|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crise diminui pedidos de divórcio nos EUA
Com medo dos custos do processo e da partilha dos imóveis, cujos valores estão depreciados, casais se mantêm unidos
Entre os já divorciados, briga em tempos de crise é para ver quem fica com a casa e com dívidas de hipoteca após a partilha dos bens
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
Há uma piada nos EUA que
diz que o motivo pelo qual um
divórcio é tão caro é que ele
"vale o preço". Para um crescente número de casais norte-
-americanos, porém, esse preço
se tornou alto demais. Especialistas relatam que a crise econômica está forçando casais a
permanecerem juntos, e, para
quem insiste na separação, a
briga agora é para ver quem não
vai ficar com a casa -e as dívidas que vêm com ela.
A Academia Americana de
Advogados Matrimoniais
(AAML, na sigla em inglês) diz
que, em uma proporção de quase 2 para 1, seus afiliados assistem a uma queda em pedidos
de divórcios devido à recessão.
"A última vez que vi uma situação assim foi no fim dos
anos 1970 e começo dos anos
1980", afirmou Gary Nickelson,
presidente da AAML. "Quando
[a crise] chega ao lar, em múltiplos aspectos as pessoas começam a temer o futuro, e isso as
paralisa", continua.
Foi o que aconteceu com
uma das clientes do advogado
Dennis Lorance, do condado de
Gaston, na Carolina do Norte.
Em um casamento infeliz, ela
suspeitava que o marido a traía.
Mas a fábrica que a emprega diminuiu o número de horas pagas e, ao encarar os custos de
um divórcio e as contas de uma
vida sozinha, a mulher preferiu
seguir casada.
"Vários clientes estão simplesmente pobres demais para
se divorciar", disse Lorance ao
jornal "The Charlotte Observer". "Obviamente é mais caro
manter duas casas separadas
do que dividir uma. Então as
pessoas suportam a situação."
Na Carolina do Norte, houve
36,2 mil pedidos de divórcio até
30 de novembro passado -o
menor número da última década. O total em 2007 foi de 39
mil processos (não necessariamente finalizados).
Não há dados nacionais consolidados para o ano, mas a tendência é a mesma em vários Estados. Em Nova York, por
exemplo, 10.767 divórcios foram finalizados entre janeiro e
março de 2008, contra 12.979
no mesmo período em 2007,
segundo o Centro Nacional de
Estatísticas de Saúde.
Preço das casas
Outro problema para os casamentos falidos é a situação do
mercado imobiliário. Enquanto a casa costumava ser o bem
mais valioso de um casal, hoje
ninguém sabe dizer o valor real
de um imóvel, o que atrasa a separação das propriedades. Para
piorar a situação, segundo o site Moody's.com, 1 em cada 6 casas vale hoje menos do que a
sua dívida imobiliária.
"Hoje [marido e mulher] brigam para ver quem vai acabar
com esse peso morto nas
mãos", disse Nickelson.
O advogado Lee Rosen afirmou ao "Wall Street Journal"
que a situação está fazendo
com que os casais revivam o pesadelo do filme "A Guerra dos
Roses" ("The War of the Roses", EUA, 1989), em um casal
se separa, mas continua a viver
na mesma casa.
É o caso de Janette Chamberlin e seu marido, da Pensilvânia. Eles se divorciaram há
mais de um ano, e Janette já
tem até outro namorado. Mas,
sem dinheiro para se mudar,
ambos seguem dividindo a
mesma casa, na Filadélfia.
"O que acontece em épocas
normais", diz Rosen, "é que um
compra a metade do outro na
casa." "Mas, com o nível de incerteza atual, as pessoas hesitam em investir mais em uma
propriedade cujo valor está
despencando. Agora, um mora
no andar de cima, e o outro, no
térreo", afirma.
Mas há também quem veja o
efeito da crise com otimismo. A
psicoterapeuta Robi Ludwig
disse em entrevista à NBC que
ficou aliviada quando uma de
suas pacientes resolveu salvar o
casamento. "Ela me dizia que
não suportava o marido, mas ficou sem dinheiro para se divorciar. Eles decidiram tentar ficar
juntos e isso pode ser bom, porque vejo muita gente se separando prematuramente."
Texto Anterior: Rubens Ricupero: Cavaleiros do apocalipse Próximo Texto: Recessão é "oportunidade" para ricos e infelizes Índice
|