São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2009

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Assessor de Obama vê desempr ego em 12%

Para Robert Reich, conselheiro do presidente recém-eleito, risco da crise é elevar protecionismo

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

O desemprego nominal deve chegar a 9% no final de 2009 nos Estados Unidos (em novembro do ano passado, estava em 6,7%), mas, somando os trabalhadores em meio período e os que deixarão de procurar emprego, esse índice pode pular para 12%. Quem diz isso é Robert Reich, membro da equipe econômica de transição do governo de Barack Obama. Para o economista de Berkeley e ex-secretário do Trabalho de Bill Clinton (1993-1997), o agravamento da crise pode exacerbar o protecionismo dos países. Reich defende a criação de uma mistura de super-FMI com banco central global, que coordenaria as políticas fiscais e monetárias do mundo inteiro. Leia a entrevista exclusiva que deu à Folha, por e-mail.

 

FOLHA - O que o sr. acha que acontecerá com a economia dos Estados Unidos em 2009?
ROBERT REICH
- Uma continuação da recessão grave, com a taxa oficial de desemprego subindo a 9%. Se incluirmos todos os que trabalham em meio período e querem trabalhar em período integral e todos os que estão sem estímulo para procurar emprego, então a taxa não-oficial pulará para 12%.

FOLHA - Como isso vai afetar o resto do mundo?
REICH
- Os consumidores americanos continuarão a reduzir seus gastos, o que quer dizer que as importações dos EUA vão diminuir. Isso vai reduzir a demanda global. Os mercados de capitais americanos, por sua vez, continuarão relativamente congelados, o que vai minar a demanda ainda mais e reduzir a capacidade da política monetária de estimulá-la. O resultado vai ser uma recessão mundial aprofundada em 2009.

FOLHA - O que o presidente eleito vai fazer para diminuir a crise? E o que deveria fazer?
REICH
- Obama vai lançar um pacote de estímulo muito grande -eu estimo algo em torno de US$ 600 bilhões apenas para 2009- para aquecer a demanda. Isso é exatamente o que ele deveria fazer, e vai ter o apoio do Congresso para isso.

FOLHA - Como membro da equipe de transição, que conselho o sr. deu?
REICH
- Isso é confidencial.

FOLHA - Muito se falou sobre o legado desastroso do governo Bush na área de política externa. Na econômica não é tão desastroso?
REICH
- Infelizmente, o legado econômico de Bush é de regulação inadequada no mercado de crédito, o que contribuiu para a bolha imobiliária. Também é um legado de cortes de impostos para os americanos mais ricos, o que ajudou a aumentar a desigualdade.

FOLHA - Que tipo de capitalismo o sr. acha que vai sobrar?
REICH
- Se a crise continuar como está por mais um ano, eu duvido que veremos uma mudança fundamental no capitalismo americano. Presumindo que a economia volte a se reerguer em 2010, o foco da política econômica vai ser reduzir o déficit e eliminar o Tarp [sigla em inglês para o pacote de US$ 700 bilhões de auxílio ao mercado financeiro aprovado pelo Congresso], que tem ajudado Wall Street e as três grandes montadoras norte-americanas. Por outro lado, se a crise piorar significativamente, poderemos ver algumas grandes mudanças. De que tipo? Talvez um aumento permanente do papel do governo, tanto como comprador de última instância quanto como investidor de última instância. Veja bem, não estou defendendo isso, apenas prevendo que o povo vai se voltar ao governo para restaurar e manter a demanda agregada e também o crédito fluindo.

FOLHA - Por fim, qual vai ser o impacto da crise em países emergentes como o Brasil?
REICH
- Minha esperança sincera é que nem os países emergentes nem os desenvolvidos se voltem para o protecionismo, como vimos nos anos 30. O melhor resultado seria a criação de uma nova entidade nos moldes das criadas em Bretton Woods, que coordenaria as políticas monetárias e fiscais globais.


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