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REAL FORTE
Vendas de produtos básicos crescem mais do que dos manufaturados no 1º tri; março bate recorde de comércio externo
Câmbio piora composição das exportações
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Brasil bateu seu recorde de
exportações em março, com vendas de US$ 11,367 bilhões. O melhor resultado era o de agosto de
2005 (US$ 11,346 bilhões). Mas os
dados do primeiro trimestre, afetados pela queda do dólar, revelam duas tendências: aumento
das exportações de produtos básicos em detrimento dos manufaturados e crescimento maior das
importações que das exportações.
O governo já está prevendo saldo comercial menor neste ano
após as importações terem crescido 24,1% no trimestre, contra
20,2% das exportações. O superávit comercial foi de US$ 9,3 bilhões, US$ 1 bilhão a mais que no
mesmo período de 2005.
Mas o câmbio já afeta a composição dos embarques. No primeiro trimestre, o crescimento das
exportações de produtos básicos
ficou bem acima do aumento dos
embarques dos manufaturados,
revertendo o quadro de 2005, o
melhor ano para as exportações
de maior valor agregado.
De janeiro a março de 2005, a
venda de manufaturados cresceu
39,7%, enquanto a de semimanufaturados subiu 31,6%, e a de produtos básicos, 3,4%, o que ajudou
a elevar a participação dos manufaturados de 54,9% para 55,5% da
pauta exportadora.
Neste ano, porém, a exportação
de produtos básicos cresceu
30,9%, enquanto a de manufaturado subiu 12,8%, e a de semimanufaturados, 3,2%.
Manufaturados ainda dominam a pauta exportadora, com
56,6% até fevereiro. Os básicos tinham 26,8% até aquele mês.
Para o secretário de Comércio
Exterior, Armando Meziat, a diferença ocorre porque neste ano o
aumento das exportações de manufaturados acontece sobre uma
base já elevada. Mas, para Iedi
(Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e AEB
(Associação Brasileira de Comércio Exterior), a culpa é do câmbio.
Com o dólar desvalorizado, a
remuneração do exportador, em
reais, diminui, e, para reduzir perdas, os exportadores muitas vezes
têm que reajustar os preços em
dólar, segundo o vice-presidente
da AEB, José Augusto de Castro.
"Muitas vezes os importadores
não aceitam o reajuste, e o exportador fica com o prejuízo ou deixa
de exportar", disse.
"Embora haja exportadores de
produtos básicos que também
perdem com câmbio, os grandes
exportadores brasileiros de commodities, como ferro, café, açúcar
e petróleo, recuperam no preço,
que estão altos, o que perdem
com o câmbio", disse Júlio Gomes
de Almeida, do Iedi, para quem
há risco de haver uma "desindustrialização da pauta exportadora". O aumento de preços do petróleo e do minério de ferro, itens
importantes da pauta de exportação, também contribuiu para o
salto nas exportações de básicos.
Se a valorização do dólar turbinou o resultado do PIB no ano
passado na comparação com outros países, o câmbio reduziu a
proporção da corrente comercial
brasileiro em relação ao PIB.
Em 2004, a corrente de comércio chegou a 26,5% do PIB, a
maior já alcançada, mas em 2005
caiu para 25% por causa da valorização do real. "Os países considerados mais abertos possuem uma
relação corrente de comércio/PIB
de pelo menos 30%", disse Meziat. O governo pretende chegar a
essa proporção e, segundo ele,
não fosse a desvalorização de
mais de 12% do dólar em 2005, a
proporção teria ultrapassado
29%. Outro recorde foi o volume
da corrente de comércio, que chegou ao nível inédito de US$ 220,6
bilhões no acumulado dos últimos 12 meses.
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