São Paulo, terça-feira, 04 de março de 2008

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Lucro da Petrobras recua 17% em 2007

Com avanço menor na produção e política de contenção de repasse de reajustes, empresa obtém ganho de R$ 21,5 bi

Retração é primeira desde 2004; diretor da estatal atribui piora no resultado à queda do dólar e a ajuste com plano Petros

JANAINA LAGE
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Sem reajustar o preço dos combustíveis e com um crescimento bastante modesto em sua produção, a Petrobras viu seu lucro cair 17% em 2007. O resultado ficou em R$ 21,512 bilhões, abaixo dos R$ 25,919 bilhões obtidos em 2006. Foi a primeira retração no lucro anual da estatal desde 2004.
No último trimestre, o lucro ficou em R$ 5,053 bilhões, com queda de 8,6% em relação ao terceiro trimestre e de 3% na comparação com o quarto trimestre de 2006, um resultado abaixo das previsões de analistas. A estatal anunciou ainda mudanças em sua diretoria, atendendo a pressões do PMDB, que assumirá a diretoria Internacional da estatal no lugar de um petista.
Segundo especialistas, diferentemente de outras petroleiras, a Petrobras não se beneficiou integralmente da alta do petróleo, ao não corrigir o preço dos principais derivados: gasolina, diesel e gás de cozinha.
Ou seja, se não tivesse segurado os reajustes, teria lucrado mais. "O resultado poderia ter sido melhor", diz Vladimir Pinto, analista do Unibanco.
Segundo o diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, dois fatores explicam o desempenho do ano passado: a desvalorização do dólar de 17% (o que causou perdas na conversão de receita estrangeira para real) e o ajuste com o plano Petros, que teve um impacto negativo de R$ 1,750 bilhão. O efeito da desvalorização do dólar somou R$ 3,9 bilhões. "Esse é o custo de ter uma moeda valorizada e uma maior atuação internacional", diz.
A necessidade de garantir gás para as termelétricas também provocou impacto negativo. A multa da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e encargos com o fornecimento de gás natural para as usinas tiveram impacto negativo de R$ 449 milhões.
O desempenho também poderia ter sido melhor não fosse o atraso na entrada em operação de duas plataformas programadas para o primeiro semestre de 2007, mas que só começaram a produzir no final do ano, diz Nelson Rodrigues Matos, analista do Banco do Brasil.
O resultado foi a expansão de apenas 0,8% da produção -1,778 milhão de barris de óleo no Brasil na média de 2006 para 1,792 milhão de barris/dia.
Com isso, o faturamento da companhia cresceu 8%, abaixo das estimativas iniciais de analistas. Ficou em R$ 170,6 bilhões em 2007, contra R$ 158,2 bilhões em 2006.
Em 2007, a companhia registrou Ebtida (lucro antes de impostos, amortizações e depreciações) de R$ 50,275 bilhões, 1% menos do que os R$ 50,864 bilhões obtidos em 2007.
Também pesou negativamente no desempenho da companhia a alta dos custos que afeta toda a indústria de petróleo do mundo. O custo de extração de óleo no Brasil, por exemplo, saltou de R$ 17,6 por barril no quarto trimestre de 2006 para R$ 23,2 no mesmo período do ano passado.
Apesar dos fracos resultados de 2007, especialistas destacam que a estatal anunciou grandes descobertas, como Tupi. Segundo Barbassa, o retorno aos acionistas subiu 131,4%. "O mercado entendeu que as descobertas mudam a condição de valor da empresa."
Com isso, o valor de mercado da companhia chegou a US$ 235 bilhões. É a terceira maior do setor, atrás de Exxon Mobil e Shell.
Em 2007, a estatal exportou 615 mil barris diários de petróleo e derivados e importou 538 mil barris, gerando um saldo líquido de 77 mil barris por dia.
Em reais, as exportações líquidas geraram apenas R$ 73 milhões de superávit, menos do que o previsto no começo do ano, já que o excedente de produção frustrou as expectativas e o câmbio também não ajudou.
De acordo com Barbassa, as expectativas para 2008 são boas porque a produção vai aumentar em 460 mil barris por dia, além do início da produção na Nigéria.


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