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Economistas dizem que queda pode ser menor
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A economia pode não ter caído
tanto no terceiro trimestre como
sugere o número do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Vários economistas
concordam com o argumento do
BC (Banco Central), que diz que
problemas metodológicos tornam a estimativa do PIB brasileiro um pouco mais volátil do que a
economia realmente é.
A despeito disso, mesmo entre
os que concordam com o BC há
quem afirme que é hora de baixar
os juros mais rapidamente. É o caso, por exemplo, de Edmar Bacha,
consultor do banco Itaú BBA.
"A medida do PIB agrícola é
realmente um pouco complicada,
traz surpresas", diz, fazendo coro
com o BC quando criticou a metodologia do IBGE para a mensuração da safra agrícola e a maneira
de considerá-la no cálculo do PIB.
Não há dúvida quanto a um
ponto: a política de juros fez a economia desacelerar, como era esperado. Pode não ter sido responsável por toda a queda (1,2%) registrada pela estatística do IBGE,
mas tem algum impacto. Bacha,
por exemplo, diz que, mesmo antes da divulgação do número,
acreditava que era necessário acelerar a queda da taxa de juros.
O ex-presidente do BC Gustavo
Franco diz que há "circunstâncias
atenuantes que devem ser consideradas" na hora de analisar a
queda do PIB no terceiro trimestre. Uma delas é a maneira do cálculo, "que todos os economistas
que conhecem as contas nacionais sabem que tem problemas".
Franco diz que não há como
evitar o debate gerado pelo resultado negativo. "Os populistas de
plantão aparecerão com o discurso de que os juros podem cair
com uma canetada." Mas a preocupação com os efeitos negativos
da política monetária gera também um debate positivo sobre as
razões de os juros serem tão altos
no Brasil, argumenta Franco.
O ex-ministro Pedro Malan diz
que "temos de olhar com mais
cuidado, é uma discussão para a
qual precisamos de tempo". Malan não faz avaliação da política
monetária do BC, mas indiretamente sugere que a autoridade
monetária pode ser mais flexível.
"O horizonte de tempo [que o
BC considera para atingir a meta
de inflação] não precisa ser o calendário. Você pode atingir a meta em períodos mais longos, em 18
meses, por exemplo."
Os economistas participaram
ontem de seminário internacional
do NBER (ONG norte-americana
que agrega pesquisadores de economia) na PUC do Rio de Janeiro.
Afonso Bevilaqua, diretor de
Política Econômica do BC e pivô
da polêmica entre o BC e o IBGE
sobre o PIB, também participou
do seminário, mas saiu apressado
e recusou-se a fazer comentários
sobre o PIB para os jornalistas que
participavam do evento.
Importância política
Segundo o professor da FGV
Rubens Cysne, a polêmica sobre o
resultado do PIB não é importante do ponto de vista econômico, e
sim político.
"Do ponto de vista econômico,
o que interessa é o crescimento da
economia ao final de um, dois ou
cinco anos. A discussão está mal
focada. O que importa é que os
outros países emergentes estão
crescendo ao longo dos últimos
anos com taxas maiores."
Na avaliação de Cecília Hoff,
economista do grupo de conjuntura da UFRJ, a crítica sobre a metodologia do PIB é pertinente,
mas já deveria ter sido feita há
mais tempo.
"O PIB agrícola é um problema
sempre, é uma surpresa, não se
sabe exatamente os deflatores.
Quando cai bastante, da forma
como caiu no terceiro trimestre,
volta para os holofotes. O BC está
chamando a atenção para isso
porque quer se isentar dessa queda, mas, deixando de lado as
questões metodológicas, o fato é
que houve o desaquecimento da
economia no terceiro trimestre."
Para Estêvão Kopschitz, economista do Ipea, órgão ligado ao Ministério do Planejamento, o resultado representou uma "mensagem clara de desaquecimento
econômico".
Colaborou Janaina Lage, da Folha Online, no Rio
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