São Paulo, Quinta-feira, 04 de Março de 1999
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MERCADO TENSO
Cotação da moeda norte-americana voltou a subir, chegando a R$ 2,21, mas recua no período da tarde
Dólar fecha estável após intervenção do BC

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local

O Banco Central interveio no mercado de câmbio, à tarde, e as cotações do dólar comercial no fechamento ficaram estáveis, em R$ 2,16 para venda, o mesmo patamar de anteontem.
As atuações do BC foram tímidas, mas derrubaram o valor do dólar, que estava sendo negociado a R$ 2,20. No seu pico de alta, a cotação da moeda norte-americana bateu em R$ 2,21 ontem.
Na média ponderada de todas as negociações do dia, apurada pelo BC, a cotação do dólar ficou em R$ 2,1647, uma desvalorização do real de 1,57% contra anteontem.
Os investidores estão esperando que o novo presidente do Banco Central, Armínio Fraga, passe a gastar mais do que US$ 300 milhões por dia para derrubar as cotações do dólar. Isso poderia acontecer já hoje, amanhã ou na segunda-feira, acreditam. O patamar de R$ 2,16 preocupa, consideram.
As apostas na atuação de Fraga são tão fortes que o Banco Central não conseguiu colocar todos os papéis com variação cambial que levou ontem a mercado, as NBC-Es. Foram leiloados R$ 500 milhões, mas só foram vendidos R$ 30 milhões. As taxas pagas chegaram a 42% ao ano. O vencimento do papel será no dia 17 de abril.
Os investidores temem que esses títulos, indexados ao dólar, percam valor já nos próximos dias. "A falta de interesse no papel cambial do governo mostra que não há apostas na alta do dólar. Quem compra a moeda dos EUA no mercado à vista é porque realmente precisa para pagar sua dívida externa ou importar", diz Joaquim Paulo Kokudai, do Lloyds.
Por isso, segundo especialistas, o aumento no recolhimento compulsório sobre os depósitos à prazo, que tira reais da economia, terá pouco efeito para conter a alta do dólar. "O especulador tem pouca influência no mercado hoje", diz Marcelo Allain, diretor de Análises Econômicas do Banco BMC. Para ele, uma alta dos juros seria inócua para conter o dólar e teria um efeito negativo: agravaria o temor de calote na dívida pública.
Para o diretor de renda fixa do BNP, Marcelo Saddi Castro, uma alta nos juros seria também ineficaz para conter a inflação, que é decorrente do aumento de custos por causa da desvalorização cambial e não de uma demanda forte.
Especialistas apostam, no entanto, que a reunião do Comitê de Política Monetária, hoje, deve subir o teto dos juros de 41% ao ano para até 60% ao ano. Se a inflação subir mais do que 4% em março, o BC poderia puxar para cima os juros do over, hoje em 39% ao ano.


Colaborou Gabriel Junqueira de Carvalho


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