São Paulo, sábado, 04 de abril de 2009

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Teles e elétricas disputam internet

Tecnologia autorizada pela Anatel permite acesso à banda larga por meio dos cabos da rede elétrica

Preços serão até 50% mais baixos que os da internet oferecida hoje, segundo estimativa, mas com uma velocidade muito superior


JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL

As teles ganharão concorrentes de peso na venda de pacotes de acesso à banda larga. A competição acontecerá com a entrada das companhias elétricas nesse mercado. Na quinta passada, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) regulamentou o PLC (Power Line Communications), uma tecnologia que permite a transmissão do sinal da internet pelos fios por onde passa a energia.
Um dos objetivos da agência é criar alternativas para que as operadoras fixas possam viabilizar a universalização da banda larga no país. Para as teles, levar a rede de acesso (por onde ela presta o serviço de internet rápida) a todos os municípios do país é um problema, porque elas têm interesse comercial em apenas 62% dessas localidades. Por isso, a tecnologia PLC surge como alternativa, já que as companhias de energia estão presentes em praticamente todos os domicílios.
"As teles poderiam fazer uma parceria com as elétricas, alugar as redes elétricas, diminuindo seus investimentos para chegar a cidades menores", diz Rogério Romano, pesquisador do CPqD, um dos centros credenciados pela Anatel para os testes realizados com os equipamentos de PLC que serão acoplados aos cabos e estações de energia.
Apesar de essa parceria diminuir os custos, as teles estão preocupadas. A Folha apurou que, em São Paulo, a AES Eletropaulo Telecom, empresa da AES Eletropaulo, faz testes para lançar em larga escala um serviço de acesso à internet em PLC que, em média, será de 10 Mbps de velocidade real (superior às disponíveis hoje no mercado) por usuário.
A Copel Telecom, empresa da Companhia Paranaense de Energia, é a que está mais adiantada. A concessionária, que atua no Paraná, já está pronta para vender acesso à internet com velocidade real de 10 Mbps por usuário. Detalhe: o consumidor pagará pela média de uso, não pelo teto.
"Na internet convencional [da discada à banda larga oferecida pelas teles], o cliente paga um preço definido pelo pico de uso", diz Orlando César de Oliveira, consultor de telecomunicações da Copel Telecom. "Se ele usar menos, paga o preço cheio. Isso não é justo." Por isso, o produto da Copel possibilitará ao cliente pagar pela internet como paga pela energia elétrica. "Acredito em uma redução de até 50% em relação ao preço da internet convencional", diz Oliveira.
A Infovias, pertencente à Cemig, também faz testes em PLC. "Estamos prontos para oferecer banda larga pela nossa rede aos 6,5 milhões de clientes", diz Ivan Ferreira, superintendente técnico. "Mas vamos continuar prestando serviços às teles, que poderão alugar nossa rede em PLC caso queiram prestar serviços."

"Telelétricas"
Segundo Pedro Jatobá, presidente da Aptel (Associação de Empresas Proprietárias de Infraestrutura e de Sistemas Privados de Telecomunicações), todas as elétricas têm interesse no negócio. Antes, havia duas barreiras contra o avanço do PLC, a técnica e a comercial.
O entrave técnico se referia à interferência que a transmissão de dados pelos fios elétricos pode acarretar, principalmente em transmissões de rádio e de radioamadores. Esse problema está superado com a regulamentação da Anatel. Falta agora a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) dar seu aval. As elétricas já podem solicitar outorgas à Anatel, mas só prestarão o serviço após a decisão da Aneel, prevista para maio.
A barreira comercial também foi resolvida. Pela regulamentação do setor elétrico, as concessionárias não podem gerar receita a não ser pelo fornecimento de energia. Ainda que gerassem, teriam de repassá-la integralmente para abater no preço da tarifa de energia.
Para escapar, elas terão de pedir licenças à Anatel para prestar serviços de telecomunicações. Espera-se, portanto, uma proliferação das "telelétricas". Fabricantes de modems e switches (que fazem a conexão da rede de dados à elétrica) para PLC dizem que já existem pelo menos seis elétricas com pedidos de licença na Anatel.


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