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São Paulo, domingo, 04 de maio de 2003

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Para vice, banco dará "estímulo governamental"

DO EDITOR DO PAINEL S.A.

O BNDES irá voltar a adotar uma política de subsídios para estimular alguns setores da economia considerados prioritários para o desenvolvimento do país.
A afirmação é do vice-presidente do banco, Darc Antônio da Luz Costa, 55. Costa evita a palavra subsídio. Acha que idéias como subsídio e desenvolvimento foram retiradas da economia nos últimos 15, 20 anos. "Eu prefiro chamar de estímulo governamental", afirmou.
De acordo com o número dois do banco, no mês que vem, o BNDES irá concluir a revisão que está fazendo nas suas políticas operacionais. É esse trabalho que definirá a política de estímulos governamentais do banco.
Leia os principais trechos da entrevista:
(GUILHERME BARROS)
 
Folha - Quais serão as prioridades do BNDES do governo Lula?
Darc Costa -
As prioridades do BNDES hoje estão centradas, basicamente, na idéia que nós temos que recuperar a ideologia do desenvolvimento. O Brasil teve, durante muito tempo, a idéia do desenvolvimento de forma muito clara no imaginário coletivo. Nos últimos 15, 20 anos, essa questão do desenvolvimento deixou de trafegar como nós achávamos que deveria trafegar. O país não é ainda um país desenvolvido. O Brasil tem ilhas desenvolvidas num espaço subdesenvolvido. Há uma indústria moderna, ampla, diversificada, mas isso não quer dizer que vivemos num país industrializado.

Folha - Quais são as prioridades do BNDES?
Costa -
As nossas prioridades hoje são exportação, geração de infra-estrutura física e apoio à tecnologia e às pequenas e médias empresas.

Folha - O desempenho do BNDES nesses primeiros meses já mostra sinais dessa mudança?
Costa -
O BNDES é um banco de longo prazo. Não dá para sentir as mudanças no banco com base no desempenho dos últimos três meses. Qualquer conclusão da política do BNDES só deve ser feita a partir de um ano e meio de prazo.

Folha - Como será essa política de incentivo?
Costa -
Se um determinado investimento for realizado numa região subdesenvolvida, o BNDES poderá dar condições melhores de financiamento. Os instrumentos são basicamente juros menores e prazos maiores para o pagamento do empréstimo. Nós estamos num período de transição, onde as grandes linhas da política para os próximos anos já foram traçadas. São as prioridades que já mencionei. Agora, nós vamos ter de fazer isso com uma sintonia fina. O que significa essa sintonia fina? É fixar quais serão as taxas de juros, qual será a participação do BNDES nos projetos e quais serão os prazos que o BNDES vai adotar para cada setor da economia e para cada região. Tudo isso exige estudo prévio. Isso chama-se planejamento. Nós não vamos deixar que o mercado estabeleça as prioridades do banco. Nós vamos pautar o mercado.

Folha - O Estado terá uma ação mais ativa?
Costa -
Exatamente. Nós seremos ativos. Não seremos receptivos. Seremos reativos. O que diferencia o BNDES de hoje do BNDES de ontem é que o banco voltou a funcionar da forma que foi concebido. Ou seja, como um instrumento do fomento das atividades produtivas.

Folha - O que o BNDES fará com os programas existentes ?
Costa -
O BNDES tem programa para tudo. Só de programas regionais, tem uns cinco ou seis, como o programa Nordeste Competitivo, Programa Centro-Oeste, Reconversul etc. Nós vamos reestruturar isso de forma que fique mais claro quais serão as prioridades e as condições para se efetivar as operações. Existem também vários programas para a área agrícola, como o Produmel, o Producera, e vários outros.
Nós vamos simplificar esses programas de forma que o empresário saiba, efetivamente, quais são as condições que nós daremos para os setores da economia. Para alguns setores da economia brasileira é necessário que exista estímulos governamentais. Isso pressupõe ação de governo.

Folha - O BNDES vai promover a volta dos subsídios?
Costa -
Eu prefiro chamar de estímulo governamental. Esses estímulos são os instrumentos que o BNDES usa para favorecer determinado setor. São taxas de juros diferenciadas, mais atrativas.

Folha - Quais os setores que precisam de estímulo governamental?
Costa -
Setores que precisam hoje de um estímulo governamental? Todo o setor de tecnologia de ponta, por exemplo, precisa de estímulo governamental. O setor energético também precisa, principalmente nas áreas das chamadas energias renovadas. O ciclo do petróleo tem um ciclo determinado. As perspectivas indicam que nós teremos petróleo por mais 40, 50 anos. Nós temos que começar a pensar em alternativas para o petróleo. Você tem um outro exemplo de setor que tem de ser estimulado, que é o de infra-estrutura.

Folha - Como seriam esses estímulos?
Costa -
Pode ser por taxa de juros, pode ser por prazo de carência, participação do banco... Há setores, por exemplo, que o BNDES pode bancar quase tudo (hoje, há um limite da participação do BNDES nos investimentos).

Folha - O BNDES também pode entrar como sócio?
Costa -
Nós também trabalharmos com idéia de sermos sócios, de participarmos do risco do empreendimento. São coisas que nós podemos fazer.

Folha - O sr. acha subsídio um "palavrão"?
Costa -
Da mesma forma que aconteceu com a idéia do desenvolvimento, a idéia do subsídio também foi pouco a pouco sendo retirada da economia. Nos últimos 20 anos não se fala em desenvolvimento no Brasil. Quando eu era garoto não havia uma folha de jornal no Brasil que não falasse em desenvolvimento. Era consenso em todas as correntes de opinião.



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