argentinos para tratar da exportação de lavadoras para o país
vizinho no próximo ano. A reunião também terminou sem que
houvesse um acordo.
Os argentinos propuseram que
o Brasil limitasse sua participação
no mercado de lavadoras a 35%
em 2005. Fornecedores de outros
países teriam 11% e os fabricantes
locais ficariam com os restantes
54%. "Minhas representantes estavam absolutamente dispostas a
negociar, não a aceitar imposições", afirmou Saab.
Quando instituiu as medidas
que teriam o objetivo de proteger
a indústria argentina, o ministro
da Economia, Roberto Lavagna,
disse que o Brasil concentrava
95% das importações de geladeiras, 70% das de máquinas de lavar
e 100% das de fogões.
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