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TRABALHO
Contingente dos que ganham menos de um salário mínimo aumenta mais que o número de vagas criadas, diz IBGE
Emprego precário cresce 19% em 2004
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A taxa de desemprego caiu para
o patamar inédito de um dígito
em dezembro de 2004 (9,6%),
mas a precariedade do mercado
de trabalho metropolitano ainda
é um problema. O número de
pessoas com rendimento inferior
a um salário mínimo proporcionalmente às horas que trabalharam para uma jornada de 40 horas semanais cresceu 19,3% em
dezembro de 2004 na comparação com o mesmo mês de 2003.
Em dezembro de 2004, o contingente dos chamados sub-remunerados era de 2,722 milhões
de pessoas nas seis principais regiões metropolitanas do país (São
Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto
Alegre, Recife e Salvador).
Em dezembro de 2003, o número era menor: 2,281 milhões de
pessoas, de acordo com dados da
Pesquisa Mensal de Emprego do
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) obtidos pela
Folha.
Esse grupo de pessoas que ganham menos de R$ 1,63 por hora
cresceu relativamente mais do
que o número de empregos criados. De dezembro de 2003 a dezembro de 2004, o total de pessoas
ocupadas aumentou 3,2%. Passou de 18,892 milhões de pessoas
nas seis regiões para 19,498 milhões. O ideal seria que os dois
contingentes crescessem no mesmo ritmo.
Com isso, a proporção de sub-remunerados em relação ao número total de pessoas empregadas subiu, ao passar de 12,1% em
dezembro de 2003 para 14% em
dezembro de 2004. Antes da forte
crise do mercado de trabalho de
2003, o percentual era de 8,3%,
em dezembro de 2002.
Na raiz do problema, está o fato
de a renda não ter crescido nos últimos anos, dizem especialistas.
Apesar da abertura de vagas e do
recuo da taxa de desemprego nos
últimos meses do ano, o rendimento teve queda de 0,8% na média anual. Foi o sétimo ano consecutivo de retração.
"O aumento dos sub-remunerados é apenas a faceta mais grave
do declínio do rendimento médio. Embora já se observe uma
clara recuperação no mercado de
trabalho no que concerne à criação de postos de trabalho e à formalização do emprego, a retomada da atividade econômica ainda
não se refletiu no rendimento",
diz a economista Sônia Rocha, da
FGV (Fundação Getúlio Vargas).
De acordo com Rocha, o fato de
o rendimento médio continuar
em queda mostra que os novos
postos de trabalho criados pagam, em média, salários mais baixos, o que eleva o número de sub-remunerados.
Segundo Cimar Azeredo Pereira, gerente da Pesquisa Mensal de
Emprego do IBGE, mais pessoas
de uma mesma família tiveram de
se lançar ao mercado de trabalho
em 2003 em razão do recuo da
renda do chefe do domicílio.
Tal fenômeno, diz, pode explicar o aumento dos sub-remunerados, já que essas pessoas tendem a aceitar empregos com salários menores. Pelos dados do IBGE, a maior parte desse grupo é
formada por mulheres, não-brancos (soma de pretos, pardos e
amarelos) e trabalhadores sem
carteira ou por conta própria (camelôs e biscates, especialmente).
Fábio Romão, da LCA Consultores, concorda com a análise do
técnico do IBGE. Diz que houve
em 2004 um descompasso entre a
evolução do rendimento (que
caiu) e da ocupação (que cresceu).
Isso ocasionou, afirma Romão,
o ingresso de jovens no mercado
de trabalho e o retorno de trabalhadores que estavam inativos
(mulheres e idosos), já que o rendimento se manteve deprimido
em 2004.
Romão destaca ainda que a sinalização de melhora da atividade
econômica fez com que "muitos
trabalhadores que haviam desistido de procurar uma ocupação
voltassem a sua busca". "Houve
uma redução do desalento, o que
pode ter aumentado a proporção
de sub-remunerados."
Futuro
Tanto Romão como Rocha esperam que o desempenho positivo do emprego acabe por "incluir" esses trabalhadores com
baixa remuneração.
"Certamente, se a retomada da
atividade econômica continuar,
haverá em algum momento uma
melhoria do rendimento médio. É
que haverá uma redução dos trabalhadores disponíveis com o
perfil desejado [com maior nível
de escolaridade], que resultará
em elevação dos rendimentos.
Mas ainda não chegamos lá", afirma Rocha.
Ou seja: com o aquecimento do
mercado, sobrará menos gente
qualificada, e as empresas terão
de pagar mais a esses profissionais. Com isso, o salário dos menos qualificados também sobe.
Azeredo, do IBGE, diz que o número de sub-remunerados sempre sobe nos meses seguintes ao
reajuste do salário mínimo. É que
muitos trabalhadores informais
não têm seus salários corrigidos
na mesma proporção nem ao
mesmo tempo do aumento do
mínimo.
Ele ressalva, porém, que as estimativas sobre os sub-remunerados são uma novidade da nova
PME (levada a campo desde outubro de 2001) e que ainda não é
possível definir um padrão histórico claro para o indicador. O IBGE está fazendo estudos para detalhar a evolução desse indicador.
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