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Assessor de Obama vê desempr ego em 12%
Para Robert Reich, conselheiro do presidente recém-eleito, risco da crise é elevar protecionismo
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
O desemprego nominal deve
chegar a 9% no final de 2009
nos Estados Unidos (em novembro do ano passado, estava
em 6,7%), mas, somando os trabalhadores em meio período e
os que deixarão de procurar
emprego, esse índice pode pular para 12%. Quem diz isso é
Robert Reich, membro da equipe econômica de transição do
governo de Barack Obama.
Para o economista de Berkeley e ex-secretário do Trabalho
de Bill Clinton (1993-1997), o
agravamento da crise pode exacerbar o protecionismo dos
países. Reich defende a criação
de uma mistura de super-FMI
com banco central global, que
coordenaria as políticas fiscais
e monetárias do mundo inteiro.
Leia a entrevista exclusiva
que deu à Folha, por e-mail.
FOLHA - O que o sr. acha que acontecerá com a economia dos Estados
Unidos em 2009?
ROBERT REICH - Uma continuação da recessão grave, com a taxa oficial de desemprego subindo a 9%. Se incluirmos todos os
que trabalham em meio período e querem trabalhar em período integral e todos os que estão sem estímulo para procurar
emprego, então a taxa não-oficial pulará para 12%.
FOLHA - Como isso vai afetar o resto do mundo?
REICH - Os consumidores americanos continuarão a reduzir
seus gastos, o que quer dizer
que as importações dos EUA
vão diminuir. Isso vai reduzir a
demanda global. Os mercados
de capitais americanos, por sua
vez, continuarão relativamente
congelados, o que vai minar a
demanda ainda mais e reduzir a
capacidade da política monetária de estimulá-la. O resultado
vai ser uma recessão mundial
aprofundada em 2009.
FOLHA - O que o presidente eleito
vai fazer para diminuir a crise? E o
que deveria fazer?
REICH - Obama vai lançar um
pacote de estímulo muito grande -eu estimo algo em torno de
US$ 600 bilhões apenas para
2009- para aquecer a demanda. Isso é exatamente o que ele
deveria fazer, e vai ter o apoio
do Congresso para isso.
FOLHA - Como membro da equipe
de transição, que conselho o sr. deu?
REICH - Isso é confidencial.
FOLHA - Muito se falou sobre o legado desastroso do governo Bush
na área de política externa. Na econômica não é tão desastroso?
REICH - Infelizmente, o legado
econômico de Bush é de regulação inadequada no mercado de
crédito, o que contribuiu para a
bolha imobiliária. Também é
um legado de cortes de impostos para os americanos mais ricos, o que ajudou a aumentar a
desigualdade.
FOLHA - Que tipo de capitalismo o
sr. acha que vai sobrar?
REICH - Se a crise continuar como está por mais um ano, eu
duvido que veremos uma mudança fundamental no capitalismo americano. Presumindo
que a economia volte a se reerguer em 2010, o foco da política
econômica vai ser reduzir o déficit e eliminar o Tarp [sigla em
inglês para o pacote de US$ 700
bilhões de auxílio ao mercado
financeiro aprovado pelo Congresso], que tem ajudado Wall
Street e as três grandes montadoras norte-americanas.
Por outro lado, se a crise piorar significativamente, poderemos ver algumas grandes mudanças. De que tipo? Talvez um
aumento permanente do papel
do governo, tanto como comprador de última instância
quanto como investidor de última instância.
Veja bem, não estou defendendo isso, apenas prevendo
que o povo vai se voltar ao governo para restaurar e manter a
demanda agregada e também o
crédito fluindo.
FOLHA - Por fim, qual vai ser o impacto da crise em países emergentes como o Brasil?
REICH - Minha esperança sincera é que nem os países emergentes nem os desenvolvidos se
voltem para o protecionismo,
como vimos nos anos 30. O melhor resultado seria a criação de
uma nova entidade nos moldes
das criadas em Bretton Woods,
que coordenaria as políticas
monetárias e fiscais globais.
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