São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2009

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Crise diminui pedidos de divórcio nos EUA

Com medo dos custos do processo e da partilha dos imóveis, cujos valores estão depreciados, casais se mantêm unidos

Entre os já divorciados, briga em tempos de crise é para ver quem fica com a casa e com dívidas de hipoteca após a partilha dos bens

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

Há uma piada nos EUA que diz que o motivo pelo qual um divórcio é tão caro é que ele "vale o preço". Para um crescente número de casais norte- -americanos, porém, esse preço se tornou alto demais. Especialistas relatam que a crise econômica está forçando casais a permanecerem juntos, e, para quem insiste na separação, a briga agora é para ver quem não vai ficar com a casa -e as dívidas que vêm com ela.
A Academia Americana de Advogados Matrimoniais (AAML, na sigla em inglês) diz que, em uma proporção de quase 2 para 1, seus afiliados assistem a uma queda em pedidos de divórcios devido à recessão.
"A última vez que vi uma situação assim foi no fim dos anos 1970 e começo dos anos 1980", afirmou Gary Nickelson, presidente da AAML. "Quando [a crise] chega ao lar, em múltiplos aspectos as pessoas começam a temer o futuro, e isso as paralisa", continua.
Foi o que aconteceu com uma das clientes do advogado Dennis Lorance, do condado de Gaston, na Carolina do Norte.
Em um casamento infeliz, ela suspeitava que o marido a traía. Mas a fábrica que a emprega diminuiu o número de horas pagas e, ao encarar os custos de um divórcio e as contas de uma vida sozinha, a mulher preferiu seguir casada.
"Vários clientes estão simplesmente pobres demais para se divorciar", disse Lorance ao jornal "The Charlotte Observer". "Obviamente é mais caro manter duas casas separadas do que dividir uma. Então as pessoas suportam a situação."
Na Carolina do Norte, houve 36,2 mil pedidos de divórcio até 30 de novembro passado -o menor número da última década. O total em 2007 foi de 39 mil processos (não necessariamente finalizados).
Não há dados nacionais consolidados para o ano, mas a tendência é a mesma em vários Estados. Em Nova York, por exemplo, 10.767 divórcios foram finalizados entre janeiro e março de 2008, contra 12.979 no mesmo período em 2007, segundo o Centro Nacional de Estatísticas de Saúde.

Preço das casas
Outro problema para os casamentos falidos é a situação do mercado imobiliário. Enquanto a casa costumava ser o bem mais valioso de um casal, hoje ninguém sabe dizer o valor real de um imóvel, o que atrasa a separação das propriedades. Para piorar a situação, segundo o site Moody's.com, 1 em cada 6 casas vale hoje menos do que a sua dívida imobiliária.
"Hoje [marido e mulher] brigam para ver quem vai acabar com esse peso morto nas mãos", disse Nickelson.
O advogado Lee Rosen afirmou ao "Wall Street Journal" que a situação está fazendo com que os casais revivam o pesadelo do filme "A Guerra dos Roses" ("The War of the Roses", EUA, 1989), em um casal se separa, mas continua a viver na mesma casa.
É o caso de Janette Chamberlin e seu marido, da Pensilvânia. Eles se divorciaram há mais de um ano, e Janette já tem até outro namorado. Mas, sem dinheiro para se mudar, ambos seguem dividindo a mesma casa, na Filadélfia.
"O que acontece em épocas normais", diz Rosen, "é que um compra a metade do outro na casa." "Mas, com o nível de incerteza atual, as pessoas hesitam em investir mais em uma propriedade cujo valor está despencando. Agora, um mora no andar de cima, e o outro, no térreo", afirma.
Mas há também quem veja o efeito da crise com otimismo. A psicoterapeuta Robi Ludwig disse em entrevista à NBC que ficou aliviada quando uma de suas pacientes resolveu salvar o casamento. "Ela me dizia que não suportava o marido, mas ficou sem dinheiro para se divorciar. Eles decidiram tentar ficar juntos e isso pode ser bom, porque vejo muita gente se separando prematuramente."


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