São Paulo, sexta-feira, 04 de janeiro de 2002

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ARTIGO

Histórica, união econômica e monetária ainda está longe de completa

DO "FINANCIAL TIMES"

Finalmente. Depois de décadas como sonho, dez anos como plano e três como moeda virtual, o euro chegou.
Os detalhes prosaicos da introdução das cédulas e moedas de euro ocultam sua importância histórica. É um triunfo da vontade política sobre as objeções práticas. Seu lançamento físico é o testamento de uma geração de líderes visionários que decidiram seguir o seu sonho, muitas vezes contra as tendências da opinião pública. A reputação de Helmut Kohl, ex-chanceler (primeiro-ministro) da Alemanha, e do ex-presidente francês François Mitterrand se dissipou, mas as realizações dos dois, e de Jacques Delors, então presidente da Comissão Européia e líder intelectual do projeto, são indisputáveis.
Complicações ainda são prováveis, à medida que as notas e moedas do euro chegam aos mercados e as velhas divisas são retiradas. Mas as dificuldades não se estenderão por muito tempo. As preparações técnicas, sob a mão firme do Banco Central Europeu, foram impressionantes. A união econômica e monetária está longe de completa, no entanto. Resta muito a fazer.
Primeiro, o BCE foi modelado na estrutura que o Bundesbank (banco central alemão) então empregava, em um momento em que independência absoluta e uma política monetária orientada à estabilidade eram consideradas as melhores garantias de credibilidade. Esses princípios básicos continuam corretos. Mas seria útil que as autoridades se envolvessem mais na discussão das metas inflacionárias e se comprometessem mais com elas.
Segundo, a estrutura de política monetária do BCE terá de ser remodelada a fim de atender aos novos membros. O processo de decisão consensual em um conselho diretivo com 27 membros poderia reduzir a agilidade da política monetária.
Terceiro, o BCE e os ministros das Finanças precisam restabelecer seu pacto: taxas de juros mais baixas em troca de Orçamentos equilibrados ao longo do ciclo econômico e de reformas estruturais que aumentem o potencial de crescimento. Os governos da zona do euro precisam fazer mais para tornar suas economias flexíveis para enfrentar a união monetária a longo prazo. A menos que haja medidas que reduzam o custo das populações envelhecidas da Europa para os Orçamentos públicos e que tragam aumento no nível de emprego, o peso dessa tendência retardará o crescimento.
Quarto, a adesão ao euro ficou incompleta. A Suécia talvez decida aderir em breve. Isso talvez faça com que a Dinamarca reconsidere. O governo de Tony Blair decidirá em 18 meses se os britânicos cumprirão os critérios econômicos predeterminados. Ver o euro em uso talvez ajude a muar as percepções no Reino Unido. Mas o argumento político em favor da adesão precisa ser apresentado, e a discussão, vencida.
A União Européia como um todo será julgada com base no sucesso ou fracasso do euro.
Muito depende do desempenho econômico subjacente. Um euro que produza crescimento e baixa inflação ajudaria a restaurar a confiança nas instituições da União Européia. Ofereceria um elo de coesão para a união. Mas, se a moeda vier a significar estagnação, a União levará a culpa.
O euro não é simplesmente um instrumento de transações monetárias. É também um símbolo dos propósitos comuns europeus. E isso traz um risco, além do desafio. A nova moeda agora se tornou tão irrevogável quanto possível para uma invenção humana dessa natureza. É preciso que seja um sucesso. Não há alternativa sã.


Tradução de Paulo Migliacci


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