São Paulo, domingo, 4 de maio de 1997.

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OPINIÃO ECONÔMICA
Venezuela: potência energética do século 21

ALFREDO TORO HARDY
Com a chegada do próximo milênio, a Venezuela firma-se como uma das potências energéticas do mundo. Essa posição é expressada por meio de quatro áreas básicas: petróleo e gás natural, eletricidade, carvão e Orimulsión.
Em matéria de petróleo as reservas provadas do país são as maiores do mundo, alcançando 360 bilhões de barris, cifra superior aos 261 bilhões de barris que constituem as reservas provadas da Arábia Saudita. Em matéria de gás natural o país ocupa o quinto lugar no mundo em reservas provadas, com 20 bilhões equivalentes em barris de petróleo.
Em carvão a produção em 1995 foi de 4,2 milhões de toneladas ao ano, e em Orimulsión (ainda que seja uma emulsão derivada do petróleo extrapesado, pode ser considerado como um rubro energético autônomo), de 3,6 bilhões de toneladas ao ano.
Até o ano 2003 a produção petrolífera terá passado dos 2,8 bilhões de barris diários atuais para 6,2 bilhões de barris por dia. Ao seu lado, as produções atuais de carvão e Orimulsión se multiplicarão nos próximos anos, para chegar em 2006 às seguintes cifras anuais: carvão, 21 milhões de toneladas, e Orimulsión, 32 milhões de toneladas.
Na área de geração hidrelétrica, a Venezuela apresenta-se como o quarto produtor mundial. Somente na região de Guayana, fronteira com o Brasil, as suas duas maiores represas, Guri e Macagua 2, dispõem de uma capacidade instalada de 12.540 mW. Quando estejam concluídas as represas de Caruachi y Tocoma, em construção, a capacidade de geração hidrelétrica instalada aumentará em 4.320 mW. O potencial combinado dos rios Caroní, Orinoco e Caura, na região de Guayana, chega aos 51.400 Mw. Isso sem contar com a capacidade hidrelétrica instalada e o enorme potencial disponível nos Andes venezuelanos.
Às cifras anteriores caberia acrescentar o fato de que as quatro áreas energéticas anteriores são gerenciadas por companhias sérias e sólidas. O campo da geração elétrica está, essencialmente, nas mãos da Electrificación del Caroní (Edelca), uma empresa cuja continuidade administrativa de muitos anos lhe garante um alto grau de profissionalismo e eficácia operativa. Da mesma maneira, a área dos hidrocarbonetos e carvão é dirigida pela Petróleos de Venezuela (PDVSA), a segunda companhia petroleira do mundo.
No caso concreto da Petróleos de Venezuela, encarregada de desenvolver as áreas do petróleo, o gás natural, a Orimulsión e o carvão, a garantia brindada pela sua condição de grande empresa transacional se faz evidente. Sua capacidade de refinação é de 2,4 bilhões de barris por dia, contando com 22 refinarias distribuídas em diversos países, o que lhe converte na sexta companhia do mundo em capacidade de refinação. Sua produção em matéria de petroquímica é de 4,4 bilhões de toneladas ao ano. Seus ativos no exterior incluem, entre outros interesses múltiplos, 100% da empresa CITGO Petroleum Corporation e 50% da Uno-Ven Company, nos Estados Unidos, assim como também 50% da Ruhr Oel GmbH da Alemanha e da AB Nynäs Petroleum da Suécia.
Somente os ativos fixos investidos na empresa CITGO alcançam US$ 8,8 bilhões, tratando-se da empresa com maior número de pontos de venda direta nos Estados Unidos, com 15 mil bombas de gasolina.
A eficiência operativa da Petróleos de Venezuela, por sua parte, a situa em um lugar privilegiado entre os gigantes petroleiros do mundo. Em 1995 a empresa alcançou a maior margem de ganhos em relação aos seus ingressos: 12%. Isso representa o dobro das quais a seguem na lista, a empresa Amoco com 6%, e três vezes mais que a Shell, Exxon, Mobil, BP e Texaco, que lograram uma média equivalente a 4%.
Juntamente a isso, a PDVSA é a que evidencia um patrimônio menos comprometido em relação ao seu passivo total, entre as grandes corporações petroleiras. Seu ativo total versus seu passivo total é de 335%, enquanto seus competidores mais próximos apresentam os seguintes valores: Shell, 200%; Amoco, 199%; Exxon, 180%, e Mobil, 174%.
As dimensões energéticas da Venezuela, unidas à sua alta capacidade gerencial nessa matéria, lhe outorgam uma posição particularmente favorável no difícil cenário global do século 21. A Venezuela será a principal potência energética do hemisfério ocidental, contando com as ferramentas adequadas para tirar pleno proveito disso.
O fato de o presidente Clinton ter incluído a Venezuela entre o grupo dos principais países da região que visitará testemunha o duplo significado econômico e político da sua condição de grande potência energética. Afinal de contas, a Venezuela não só é o principal fornecedor estrangeiro dos Estados Unidos, mas também o maior vendedor de gasolina no mercado doméstico norte-americano.


Alfredo Toro Hardy, 46, advogado pela Universidade Central da Venezuela, é embaixador da Venezuela no Brasil. Foi diretor do Instituto de Altos Estudos Diplomáticos "Pedro Gual" do Ministério das Relações Exteriores da Venezuela e autor de "A Desordem Global", entre outros livros.

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