São Paulo, sábado, 04 de abril de 2009

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Desemprego nos EUA é o maior em 25 anos

Taxa atinge 8,5% e trabalho precário avança; país já cortou 5,1 milhões de vagas desde o início da recessão, no final de 2007

Economia perdeu em março 663 mil vagas; analistas não veem mudança no cenário, mas avaliam que janeiro pode ter sido o pior momento


FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

A economia norte-americana perdeu mais 663 mil empregos em março, elevando o total de desempregados no país a 5,1 milhões desde o início da atual recessão, em dezembro de 2007. A taxa de desemprego subiu de 8,1% para 8,5%. É o maior percentual desde 1983, há um quarto de século.
As estatísticas, divulgadas pelo Departamento do Trabalho, revelam que a deterioração do mercado de trabalho não atinge apenas os que perderam seus empregos. O número de pessoas em funções precárias ou temporárias cresceu em 423 mil no mês passado, deixando agora 9 milhões de trabalhadores nessa condição.
No total, existem hoje 13,2 milhões de desempregados nos EUA. O país tem cerca de 300 milhões de habitantes, e pouco mais da metade faz parte da chamada PEA (População Economicamente Ativa).
Dos 5,1 milhões de desempregados originados nesta recessão, mais de 2 milhões foram dispensados nos três primeiros meses do ano. No horizonte, não há ainda nenhum sinal de recuperação no mercado de trabalho. Ao contrário.
Na semana passada, o total de pedidos de seguro-desemprego nos EUA até o dia 21 de março atingiu 5,7 milhões. E a velocidade com que mais pessoas estão buscando o benefício alcançou um novo recorde na semana passada.
"Os pedidos de seguro-desemprego são um dos primeiros sinais de recuperação na economia, e não há nada de positivo nesse campo ainda. Mesmo um alento na demanda nesta fase não encoraja as empresas a voltar a contratar", afirma Ian Shepherson, analista da High Frequency Economics.
O Departamento do Trabalho também revisou as estatísticas de janeiro, elevando a 741 mil o total de desempregados. É o maior número para um único mês desde outubro de 1949. O total em fevereiro ficou inalterado em 651 mil.
O desemprego também vem contribuindo para uma rápida deterioração dos índices de inadimplência nos EUA. Segundo a American Bankers Association (a Febraban norte-americana), o não pagamento de empréstimos por pessoas físicas no país encontra-se hoje no nível mais elevado (3,22%) desde que essas estatísticas começaram a ser levantadas, em meados dos anos 1970.
Os dados do Departamento do Trabalho mostram que, fora as áreas de saúde e educação (mais relacionadas ao Estado do que outras), nenhum outro setor da economia produziu aumento de vagas em março. A indústria liderou os cortes, com 161 mil demissões, seguida pelo setor de serviços, com 133 mil fechamentos, e pela construção civil, que dispensou 126 mil.
Em janeiro, quando o governo de Barack Obama conseguiu a aprovação de um pacote de estímulo fiscal de US$ 787 bilhões no Congresso, a expectativa oficial era que o desemprego atingisse 8,9% só no final de 2009. Mantida a velocidade atual, o índice pode resvalar em 9% daqui a um ou dois meses.
Alguns analistas acreditam, porém, que o pior pode já ter ficado para trás. Tradicionalmente, mesmo quando uma recessão termina, o nível de desemprego tende a crescer por algum tempo antes de as empresas voltarem a contratar.
"Não creio que uma eventual recuperação a partir do final do ano possa ser descartada. As demissões [em março] foram significativamente menores do que em janeiro, que pode ter marcado um pico", diz Bernard Baumohl, economista do Economic Outlook Group.


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