São Paulo, sexta-feira, 03 de dezembro de 2004

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AVANÇO GLOBAL

Títulos da dívida brasileira lideram preferência dos investidores internacionais no terceiro trimestre, aponta relatório

Procura por papéis de emergentes sobe 35%

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Livres dos temores de uma elevação abrupta das taxas de juros nos Estados Unidos e com a perspectiva de retornos mais atraentes, os investidores em títulos da dívida dos países emergentes voltaram às compras.
No terceiro trimestre de 2004, o volume negociado mo mercado de dívidas ficou em US$ 1,342 trilhão, segundo relatório da EMTA, organização que compila dados de investidores internacionais. A cifra representa um acréscimo de 35% sobre o trimestre anterior, no qual houve uma movimentação de US$ 997 bilhões.
Os papéis brasileiros lideram a preferência dos investidores internacionais e representam um terço desse volume, com US$ 448 bilhões. O valor mostra uma alta de 38% em relação ao segundo trimestre deste ano. O México aparece em segundo lugar na proporção de títulos negociados, com 23% do total. A Rússia aparece em terceiro com uma fatia de 8%.
Arturo Porzecanski, chefe de pesquisas de mercados emergentes do ABN Amro, em Nova York, afirma que as condições globais têm favorecido os títulos desses países. Na sua avaliação, as possibilidades de retorno em papéis da Europa, dos Estados Unidos e do Japão caíram fortemente ao longo deste ano. Somado a isso, há também o cenário de um crescimento menos expressivo dos países desenvolvidos. A OCDE (organização que reúne as economias mais ricas do mundo) reviu a sua previsão de expansão da economia de seus membros de 3,3% para 2,9% no próximo ano.
Esse ambiente favorece a atratividade dos emergentes, mas Porzecanski também enumera fatores internos. "Houve muitas notícias reconfortantes nos próprios mercados emergentes, sobretudo com uma corrente de elevações dos "ratings" [notas de crédito] de países mais arriscados como Brasil, Turquia e Venezuela", diz.
Em relatório, o economista do ABN Amro avalia a economia brasileira."Agora que a economia cresce vigorosamente, que o desemprego está caindo e que a cotação do real está estável, há menos razão para acreditar que o presidente Lula da Silva vai abandonar a sua política econômica e mudar de rumo", diz o texto. No documento para investidores, Porzecanski aponta o Brasil como um dos mercados mais atraentes no próximo ano.
A corretora internacional Schroders é outra que argumenta que o desempenho dos emergentes em 2005 deve continuar positivo, especialmente para o Brasil. "Nossa melhor posição de avaliação do mercado é no Brasil, onde as valorizações são atraentes e onde o crescimento parece bem apoiado em 2005", avaliou em relatório. A companhia administra carteiras que totalizam 99,8 bilhões libras [R$ 521 bilhões].
Depois de um período de alta no começo deste ano, os mercados emergentes passaram por um período de forte turbulência em abril. Na ocasião, especulava-se que o crescimento da economia dos EUA levaria a uma elevação das taxas de juros praticadas pelo Fed (banco central norte-americano). Diante da possibilidade de juros mais altos nos EUA, os títulos dos países emergentes, considerados de maior risco, viveram uma saída de investidores.
Agora, há um maior grau de otimismo, mas com algumas reservas. "Se o declínio do dólar se tornar desordenado e a turbulência nos mercados de câmbio se espalhar, uma venda de títulos da dívida pode estar no horizonte", diz estudo da EIU (Economist Intelligence Unit). A EIU também aponta a queda dos preços das commodities como fator de risco.


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