São Paulo, domingo, 04 de abril de 2004

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REALISMO MONETÁRIO

Presidente do BC diz que não há "obsessão" na perseguição de meta e que país já cresce "de forma sólida"

Meirelles defende inflação entre 1% e 5%

MARCIO AITH
EDITOR DE DINHEIRO

As opiniões acadêmicas e pressões políticas crescentes em favor da suavização das metas de inflação e de uma política monetária mais frouxa não mudaram a convicção do presidente do BC (Banco Central), Henrique Meirelles.
Em entrevista à Folha, Meirelles disse que o Brasil já pagou o preço da estabilização e deve abandonar a fantasia de que "mais inflação trará crescimento".
Afirmou reconhecer que não cabe ao BC fixar metas de inflação, mas apenas cumpri-las. E admitiu que a meta de 2005 pode ser "aperfeiçoada", dependendo do desfecho de discussões em curso, que, em tese, podem ser analisadas em junho pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).
No entanto, ao dar sua opinião pessoal, defendeu as metas atuais e receitou ao país inflações anuais entre 1% e 5%. "A faixa entre 5% e 9% é escorregadia, pode caminhar para o descontrole. A melhor teoria diz hoje que a faixa mais segura é de no máximo 5%", afirmou, baseado em estudo formulado por bancos centrais ao redor do mundo.
Meirelles também acredita ser duvidosa a idéia de que o prazo para cumprir as metas deva ser ampliado de um ano (como é hoje) para dois ou três anos -sugestão do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), entre outros.
"A meta fora do espaço de 12 meses tem vantagens e desvantagens. De um lado tem mais espaço, mas de outro poderão existir mais choques. A economia não vai deixar de sofrer choques externos ou de ter rigidez de preços [administrados] só porque vamos incluir outros anos na medição."
No âmbito do debate econômico atual, essas sugestões poderiam ser consideradas extremamente rígidas -ainda mais rígidas que o atual regime de metas, que admite uma folga de inflação de até 8% para 2004.
No entanto, Meirelles rejeita os estigmas de "insensível" ao crescimento e de "obsessivo" na perseguição do centro da meta de inflação que, segundo ele, alguns querem imputar ao BC.
"Estamos crescendo de forma sólida", afirmou. "Se o crescimento fosse incompatível com inflação baixa, como alguns querem crer, quanto mais inflação, maior o crescimento. Se fosse assim, o Brasil seria um dos países mais ricos do mundo."


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