São Paulo, sábado, 03 de dezembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Economistas dizem que queda pode ser menor

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A economia pode não ter caído tanto no terceiro trimestre como sugere o número do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Vários economistas concordam com o argumento do BC (Banco Central), que diz que problemas metodológicos tornam a estimativa do PIB brasileiro um pouco mais volátil do que a economia realmente é.
A despeito disso, mesmo entre os que concordam com o BC há quem afirme que é hora de baixar os juros mais rapidamente. É o caso, por exemplo, de Edmar Bacha, consultor do banco Itaú BBA.
"A medida do PIB agrícola é realmente um pouco complicada, traz surpresas", diz, fazendo coro com o BC quando criticou a metodologia do IBGE para a mensuração da safra agrícola e a maneira de considerá-la no cálculo do PIB.
Não há dúvida quanto a um ponto: a política de juros fez a economia desacelerar, como era esperado. Pode não ter sido responsável por toda a queda (1,2%) registrada pela estatística do IBGE, mas tem algum impacto. Bacha, por exemplo, diz que, mesmo antes da divulgação do número, acreditava que era necessário acelerar a queda da taxa de juros.
O ex-presidente do BC Gustavo Franco diz que há "circunstâncias atenuantes que devem ser consideradas" na hora de analisar a queda do PIB no terceiro trimestre. Uma delas é a maneira do cálculo, "que todos os economistas que conhecem as contas nacionais sabem que tem problemas".
Franco diz que não há como evitar o debate gerado pelo resultado negativo. "Os populistas de plantão aparecerão com o discurso de que os juros podem cair com uma canetada." Mas a preocupação com os efeitos negativos da política monetária gera também um debate positivo sobre as razões de os juros serem tão altos no Brasil, argumenta Franco.
O ex-ministro Pedro Malan diz que "temos de olhar com mais cuidado, é uma discussão para a qual precisamos de tempo". Malan não faz avaliação da política monetária do BC, mas indiretamente sugere que a autoridade monetária pode ser mais flexível.
"O horizonte de tempo [que o BC considera para atingir a meta de inflação] não precisa ser o calendário. Você pode atingir a meta em períodos mais longos, em 18 meses, por exemplo."
Os economistas participaram ontem de seminário internacional do NBER (ONG norte-americana que agrega pesquisadores de economia) na PUC do Rio de Janeiro.
Afonso Bevilaqua, diretor de Política Econômica do BC e pivô da polêmica entre o BC e o IBGE sobre o PIB, também participou do seminário, mas saiu apressado e recusou-se a fazer comentários sobre o PIB para os jornalistas que participavam do evento.

Importância política
Segundo o professor da FGV Rubens Cysne, a polêmica sobre o resultado do PIB não é importante do ponto de vista econômico, e sim político.
"Do ponto de vista econômico, o que interessa é o crescimento da economia ao final de um, dois ou cinco anos. A discussão está mal focada. O que importa é que os outros países emergentes estão crescendo ao longo dos últimos anos com taxas maiores."
Na avaliação de Cecília Hoff, economista do grupo de conjuntura da UFRJ, a crítica sobre a metodologia do PIB é pertinente, mas já deveria ter sido feita há mais tempo.
"O PIB agrícola é um problema sempre, é uma surpresa, não se sabe exatamente os deflatores. Quando cai bastante, da forma como caiu no terceiro trimestre, volta para os holofotes. O BC está chamando a atenção para isso porque quer se isentar dessa queda, mas, deixando de lado as questões metodológicas, o fato é que houve o desaquecimento da economia no terceiro trimestre."
Para Estêvão Kopschitz, economista do Ipea, órgão ligado ao Ministério do Planejamento, o resultado representou uma "mensagem clara de desaquecimento econômico".


Colaborou Janaina Lage, da Folha Online, no Rio

Texto Anterior: Metodologia gera diferenças na agricultura
Próximo Texto: Marcha a ré: Inflação cai em ritmo "ideal", diz Meirelles
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.