São Paulo, terça-feira, 04 de abril de 2006

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REAL FORTE

Vendas de produtos básicos crescem mais do que dos manufaturados no 1º tri; março bate recorde de comércio externo

Câmbio piora composição das exportações

CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Brasil bateu seu recorde de exportações em março, com vendas de US$ 11,367 bilhões. O melhor resultado era o de agosto de 2005 (US$ 11,346 bilhões). Mas os dados do primeiro trimestre, afetados pela queda do dólar, revelam duas tendências: aumento das exportações de produtos básicos em detrimento dos manufaturados e crescimento maior das importações que das exportações.
O governo já está prevendo saldo comercial menor neste ano após as importações terem crescido 24,1% no trimestre, contra 20,2% das exportações. O superávit comercial foi de US$ 9,3 bilhões, US$ 1 bilhão a mais que no mesmo período de 2005.
Mas o câmbio já afeta a composição dos embarques. No primeiro trimestre, o crescimento das exportações de produtos básicos ficou bem acima do aumento dos embarques dos manufaturados, revertendo o quadro de 2005, o melhor ano para as exportações de maior valor agregado.
De janeiro a março de 2005, a venda de manufaturados cresceu 39,7%, enquanto a de semimanufaturados subiu 31,6%, e a de produtos básicos, 3,4%, o que ajudou a elevar a participação dos manufaturados de 54,9% para 55,5% da pauta exportadora.
Neste ano, porém, a exportação de produtos básicos cresceu 30,9%, enquanto a de manufaturado subiu 12,8%, e a de semimanufaturados, 3,2%.
Manufaturados ainda dominam a pauta exportadora, com 56,6% até fevereiro. Os básicos tinham 26,8% até aquele mês.
Para o secretário de Comércio Exterior, Armando Meziat, a diferença ocorre porque neste ano o aumento das exportações de manufaturados acontece sobre uma base já elevada. Mas, para Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e AEB (Associação Brasileira de Comércio Exterior), a culpa é do câmbio.
Com o dólar desvalorizado, a remuneração do exportador, em reais, diminui, e, para reduzir perdas, os exportadores muitas vezes têm que reajustar os preços em dólar, segundo o vice-presidente da AEB, José Augusto de Castro. "Muitas vezes os importadores não aceitam o reajuste, e o exportador fica com o prejuízo ou deixa de exportar", disse.
"Embora haja exportadores de produtos básicos que também perdem com câmbio, os grandes exportadores brasileiros de commodities, como ferro, café, açúcar e petróleo, recuperam no preço, que estão altos, o que perdem com o câmbio", disse Júlio Gomes de Almeida, do Iedi, para quem há risco de haver uma "desindustrialização da pauta exportadora". O aumento de preços do petróleo e do minério de ferro, itens importantes da pauta de exportação, também contribuiu para o salto nas exportações de básicos.
Se a valorização do dólar turbinou o resultado do PIB no ano passado na comparação com outros países, o câmbio reduziu a proporção da corrente comercial brasileiro em relação ao PIB.
Em 2004, a corrente de comércio chegou a 26,5% do PIB, a maior já alcançada, mas em 2005 caiu para 25% por causa da valorização do real. "Os países considerados mais abertos possuem uma relação corrente de comércio/PIB de pelo menos 30%", disse Meziat. O governo pretende chegar a essa proporção e, segundo ele, não fosse a desvalorização de mais de 12% do dólar em 2005, a proporção teria ultrapassado 29%. Outro recorde foi o volume da corrente de comércio, que chegou ao nível inédito de US$ 220,6 bilhões no acumulado dos últimos 12 meses.


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