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Cai repasse do governo a Estados e municípios
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Nos últimos dez anos, a alta
na arrecadação do governo federal foi baseada, principalmente, no maior recolhimento
de tributos que não são divididos com Estados e municípios.
Em 1995, de um total de
R$ 84 bilhões (em valores da
época) arrecadados pela Receita, 47,2% se referiam a Imposto
de Renda e IPI (Imposto sobre
Produtos Industrializados),
que, segundo a Constituição,
devem ser repartidos com governos regionais. Em 2005, esse peso havia caído para 42,4%.
Os números são do Ministério da Fazenda e da Receita Federal. Os repasses para Estados
e municípios chegaram a representar 21% da arrecadação total
de tributos do governo federal
entre 1997 e 1999, mas esse peso caiu para 17,6% em 2004,
num sinal de que a União arrecadou mais, mas dividiu, proporcionalmente, um pouco
menos com governos regionais.
Ainda assim, o valor dos repasses cresceu, nos últimos dez
anos, mais que a arrecadação
do ICMS, principal imposto recolhido pelos Estados. Entre
1995 e 2005, os repasses aumentaram em 304%, e a cobrança de ICMS, 229%.
O economista Francisco Lopreato, professor da Unicamp,
diz que, nos últimos anos, o governo deu ênfase às preocupações com o ajuste fiscal, deixando de lado uma discussão aprofundada sobre a relação entre
União e governos regionais.
"E quem toma na cabeça são
os Estados, que estão estrangulados porque precisam pagar os
juros das suas dívidas. Os Estados estão quebrando, e não se
discute o pacto federativo", diz.
Segundo Lopreato, as prefeituras não têm sido tão prejudicadas pelo atual sistema de distribuição de recursos porque,
além de ficar com parte do IR e
do IPI arrecadados pela União,
recebem repasses do SUS (Sistema Único de Saúde) e do antigo Fundef, atual Fundeb (fundos para a educação).
Para Fabio Giambiagi, pesquisador do Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada),
o movimento de governadores
que surge agora reivindicando
uma parte do dinheiro arrecadado com a CPMF "faz parte do
processo político normal".
Não é de hoje que os Estados
tentam obter, de presidentes
recém-eleitos (ou recém-reeleitos), uma ajuda para equilibrar suas contas, oferecendo,
em troca, apoio político para
propostas do governo federal.
O maior socorro dado pela
União aos Estados começou a
ser desenhado ainda no início
do primeiro mandato do ex-presidente FHC, em 1995, época em que o Plano Real ainda se
consolidava e os governadores
buscavam uma maneira de refinanciar as suas dívidas.
Um dos pontos de maior
preocupação era a situação dos
bancos estatais, a maioria deles
quebrada depois de anos de ingerências políticas nas suas
operações. Havia, na época, o
receio de que a fragilidade desses bancos pudesse ser obstáculo ao sucesso do Plano Real,
que já enfrentava os problemas
sofridos por bancos privados
com a estabilização da inflação.
Para resolver o problema, o
governo criou um programa de
socorro aos bancos estatais,
que teve custo estimado em
R$ 60 bilhões -embora parte
desse valor tenha sido compensada com as privatizações de
instituições financeiras.
Essa renegociação é vista como positiva por Giambiagi.
"Foi bom para o país, porque a
situação dos Estados era uma
barafunda. Era meio caminho
andado para o desastre."
Giambiagi lembra que, em
1999, depois de reeleito, FHC
também enfrentou a oposição
dos Estados em relação à proposta de reforma tributária que
o governo federal apresentou.
No começo do segundo mandato de FHC, o Brasil enfrentava grave crise econômica, que
resultou na maxidesvalorização do real e no primeiro de
uma série de acordos com o
FMI. Em troca de apoio, o governo desistiu da reforma.
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