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LIGAÇÕES PERIGOSAS
Acusada por Dantas de favorecer fundos, ela afirma "não ter força para enfrentar poder econômico"
Juíza se afasta de casos com o Opportunity
Lula Marques - 21.set.05/Folha Imagem
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O empresário Daniel Dantas, que é dono do Banco Opportunity |
ELVIRA LOBATO
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Autora da decisão que levou ao
afastamento do Opportunity do
controle da Brasil Telecom, a juíza
Márcia Cunha, da 2ª Vara Empresarial da Justiça do Rio, declarou-se na semana passada sob suspeição para julgar processos do banco e de companhias controladas
pela instituição. Cunha protagonizou uma disputa pública com o
Opportunity, do empresário Daniel Dantas, ao denunciar uma
tentativa de suborno por supostos
intermediários do banco.
O Opportunity e os fundos de
pensão travaram o maior conflito
societário em empresa privada da
história recente do país, pelo controle da Brasil Telecom, que acabou ficando com os fundos. No
ano passado, Dantas pediu anulação de uma decisão da juíza em
favor dos fundos e pediu seu afastamento do caso, alegando parcialidade da magistrada.
A decisão em favor dos fundos
foi mantida em segunda instância
pelo Tribunal de Justiça do Rio.
Mas isso não interrompeu a guerra paralela entre o Opportunity e
Cunha, que culminou com a decisão dela de se declarar sob suspeição para julgar ações envolvendo
o banco, afastando-se do processo da Brasil Telecom.
Em entrevista à Folha ontem, a
juíza não quis falar sobre os motivos que a levaram ao seu ato. Mas,
ao comunicar sua decisão no processo, afirma que o fez "por não
ter força para enfrentar o poder
econômico" do Opportunity.
No documento de duas páginas,
declara que, desde que afastou o
Opportunity da Brasil Telecom,
tem "sofrido toda a sorte de infortúnios". Entre os quais, citou os
boatos contra ela de que teria sido
corrompida e comprado um
apartamento em Ipanema (do
qual a juíza diz ser locatária) e de
que a decisão contra o Opportunity teria sido redigida por advogados dos fundos de pensão.
A juíza queixou-se ainda que teria sofrido intimidação por parte
de estranhos, que seu gabinete teria sido invadido e ainda de que
ela e o filho foram ameaçados na
rua onde moram. Além disso,
aponta as representações do Opportunity que a acusam de improbidade administrativa e falsidade.
O estopim de sua decisão, pelo
que escreveu no processo, foi a
apresentação por parte do Opportunity de quatro laudos periciais ao Conselho de Magistratura, onde corre processo disciplinar contra a juíza. Os laudos contratados pelo banco atestam, segundo documento obtido pela
Folha e apensado no processo,
não ser de autoria dela a sentença
a favor dos fundos.
O laudo que mais incomodou a
juíza foi o do membro da ABL
(Academia Brasileira de Letras)
Antonio Olintho. Sob o título "Perícia Estilística e de Identificação
Autoral", o acadêmico compara
várias sentenças da juíza e conclui
que o texto da decisão "não está
filiado ao estilo da juíza tanto na
parte vocabular como na formação de frases". Para ele, a juíza
"não é a verdadeira autora".
No processo contra a juíza, o
Opportunity anexou ainda manifestações de duas professoras de
português da UFRJ. Uma delas
destaca como algo "inexplicável"
o fato de a juíza ter grafado "Nova
Iorque" na sentença contra o Opportunity, quando em outras escrevia "Nova York".
A primeira argumentação do
Opportunity para afastar a juíza
era que sua filha havia estagiado
no escritório que advoga para os
fundos nesse caso. Depois disso,
começaram a circular boatos de
que a juíza não foi autora da decisão e que teria recebido dinheiro
para favorecer os fundos.
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