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LUÍS NASSIF
Gato no setor elétrico
Não está clara essa operação de IPO das ações da
Equatorial -antiga Cemar
(Centrais Elétricas do Maranhão). Algumas semanas antes
do IPO, 46% de seu controle foi
repassado pela GP Investimentos para o Fundo Pactual por
um valor várias vezes inferior
ao que seria obtido. Qual a razão?
A Cemar havia sido privatizada no governo Fernando Henrique Cardoso, adquirida por um
fundo norte-americano, o SVM.
Com o "apagão" e a crise da
Enron, os fundos americanos do
setor elétrico resolveram desinvestir. Deixaram a empresa nas
mãos da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), pelo
valor simbólico de US$ 1.
Com o interventor, a empresa
começou a ser recuperada. Os
dados da época mostravam que,
com pouco investimento, reduzindo as perdas de energia e a
inadimplência, o valor da empresa subiria substancialmente.
Mas decidiu-se pela venda antes
da valorização, em uma autêntica queima de patrimônio público.
Em 2004, foi adquirida pela
GP de forma inusitada, concorrendo contra um fundo norte-americano disposto a injetar capital. Para a Cemar ser viável,
havia a necessidade de equacionar o endividamento que tinha
com a Eletrobrás. A GP recebeu
o mandato do equacionamento
de mão beijada. Não houve nem
disputa. Com o mandato, a GP
tornou-se dona da companhia
sem pagar um tostão por ela. Na
época, o presidente da Eletrobrás, Luiz Pinguelli Rosa, divulgou carta defendendo a operação, com argumentos altissonantes e completamente vazios.
Com a operação que precedeu
o IPO, o GP e o Fundo Pactual
passaram a controlar a Equatorial Energia Holdings, LLC
-montada no paraíso fiscal
norte-americano de Delaware-, que, por sua vez, controla
a Brasil Energia, maior acionista do Equatorial brasileira, holding que entra no final do processo, como controladora da Cemar, com 64,5% de suas ações.
A Eletrobrás tem outros 34%.
Não se sabe quem participa da
holding norte-americana.
Um dos sócios da Brasil Energia é Firmino Ferreira Sampaio
Neto, ex-presidente da Eletrobrás e ligado ao grupo do senador ACM. Mas a maior influência sobre a Cemar na época de
sua doação para o GP era do
grupo do ex-presidente José Sarney.
Só em 2005, por seus 35% na
Cemar (pelo qual integralizou
R$ 55 milhões em dívidas), a
Eletrobrás recebeu dividendos
da ordem de R$ 28 milhões. O
que significa que, apenas um
ano após a reprivatização, a GP
recebeu R$ 54 milhões em dividendos.
No mercado, há muita especulação sobre o que teria levado o
GP a vender para o Pactual
ações por um valor várias vezes
inferior ao que obteria aguardando o IPO. Pessoas ligadas à
operação dizem que foi para
evitar disputas. Na compra da
Light, o Pactual -associado à
Andrade Gutierrez- venceu a
concorrência em cima da GP.
Mas há coisas que não fecham
também na compra da Light.
Empresas tradicionais do setor
se recusaram a participar do leilão por considerar que nem de
graça a empresa seria atrativa.
Hoje em dia, a tarifa incorpora
25% de inadimplência e "gatos". Bastaria a Aneel fazer valer a lei e reduzir essa parcela
para 16% (a média nacional)
para a Light perder 25% de seu
faturamento. É um risco que só
pode correr quem tem a garantia da influência política sobre
os reguladores.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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