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Para vice, banco dará "estímulo governamental"
DO EDITOR DO PAINEL S.A.
O BNDES irá voltar a adotar
uma política de subsídios para estimular alguns setores da economia considerados prioritários para o desenvolvimento do país.
A afirmação é do vice-presidente do banco, Darc Antônio da Luz
Costa, 55. Costa evita a palavra
subsídio. Acha que idéias como
subsídio e desenvolvimento foram retiradas da economia nos
últimos 15, 20 anos. "Eu prefiro
chamar de estímulo governamental", afirmou.
De acordo com o número dois
do banco, no mês que vem, o
BNDES irá concluir a revisão que
está fazendo nas suas políticas
operacionais. É esse trabalho que
definirá a política de estímulos
governamentais do banco.
Leia os principais trechos da entrevista:
(GUILHERME BARROS)
Folha - Quais serão as prioridades
do BNDES do governo Lula?
Darc Costa - As prioridades do
BNDES hoje estão centradas, basicamente, na idéia que nós temos
que recuperar a ideologia do desenvolvimento. O Brasil teve, durante muito tempo, a idéia do desenvolvimento de forma muito
clara no imaginário coletivo. Nos
últimos 15, 20 anos, essa questão
do desenvolvimento deixou de
trafegar como nós achávamos
que deveria trafegar. O país não é
ainda um país desenvolvido. O
Brasil tem ilhas desenvolvidas
num espaço subdesenvolvido. Há
uma indústria moderna, ampla,
diversificada, mas isso não quer
dizer que vivemos num país industrializado.
Folha - Quais são as prioridades
do BNDES?
Costa - As nossas prioridades
hoje são exportação, geração de
infra-estrutura física e apoio à tecnologia e às pequenas e médias
empresas.
Folha - O desempenho do BNDES
nesses primeiros meses já mostra
sinais dessa mudança?
Costa - O BNDES é um banco de
longo prazo. Não dá para sentir as
mudanças no banco com base no
desempenho dos últimos três meses. Qualquer conclusão da política do BNDES só deve ser feita a
partir de um ano e meio de prazo.
Folha - Como será essa política de
incentivo?
Costa - Se um determinado investimento for realizado numa região subdesenvolvida, o BNDES
poderá dar condições melhores
de financiamento. Os instrumentos são basicamente juros menores e prazos maiores para o pagamento do empréstimo. Nós estamos num período de transição,
onde as grandes linhas da política
para os próximos anos já foram
traçadas. São as prioridades que já
mencionei. Agora, nós vamos ter
de fazer isso com uma sintonia fina. O que significa essa sintonia fina? É fixar quais serão as taxas de
juros, qual será a participação do
BNDES nos projetos e quais serão
os prazos que o BNDES vai adotar
para cada setor da economia e para cada região. Tudo isso exige estudo prévio. Isso chama-se planejamento. Nós não vamos deixar
que o mercado estabeleça as prioridades do banco. Nós vamos
pautar o mercado.
Folha - O Estado terá uma ação
mais ativa?
Costa - Exatamente. Nós seremos ativos. Não seremos receptivos. Seremos reativos. O que diferencia o BNDES de hoje do
BNDES de ontem é que o banco
voltou a funcionar da forma que
foi concebido. Ou seja, como um
instrumento do fomento das atividades produtivas.
Folha - O que o BNDES fará com os
programas existentes ?
Costa - O BNDES tem programa
para tudo. Só de programas regionais, tem uns cinco ou seis, como
o programa Nordeste Competitivo, Programa Centro-Oeste, Reconversul etc. Nós vamos reestruturar isso de forma que fique mais
claro quais serão as prioridades e
as condições para se efetivar as
operações. Existem também vários programas para a área agrícola, como o Produmel, o Producera, e vários outros.
Nós vamos simplificar esses
programas de forma que o empresário saiba, efetivamente,
quais são as condições que nós
daremos para os setores da economia. Para alguns setores da
economia brasileira é necessário
que exista estímulos governamentais. Isso pressupõe ação de
governo.
Folha - O BNDES vai promover a
volta dos subsídios?
Costa - Eu prefiro chamar de estímulo governamental. Esses estímulos são os instrumentos que o
BNDES usa para favorecer determinado setor. São taxas de juros
diferenciadas, mais atrativas.
Folha - Quais os setores que precisam de estímulo governamental?
Costa - Setores que precisam hoje de um estímulo governamental? Todo o setor de tecnologia de
ponta, por exemplo, precisa de estímulo governamental. O setor
energético também precisa, principalmente nas áreas das chamadas energias renovadas. O ciclo
do petróleo tem um ciclo determinado. As perspectivas indicam
que nós teremos petróleo por
mais 40, 50 anos. Nós temos que
começar a pensar em alternativas
para o petróleo. Você tem um outro exemplo de setor que tem de
ser estimulado, que é o de infra-estrutura.
Folha - Como seriam esses estímulos?
Costa - Pode ser por taxa de juros, pode ser por prazo de carência, participação do banco... Há
setores, por exemplo, que o
BNDES pode bancar quase tudo
(hoje, há um limite da participação do BNDES nos investimentos).
Folha - O BNDES também pode
entrar como sócio?
Costa - Nós também trabalharmos com idéia de sermos sócios,
de participarmos do risco do empreendimento. São coisas que nós
podemos fazer.
Folha - O sr. acha subsídio um
"palavrão"?
Costa - Da mesma forma que
aconteceu com a idéia do desenvolvimento, a idéia do subsídio
também foi pouco a pouco sendo
retirada da economia. Nos últimos 20 anos não se fala em desenvolvimento no Brasil. Quando eu
era garoto não havia uma folha de
jornal no Brasil que não falasse
em desenvolvimento. Era consenso em todas as correntes de opinião.
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