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MUDANÇA DE RUMO
Área educacional do Ibmec custou R$ 2,9 milhões; novos sócios já investiram mais de US$ 1 milhão
Ex-sócio do Garantia troca banco por escola
CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
da Reportagem Local
Os quatro mais conhecidos ex-sócios do Banco Garantia, protagonistas de muitas jogadas célebres no mercado financeiro, estão
investindo em uma nova área, a
educação.
Depois de venderem o banco para o Credit Suisse First Boston, em
julho do ano passado, Jorge Paulo
Lemann, Cláudio Haddad, Marcel
Telles e Carlos Alberto Sicupira
continuam fazendo alguns negócios juntos.
O mais recente investimento dos
quatro foi a compra da área de ensino do Ibmec, o Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais, criado
em 1970 para pesquisas no setor e
que desde 1985 mantém cursos de
administração de empresas e economia.
Eles não entraram sozinhos no
negócio, conta Cláudio Haddad,
que foi diretor-superintendente
do Garantia e diretor de política
monetária do Banco Central no
governo Figueiredo.
Os quatro participaram do negócio por meio de uma holding; outra holding foi formada pelo economista Paulo Guedes, que era vice-presidente do Ibmec. Outros
executivos do instituto também se
tornaram sócios.
Haddad não revela quanto os novos sócios desembolsaram. Mas o
presidente do conselho do Ibmec,
o ex-ministro João Paulo dos Reis
Velloso, informa que eles pagaram
R$ 2,9 milhões.
A área de pesquisas vai continuar
com o antigo Ibmec, que usará esses recursos para financiar estudos
sobre o mercado de capitais. Também ficou para o antigo Ibmec um
imóvel em São Paulo, avaliado em
cerca de R$ 900 mil.
Além disso, um investimento de
mais de US$ 1 milhão já foi feito
pelos novos sócios no aluguel e na
reforma de um prédio próximo à
avenida Paulista, um dos centros
financeiros de São Paulo.
Foi no seu novo escritório que
Haddad, agora diretor-presidente
do Ibmec (o mesmo cargo de Paulo
Guedes), contou à Folhaseus planos para o novo empreendimento.
Folha - Como o sr. decidiu entrar
na área educacional?
Cláudio Haddad - Quando sai do
Garantia, não só assinei um contrato que me impede por uns tempos de atuar no mercado financeiro, como achei que, depois de ter
sido superintendente do banco,
não havia nada mais que eu pudesse almejar fazer na área bancária.
Além disso, eu queria mudar um
pouco de vida. A educação foi sempre uma área pela qual eu me interessei -aliás, foi por onde comecei.
Folha - Antes de ir para o Garantia, o sr. foi professor?
Haddad - Assim que eu me formei, fui ser professor da Fundação
Getúlio Vargas, no Rio. Durante
dois anos (de 74 a 76), fui só professor; depois comecei a dar consultoria para o próprio Garantia e,
mais tarde, virei economista-chefe
do banco e, depois, sócio.
Folha - O sr. passou, então, os últimos meses estudando possibilidades de investimento na área de
educação?
Haddad - Há bastante tempo já
estava com a idéia de entrar na
área educacional. Minha intenção
era partir do zero e criar uma escola. Mas aí o Paulo Guedes me procurou, dizendo que o Ibmec estava
num impasse porque as atividades
educacionais do instituto (que não
eram a razão original de sua criação) estavam exigindo investimentos de porte. Conversamos
durante alguns meses e fizemos
uma proposta para o conselho do
Ibmec.
Folha - Como foi exatamente a
venda?
Haddad - Uma empresa formada
por nós e por executivos do Ibmec
comprou as atividades educacionais do instituto. Essa empresa se
chama Ibmec Educacional S/A.
Houve uma cisão das atividades do
Ibmec. As atividades de ensino foram vendidas para nós.
Folha - E a parte de pesquisa ficou com o antigo Ibmec?
Haddad - Agora o Ibmec tem um
fundo formado com recursos que
pagamos a eles para financiar as
pesquisas. Nós compramos também a marca Ibmec, que eles não
podem mais usar em nenhuma atividade educacional.
Folha - E quanto vocês pagaram?
Haddad - Prefiro não dizer. Tenho vício de banqueiro e prefiro
que o vendedor fale.
Folha - Quanto vocês já investiram depois da compra?
Haddad - No aluguel e na reforma do novo prédio de São Paulo, já
investimos mais de US$ 1 milhão.
A prioridade era São Paulo porque
estamos implantando aqui as faculdades de economia e de administração. Antes, só havia os cursos
de pós-graduação, que também
existem no Rio de Janeiro, em Brasília e em Belo Horizonte. No Rio,
os cursos de graduação já existem
há quatro anos.
Folha - Independentemente do
seu interesse por educação, vale a
pena investir nessa área do ponto
de vista de negócio?
Haddad - Eu acho que sim. É claro que a educação nunca vai ser
igual ao mercado financeiro. Não
pretendo, nem de longe, repetir os
resultados financeiros do Banco
Garantia. Mas, acho que é um negócio rentável.
O nosso foco não é rentabilidade
massificada. Não é encher a escola
de alunos e baixar a qualidade.
Queremos ser a melhor faculdade
de economia e de administração
da América Latina. Queremos oferecer qualidade e sermos rentáveis
ao mesmo tempo.
Folha - O sr. fez algum estudo de
mercado antes de investir?
Haddad - Sempre mantive contato com a área educacional. Sei que
existe uma demanda por cursos de
qualidade. Além disso, está aumentando o número de estudantes
se formando no secundário. Então, a demanda por cursos universitários vai continuar crescendo. E
existe muita procura por educação
continuada. A globalização e a privatização estão exigindo que os
executivos se reciclem a cada cinco
ou dez anos.
Folha - O sr. acha que as escolas
privadas vão ocupar parte do espaço das universidades públicas?
Haddad - O que existe hoje no
Brasil em termos de ensino superior é, de um lado, a escola pública
onde estudam cerca de 40% dos
universitários e que está com uma
série de problemas. De outro, estão
faculdades privadas que não primam muito pela qualidade, tirando algumas ilhas de excelência como a FGV (Fundação Getúlio Vargas) e a PUC (Pontifícia Universidade Católica), por exemplo. O
que, aliás, se reflete nas notas que o
MEC (Ministério da Educação) está dando aos cursos particulares.
Folha - Para manter a qualidade
é preciso cobrar uma mensalidade
mais elevada?
Haddad - Em São Paulo, a mensalidade das nossas faculdades é de
cerca de R$ 850,00, semelhante à
cobrada pela FGV e que é só um
pouco mais alta do que é cobrado
por escolas secundárias de alto nível, como Porto Seguro e Santa
Cruz. Vamos dar bolsas de estudo
para quem precisar.
Folha - O que já foi feito que
mostra essa preocupação com
qualidade?
Haddad - Já estamos trazendo
pessoas como Afonso Celso Pastore (ex-presidente do Banco Central) para o comitê acadêmico e
professores que acabaram de fazer
seus cursos de pós-graduação nos
Estados Unidos.
Os alunos da graduação têm aula
em período integral e recebem um
laptop assim que começam as aulas para acompanhar as aulas e ter
acesso à Internet.
Estamos montando uma biblioteca de 7 mil livros. E estamos buscando uma parceria com uma universidade americana. Nosso enfoque é preparar o aluno para o mercado de trabalho -vamos inclusive ajudá-lo no último ano da faculdade a conseguir um estágio.
Folha - Como está sendo sua
adaptação à nova atividade depois
de quase 20 anos de mercado financeiro?
Haddad - São ritmos totalmente
diferentes. Continuo acompanhando o mercado financeiro, mas
sem o mesmo interesse. Sempre
gostei da área de educação e acho
que é importante que haja uma
profissionalização nesse setor.
Folha - O sr. não se preocupou
por estar iniciando um negócio
num momento de crise da economia brasileira?
Haddad - Se você for se preocupar com isso, não faz nada. No Garantia, já pensávamos assim. O
Brasil vai sair dessa crise, de uma
forma ou de outra.
Folha - Neste ano, outra pessoa
muito conhecida do mercado financeiro, o ex-presidente da Bolsa
de Valores de São Paulo Eduardo
da Rocha Azevedo, também investiu em uma escola de economia,
em Campinas (SP). Foi só coincidência?
Haddad - Foi uma coincidência,
mas talvez seja uma indicação de
que investir é educação é mesmo
um bom negócio.
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