São Paulo, domingo, 04 de abril de 2004

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BALANÇO

Com taxas de juros menores, lucratividade de empresas não-financeiras supera a de instituições bancárias em 2003

Bancos perdem liderança em rentabilidade

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

Nos últimos anos, os bancos sempre registravam ganhos muito superiores aos das empresas não-financeiras. Em 2003, essa situação se inverteu. A rentabilidade das empresas não-financeiras foi superior a dos bancos.
Segundo estudo da Austin Rating, em 2003, as 20 empresas de capital aberto mais rentáveis registraram uma rentabilidade (lucro líquido sobre o patrimônio) média de 38,3%. Já a média das 20 instituições financeiras mais rentáveis foi de 30%.
As cem empresas de capital aberto mais rentáveis obtiveram uma rentabilidade média no ano passado de 28,1%. A média dos cem bancos foi de 19,7%.
De acordo com o estudo da Austin Rating, entre os setores não-financeiros, os mais rentáveis foram: bebidas e fumo (37,8%), química (31,7%), editorial e gráfico (29,1%), minerais (28,9%), mecânica (28,5%), transporte (28,3%), papel e celulose (27,6%) e produtos alimentícios (25,9%).
O trabalho da Austin Rating foi feito com base na compilação dos balanços de 808 empresas não-financeiras de 24 diferentes setores e mais 128 bancos.
Para Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating, "os bancos não estão ganhando tanto quanto antes". Muitos setores, principalmente aqueles ligados à exportação e ao agronegócio, estão sendo mais rentáveis.
Segundo ele, a competição entre as instituições está cada vez mais acirrada, e os bancos estão sendo obrigados a baixar o "spread" (diferença entre o custo de captação e a taxa cobrada dos clientes).
Ao mesmo tempo, Rodrigues diz que, com a queda das taxas básicas de juros, as empresas estão reduzindo significativamente suas despesas financeiras em relação ao faturamento. "O custo do crédito baixou", diz.
Para Cláudio Vaz, diretor do departamento de economia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), o resultado da pesquisa está distorcido porque muitas empresas ganharam com o câmbio. "O efeito cambial foi muito importante", diz Vaz.
Ao analisar o trabalho da Austin Rating, o economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), chama a atenção para o fato de que as exportadoras (minério, aço, papel e celulose, alimento e vestuário) foram mesmo muito favorecidas pelo câmbio. Até abril, o dólar valia R$ 3,50.
Além disso, os preços internacionais subiram muito em 2003, o que ajudou também a elevar o ganho dessas empresas. O mesmo aconteceu com as empresas fornecedoras para o setor agropecuário, cujos preços também subiram muito no ano passado.
O economista do Iedi observa, também, que a rentabilidade obtida pela Petrobras, no ano passado, também ajudou a desequilibrar os resultados das empresas não-financeiras. Se retirar do estudo, por exemplo, o setor químico (que inclui a Petrobras), a rentabilidade média das 20 empresas cai para 14%, abaixo, portanto, dos 30% obtidos pelos bancos.

Ano do ajuste
Já Roberto Luís Troster, economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), lembra que 2003 foi o ano do ajuste macroeconômico, com a atividade em baixa e os juros reais altos.
O estudo da Austin, segundo Troster, desmistifica a idéia de que os bancos ganham mais quanto maior forem os juros. "Juro alto não ajuda banco."
Para Troster, o mais razoável é que os bancos, assim como as empresas, lucrem mais quando a economia vai bem. "Quando vai mal, sobe a inadimplência e cai a demanda por crédito, o que reduz o lucro dos bancos."
Segundo Troster, 2002 e 2001, anos em que os bancos registraram rentabilidades recordes, foram atípicos. As instituições, principalmente as estrangeiras, estavam carregadas de dólar e ganharam com a variação cambial.
O fato de as empresas não-financeiras terem sido mais rentáveis do que os bancos não significa, no entanto, que se pode esperar uma nova fase de investimentos. Segundo Erivelto Rodrigues, isso só vai acontecer quando os juros caírem mais e o país dispor de linhas de crédito mais abundantes e de mais longo prazo.


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