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BALANÇO
Com taxas de juros menores, lucratividade de empresas não-financeiras supera a de instituições bancárias em 2003
Bancos perdem liderança em rentabilidade
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
Nos últimos anos, os bancos
sempre registravam ganhos muito superiores aos das empresas
não-financeiras. Em 2003, essa situação se inverteu. A rentabilidade das empresas não-financeiras
foi superior a dos bancos.
Segundo estudo da Austin Rating, em 2003, as 20 empresas de
capital aberto mais rentáveis registraram uma rentabilidade (lucro líquido sobre o patrimônio)
média de 38,3%. Já a média das 20
instituições financeiras mais rentáveis foi de 30%.
As cem empresas de capital
aberto mais rentáveis obtiveram
uma rentabilidade média no ano
passado de 28,1%. A média dos
cem bancos foi de 19,7%.
De acordo com o estudo da
Austin Rating, entre os setores
não-financeiros, os mais rentáveis
foram: bebidas e fumo (37,8%),
química (31,7%), editorial e gráfico (29,1%), minerais (28,9%), mecânica (28,5%), transporte
(28,3%), papel e celulose (27,6%)
e produtos alimentícios (25,9%).
O trabalho da Austin Rating foi
feito com base na compilação dos
balanços de 808 empresas não-financeiras de 24 diferentes setores
e mais 128 bancos.
Para Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating, "os bancos não estão ganhando tanto
quanto antes". Muitos setores,
principalmente aqueles ligados à
exportação e ao agronegócio, estão sendo mais rentáveis.
Segundo ele, a competição entre
as instituições está cada vez mais
acirrada, e os bancos estão sendo
obrigados a baixar o "spread" (diferença entre o custo de captação
e a taxa cobrada dos clientes).
Ao mesmo tempo, Rodrigues
diz que, com a queda das taxas básicas de juros, as empresas estão
reduzindo significativamente
suas despesas financeiras em relação ao faturamento. "O custo do
crédito baixou", diz.
Para Cláudio Vaz, diretor do departamento de economia da Fiesp
(Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), o resultado da
pesquisa está distorcido porque
muitas empresas ganharam com
o câmbio. "O efeito cambial foi
muito importante", diz Vaz.
Ao analisar o trabalho da Austin
Rating, o economista Júlio Sérgio
Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), chama a atenção para o
fato de que as exportadoras (minério, aço, papel e celulose, alimento e vestuário) foram mesmo
muito favorecidas pelo câmbio.
Até abril, o dólar valia R$ 3,50.
Além disso, os preços internacionais subiram muito em 2003, o
que ajudou também a elevar o ganho dessas empresas. O mesmo
aconteceu com as empresas fornecedoras para o setor agropecuário, cujos preços também subiram muito no ano passado.
O economista do Iedi observa,
também, que a rentabilidade obtida pela Petrobras, no ano passado, também ajudou a desequilibrar os resultados das empresas
não-financeiras. Se retirar do estudo, por exemplo, o setor químico (que inclui a Petrobras), a rentabilidade média das 20 empresas
cai para 14%, abaixo, portanto,
dos 30% obtidos pelos bancos.
Ano do ajuste
Já Roberto Luís Troster, economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira das Associações de
Bancos), lembra que 2003 foi o
ano do ajuste macroeconômico,
com a atividade em baixa e os juros reais altos.
O estudo da Austin, segundo
Troster, desmistifica a idéia de
que os bancos ganham mais
quanto maior forem os juros. "Juro alto não ajuda banco."
Para Troster, o mais razoável é
que os bancos, assim como as empresas, lucrem mais quando a
economia vai bem. "Quando vai
mal, sobe a inadimplência e cai a
demanda por crédito, o que reduz
o lucro dos bancos."
Segundo Troster, 2002 e 2001,
anos em que os bancos registraram rentabilidades recordes, foram atípicos. As instituições,
principalmente as estrangeiras,
estavam carregadas de dólar e ganharam com a variação cambial.
O fato de as empresas não-financeiras terem sido mais rentáveis do que os bancos não significa, no entanto, que se pode esperar uma nova fase de investimentos. Segundo Erivelto Rodrigues,
isso só vai acontecer quando os
juros caírem mais e o país dispor
de linhas de crédito mais abundantes e de mais longo prazo.
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