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"RECALL" DE EMPRESAS
Após hibernação legislação volta ao debate; governo vê arma para reduzir o "spread" bancário
Para analistas, só lei de falência não corta juro
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de dez anos de hibernação, o projeto da nova Lei de Falências ressurgiu no final do governo Fernando Henrique Cardoso e, agora, está sendo vendido
pelo atual como uma arma para
reduzir o "spread" bancário.
Por esse raciocínio, ao tornar
mais flexível e negociado o processo de recuperação de empresas
em dificuldades financeiras, a nova lei ajudaria a baixar os juros.
Os lobbies que fizeram o projeto
encaminhado ao Legislativo em
1993 mofar por tanto tempo na
gaveta já estão em polvorosa para
garantir seus interesses. O resultado de análises, emendas e propostas que envolveram desde o Banco Central até a Câmara Americana está num calhamaço de 71 páginas e 238 artigos.
Em que linha ou alínea está a
pedra de toque que poderá amordaçar os juros brasileiros é difícil
dizer. Os céticos duvidam que isso ocorra."Os juros não são altos
por causa da Lei de Falências", diz
Alberto Borges Matias, professor
da faculdade de Economia da
USP de Ribeirão Preto.
Para o economista, é a manutenção da taxa básica (Selic) em
níveis elevados para financiar o
governo, e os gordos "spreads"
bancários que determinam o custo do dinheiro nos financiamentos ao consumidor e às empresas.
"Spread" é a diferença entre a
taxa de juros paga pelo banco ao
captar recursos no mercado, e a
que ele recebe ao emprestar dinheiro. Segundo estudo feito pela
ABM Consulting a pedido da Folha, em março, a taxa média do
"spread" bancário estava em 33%
ao ano.
Matias afirma que esse patamar
de "spread" é consequência do
baixo volume de crédito concedido pelos bancos brasileiros. "No
Brasil, o volume total de crédito
corresponde a 23% do PIB ", diz.
Já na Espanha o total de créditos
concedidos na economia representa 134% do PIB e na Alemanha, 164%. "Nós não temos volume de crédito nos padrões daqueles países, mas temos uma estrutura operacional nos bancos igual
ou melhor que a deles", observa.
Assim, quem toma empréstimos bancários tem de pagar por
essa estrutura. "A falta de escala
faz com que os bancos dependam
de juros altos para amortizar seus
custos", diz Matias.
Estudo da ABM Consulting
mostra que há uma forte correlação entre taxa de juros e volume
de crédito. "Se a taxa de juros para
pessoa física subir hoje 10%, daqui a três meses o volume de crédito cairá 8,9% e em seis meses
cairá 9,4%", diz Alan Marinovic,
analista da ABM Consulting.
Mesmo defensores das mudanças no sistema de concordatas e
falências são cuidadosos ao analisar o impacto da nova lei.
Armando Castelar Pinheiro,
economista do Ipea (Instituto de
Pesquisas Econômicas Aplicadas), diz que "é impossível medir
numericamente o impacto da lei
de falências sobre o "spread'".
Na sua opinião, "a lei de falências não é uma panacéia, mas parte de um processo mais amplo
que poderá reduzir o "spread" e os
juros no país". Ao mesmo tempo
em que muda a lei, o custo do capital no mercado internacional, o
risco-país e a economia interna
estão mudando. "E tudo isso influencia o custo do dinheiro", diz
ele.
A contribuição da nova lei é
que, ao tornar mais ágil o processo de recuperação de empresas
em dificuldades financeiras, evita
sua quebra e grandes prejuízos
para devedores e credores. Castelar é autor de um dos mais celebrados trabalhos sobre o impacto
da morosidade da Justiça sobre o
desempenho da economia.
Alguns itens do projeto de lei
4.376/93, segundo Castelar, podem ajudar a baixar os juros. "A
forma como qualquer país reduz
"spread" é aumentando a qualidade das garantias dadas na concessão de crédito", diz ele.
Sérgio Werlang, diretor do banco Itaú e ex-diretor do BC, defende a mesma tese. "A alta inadimplência e a dificuldade que os bancos têm em executar suas garantias são as principais determinantes do "spread" bancário", diz
Werlang.
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