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TENSÃO ENTRE VIZINHOS
Presidente diz que não vai "brigar" com Bolívia e ironiza Bush
Lula apóia Morales e vê erro estratégico em dependência
PEDRO DIAS LEITE
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva apoiou ontem a decisão do
boliviano Evo Morales de nacionalizar as reservas de gás de seu
país e disse que não existe nenhuma crise entre os dois países. Lula
afirmou que os preços não vão subir, chegou a fazer uma brincadeira dizendo que não iria "descobrir
uma arma" na Bolívia para brigar
com o vizinho e classificou de "erro estratégico o Brasil ficar dependente de uma única fonte de energia que não é nossa".
A construção do gasoduto foi
acertada em agosto de 1992, ainda
no governo de Fernando Collor
de Mello, e o contrato para a construção foi assinado em setembro
de 1996, na gestão de Fernando
Henrique Cardoso, segundo informações da Petrobras.
"Nós estamos vendo a imprensa
brasileira falar da crise Brasil-Bolívia, não tem crise Brasil-Bolívia.
E não existe a crise. Existirá um
ajuste necessário de um povo sofrido e que tem o direito de reivindicar ter maior poder sobre a
maior riqueza que tem", disse Lula, muito aplaudido pelas cerca de
300 pessoas, de 35 países, na abertura da 16ª Reunião Regional das
Américas da OIT (Organização
Internacional do Trabalho).
À tarde, Lula disse que "a coisa é
mais tranqüila do que se possa
imaginar". A avaliação foi feita a
donos de jornais, depois da assinatura de uma declaração de
apoio à liberdade de imprensa.
Em seguida, em entrevista, afirmou que "não vai aumentar o
preço do gás". "Não tenho essa
preocupação", afirmou.
A decisão de Morales obriga a
Petrobras, que já investiu US$ 1,5
bilhão no país, a vender o controle
acionário de suas refinarias ao governo boliviano e eleva os impostos de 50% para 82%. Se não aceitar, será forçada a deixar o país em
um prazo de 180 dias. A estatal
brasileira já decidiu recorrer à
Justiça dos EUA.
Mas Lula evitou qualquer atrito
com Morales e até ironizou a situação. "Não vamos descobrir
uma arma qualquer na Bolívia para justificar uma briga com a Bolívia não", disse, no evento pela
manhã, para risos da platéia.
Foi uma menção à invasão do
Iraque pelos EUA. O governo
George W. Bush usou como justificativa para a guerra a existência
de armas de destruição em massa
no Iraque, mas depois ficou provado que não existiam.
Minutos depois da crítica a
Bush, Lula lembrou que mantém
"ótimo" relacionamento com o
atual presidente dos EUA.
Lula afirmou ainda que vai decidir o impasse com os bolivianos
por meio de negociação, sem confronto. "Eu faço política, eu
aprendi a negociar muito antes de
ser político, e as divergências nossas serão tiradas em torno de uma
mesa, conversando", disse.
Hoje, Lula tem uma reunião em
Puerto Iguazu (Argentina) com
Morales e os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Argentina, Néstor Kirchner.
"O fato de os bolivianos terem
direitos não significa negar os direitos do Brasil. O que não pode é
uma nação tentar impor sua soberania sobre as outras, sem levar
em conta que o resultado final da
democracia é o equilíbrio entre as
partes", disse Lula.
No dia anterior, em nota, o governo brasileiro já tinha dito que
reconhece a nacionalização como
"ato inerente à soberania" da Bolívia e lembrava que o Brasil, "como manda sua Constituição,
exerce pleno controle sobre as riquezas do seu próprio subsolo".
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