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Sem Serra e Kassab, estréia de tecnologia em SP vira evento político do Planalto
EM SÃO PAULO
O discurso do governo de que
evitaria transformar a estréia
da TV digital no Brasil em um
evento político na prática não
se confirmou. Ausentes o governador José Serra (PSDB) e o
prefeito Gilberto Kassab
(DEM), os holofotes se voltaram para a ministra Dilma
Rousseff (Casa Civil). Ela abriu
a transmissão do evento em rede nacional, e não o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo a Presidência, a
prerrogativa concedida à ministra se deu pelo fato de ela
presidir o Grupo de Trabalho
da TV Digital há dois anos. Dilma é citada entre os possíveis
candidatos à sucessão de Lula.
O evento foi promovido por
emissoras de TV e indústrias,
que convidaram o prefeito e o
governador. Nos bastidores, a
informação era de que desistiram porque não teriam direito
à palavra e seriam, portanto,
ofuscados pelo aparato federal.
A assessoria de Serra, entretanto, disse que ele não foi porque teve um compromisso familiar, que não chegou a confirmar presença e que sua ausência não causou "nenhuma repercussão". A assessoria de
Kassab não ligou de volta.
"Eu achei curioso [a ausência
de ambos]", comentou o deputado Jorge Bittar (PT-RJ). "Foi
uma escolha dele [Serra]. Daqui a dez anos vamos estar comemorando o fim do sistema
analógico, e ele e o Kassab não
vieram para poder lembrar o
momento", complementou
Walter Pinheiro (PT-BA), um
dos poucos parlamentares presentes. Da oposição estava Júlio Semeghini (PSDB-SP), presidente da Comissão de Ciência
e Tecnologia da Câmara.
O palco da cerimônia se resumiu a dirigentes das entidades
de classe (Abert e Abra), jornalistas representantes de seis
emissoras (SBT, Record, Bandeirantes, Rede TV!, Cultura e
TV Globo), o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e a equipe do presidente
Lula. Além do próprio, estavam
a primeira-dama, Marisa Letícia, e os ministros Franklin
Martins (Comunicação Social),
Hélio Costa (Comunicações) e
Dilma Rousseff.
Em cadeia nacional, só o governo falou. Costa confirmou à
Folha que estavam previstos
discursos de João Carlos Saad
(presidente da Abra) e Daniel
Pimentel (presidente da
Abert), mas, segundo ele, os
dois abriram mão de falar. Os
empresários Roberto Irineu
Marinho e Silvio Santos ficaram em um camarote fora da
vista do público, assim como
Alexandre Raposo, presidente
da Record.
Lidos em teleprompter, os
discursos de Dilma, Costa e Lula tiveram tom ufanista. O presidente, por exemplo, disse que
"logo será possível assistir televisão caminhando na rua, sentado num banco de praça ou se
deslocando para o trabalho".
Dilma falou em "mudança de
paradigma" e no significado
"social e cultural" da novidade.
E acrescentou: "Toda a população terá gradativamente a programação gratuita da TV com
alta qualidade, de sua casa ou
do celular. Dentro do ônibus ou
do táxi. Sem fantasmas nem
chuviscos. Pelo telefone ou pelo seu aparelho de TV."
A cerimônia teve início às
20h, com apresentadores de telejornais que leram textos preparados pela divulgação do
evento, e não pela área jornalística das emissoras. Às 20h30,
entrou no ar a cadeia nacional.
Após a cerimônia, a cantora
Maria Rita deu um show para
um salão praticamente vazio. A
platéia foi embora assim que
Lula deixou o palco.
(LETÍCIA SANDER E ELVIRA LOBATO)
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