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São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2003

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ANO DO DRAGÃO

Produto subiu 49% em um mês e 79% no ano; preços aumentaram 0,67% no mês passado, segundo a Fipe

SP viveu a inflação do tomate em março

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

A inflação continua driblando as expectativas dos institutos de pesquisa e do mercado. Em março, os preços subiram 0,67%, taxa bem inferior às previsões do mercado, que indicavam alta de até 0,85%. Até mesmo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) previa inflação entre 0,70% e 0,80% para o mês.
O grande vilão do mês foram os produtos "in natura", fato inédito para este período do ano. Em geral, o setor tem forte elevação de preços em janeiro, perde força em fevereiro e registra quedas em março. Os "in natura" subiram 5% no mês passado. A Fipe esperava alta de apenas 1% para o período. Só esses produtos geraram inflação de 0,19%.
Neste ano, as fortes chuvas de janeiro atrapalharam a safra do início do ano, reduzindo a oferta de hortifrútis no mercado. A repetição de intensas chuvas nos meses seguintes impediu, inclusive, o replantio desses produtos, provocando escassez ainda maior. Os preços dispararam.

Alta de 79% no ano
O vilão do mês foi o tomate, que teve alta de 49% em março. No ano, a alta é de 79%. Nelson Martin, do Instituto de Economia Agrícola, especialista em preços agrícolas, diz que a situação não se normaliza antes de meados deste mês.
Os dados da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo confirmam essa tendência de alta. Mas os preços já sobem em ritmo menor do que em março. Segundo a Ceagesp, o tomate de melhor qualidade para salada custa R$ 54 por caixa, valor 162% acima do registrado no final do ano passado.
Heron do Carmo, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe, diz que essa pressão dos "in natura" acaba neste mês e vai empurrar a taxa ainda mais para baixo.
A transferência da queda dos preços dos "in natura" de março para este mês fez a Fipe rever a taxa de abril para 0,40%. A estimativa anterior era de 0,5%.

Ainda ruim
A inflação de março volta a um patamar inferior a 1% pela primeira vez desde setembro do ano passado. A queda de fevereiro (1,61%) para março (0,67%) foi grande.
Mesmo assim, Heron diz que o comportamento da inflação em 2003 é ruim em relação aos anos anteriores. É a maior taxa para os meses de março desde 1995, e fica bem acima do 0,07% do mesmo mês de 2002.
Além dos hortifrútis, a Fipe registrou pressão dos remédios, que subiram 4,14%. Outros setores que deixaram sua marca na taxa de março foram os de higiene e limpeza. Esses produtos têm superado constantemente a inflação nos últimos meses.
Neste ano, os produtos de limpeza subiram 7%, e os de higiene, 5%. Em 12 meses, as lideranças ficam para sabão em barra (46%), sabão em coco (39%) e sabão em pó (27%). Esses produtos são de difícil substituição por parte dos consumidores. Por isso, as empresas conseguem repassar preços acima da inflação.
Mas Heron diz que a perda de renda dos consumidores e o aumento elevado ocorrido nos últimos meses vão provocar queda de demanda, inibindo novos aumentos.
O país entra em um período de reajustes de salários, mas essas reposições não vão acelerar a inflação. Servirão apenas para a reposição das perdas dos consumidores devido à forte alta da inflação de setembro para cá.
Pelos números da Fipe, os trabalhadores que tinham renda de R$ 1.000 no início de setembro do ano passado terminaram março com R$ 893.
São Paulo terá uma inflação baixa nos próximos meses, mas voltará a ter um susto em julho e em agosto devido aos reajustes das tarifas públicas, diz o coordenador do IPC da Fipe.
Dependendo do tamanho dos reajustes, a taxa mensal de inflação desses dois meses ficará entre 1% e 2%. A partir de setembro, os preços voltam a ficar comportados.
A inflação acumulada nos três primeiros meses do ano já atinge 4,54%, segundo a Fipe. Essa taxa é metade da estimativa de 9% da instituição para todo o ano. Nos últimos 12 meses, a inflação ficou em 13,87%.


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