São Paulo, quinta-feira, 04 de fevereiro de 2010

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EUA avalizam álcool de cana brasileiro

Agência de Proteção Ambiental diz que produto brasileiro pode contribuir para redução de emissão de gases do efeito estufa

No mesmo dia, Obama fala em aumentar uso de álcool como fonte de energia, mas tarifa de importação ainda barra produção brasileira


JANAINA LAGE
DE NOVA YORK

A Agência de Proteção Ambiental americana incluiu o álcool brasileiro produzido a partir da cana-de-açúcar na lista de biocombustíveis que podem contribuir para a redução das emissões de gases do efeito estufa. A agência divulgou ontem regulamentação para produção e uso de biocombustíveis nos EUA, com a determinação de patamar mínimo de consumo.
Segundo a agência, o biodiesel a partir da soja e de outros materiais, o álcool de cana-de-açúcar e o álcool a partir do milho (este último, desde que produzido com tecnologias mais eficientes) cumprem as exigências de redução dos gases do efeito estufa. Nos cálculos da agência, o álcool de cana reduz as emissões em até 61% comparado com a gasolina, um patamar bastante superior ao do álcool a partir do milho, na faixa dos 20%.
As regras divulgadas pela agência complementam o Ato de Segurança e Independência Energética aprovado em 2007. A agência estipula que os EUA devem ter um consumo mínimo de 45 bilhões de litros de biocombustíveis neste ano. Até 2022, ele deve alcançar 136 bilhões de litros. A regulamentação prevê o uso de pelo menos 15 bilhões de litros por ano até 2022 da categoria de combustível na qual o álcool de cana se enquadra. Em 2010, a previsão é de uso de 756 milhões de litros deste tipo de combustível.
A própria agência afirma no documento que só analisou em suas projeções o álcool de cana do Brasil, mas que isso não impede os EUA de comprarem de outros países desde que eles estejam de acordo com as regras.
Para Joel Velasco, representante-chefe da Unica (associação de produtores brasileiros) em Washington, o aval da agência indica que a produção sustentável de um biocombustível pode contribuir no combate a mudanças climáticas. "As novas regras criam quase uma obrigação de consumo, cria mercado para o Brasil e fortalece os argumentos para derrubar a tarifa a qual estamos submetidos. É um reconhecimento de um órgão de governo de que o álcool de cana tem efeito na redução de gás do efeito estufa", afirmou
O presidente dos EUA, o democrata Barack Obama, anunciou ontem uma série de medidas para aumentar a produção de biocombustíveis no país. A estratégia apresentada ontem também tenta criar as bases para a aprovação do projeto de lei de mudança climática que visa aumentar a produção de energia limpa no país. O projeto enfrenta forte resistência da oposição republicana.
Em encontro com governadores, Obama detalhou três medidas. A primeira foi a regulamentação divulgada ontem pela Agência de Proteção Ambiental; a segunda, uma proposta do Departamento de Agricultura para fornecer financiamento à conversão de biomassa em energia.
Além disso, Obama anunciou a criação de uma força-tarefa composta por representantes de diversas agências para captura de carbono. Esse grupo será responsável por desenvolver uma estratégia para acelerar a produção de energia limpa.
"Agora acredito que devemos aprovar uma ampla lei de energia e clima. Ela fará da energia limpa um tipo rentável de energia, e a decisão de outras nações de fazer isso já está impulsionando seus negócios no desenvolvimento de empregos e tecnologia. Mas mesmo que você discorde da ameaça imposta pelas mudanças climáticas, investir em empregos de energia limpa e em negócios ainda é a coisa certa a fazer para a nossa economia", afirmou Obama.
Ele argumenta que o aumento da produção de combustíveis renováveis pode reduzir a dependência dos EUA de petróleo em mais de 328 milhões de barris/ano e cortar as emissões de gases do efeito estufa em mais de 138 milhões de toneladas métricas por ano até 2022.


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