São Paulo, segunda-feira, 03 de dezembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sem Serra e Kassab, estréia de tecnologia em SP vira evento político do Planalto

EM SÃO PAULO

O discurso do governo de que evitaria transformar a estréia da TV digital no Brasil em um evento político na prática não se confirmou. Ausentes o governador José Serra (PSDB) e o prefeito Gilberto Kassab (DEM), os holofotes se voltaram para a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Ela abriu a transmissão do evento em rede nacional, e não o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo a Presidência, a prerrogativa concedida à ministra se deu pelo fato de ela presidir o Grupo de Trabalho da TV Digital há dois anos. Dilma é citada entre os possíveis candidatos à sucessão de Lula.
O evento foi promovido por emissoras de TV e indústrias, que convidaram o prefeito e o governador. Nos bastidores, a informação era de que desistiram porque não teriam direito à palavra e seriam, portanto, ofuscados pelo aparato federal.
A assessoria de Serra, entretanto, disse que ele não foi porque teve um compromisso familiar, que não chegou a confirmar presença e que sua ausência não causou "nenhuma repercussão". A assessoria de Kassab não ligou de volta.
"Eu achei curioso [a ausência de ambos]", comentou o deputado Jorge Bittar (PT-RJ). "Foi uma escolha dele [Serra]. Daqui a dez anos vamos estar comemorando o fim do sistema analógico, e ele e o Kassab não vieram para poder lembrar o momento", complementou Walter Pinheiro (PT-BA), um dos poucos parlamentares presentes. Da oposição estava Júlio Semeghini (PSDB-SP), presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara.
O palco da cerimônia se resumiu a dirigentes das entidades de classe (Abert e Abra), jornalistas representantes de seis emissoras (SBT, Record, Bandeirantes, Rede TV!, Cultura e TV Globo), o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e a equipe do presidente Lula. Além do próprio, estavam a primeira-dama, Marisa Letícia, e os ministros Franklin Martins (Comunicação Social), Hélio Costa (Comunicações) e Dilma Rousseff.
Em cadeia nacional, só o governo falou. Costa confirmou à Folha que estavam previstos discursos de João Carlos Saad (presidente da Abra) e Daniel Pimentel (presidente da Abert), mas, segundo ele, os dois abriram mão de falar. Os empresários Roberto Irineu Marinho e Silvio Santos ficaram em um camarote fora da vista do público, assim como Alexandre Raposo, presidente da Record.
Lidos em teleprompter, os discursos de Dilma, Costa e Lula tiveram tom ufanista. O presidente, por exemplo, disse que "logo será possível assistir televisão caminhando na rua, sentado num banco de praça ou se deslocando para o trabalho".
Dilma falou em "mudança de paradigma" e no significado "social e cultural" da novidade. E acrescentou: "Toda a população terá gradativamente a programação gratuita da TV com alta qualidade, de sua casa ou do celular. Dentro do ônibus ou do táxi. Sem fantasmas nem chuviscos. Pelo telefone ou pelo seu aparelho de TV."
A cerimônia teve início às 20h, com apresentadores de telejornais que leram textos preparados pela divulgação do evento, e não pela área jornalística das emissoras. Às 20h30, entrou no ar a cadeia nacional. Após a cerimônia, a cantora Maria Rita deu um show para um salão praticamente vazio. A platéia foi embora assim que Lula deixou o palco.
(LETÍCIA SANDER E ELVIRA LOBATO)


Texto Anterior: Teleprompter falha e Lula tem de improvisar
Próximo Texto: Consumidores buscam informações nas lojas, mas aguardam preço cair
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.