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TENSÃO ENTRE VIZINHOS
Venezuelano vê Morales antes de reunião com Lula e diz que PDVSA está disposta a investir no país
Chávez afirma estar "às ordens" da Bolívia
CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A LA PAZ
Na véspera de se reunir com o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o venezuelano Hugo Chávez
desembarcou ontem à noite em
La Paz, capital da Bolívia, para dar
uma forte declaração de apoio à
decisão de seu colega Evo Morales
de nacionalizar a exploração de
gás e petróleo, que afeta em cheio
a brasileira Petrobras.
Depois de se reunir por quase
três horas com Morales, Chávez
saiu do encontro com o anúncio
de que a estatal venezuelana
PDVSA está disposta a investir no
desenvolvimento de hidrocarbonetos na Bolívia. Afirmou ainda
que a empresa tem capacidade
para operar campos de gás no
país e estará "plenamente às ordens" da Bolívia se for necessária
a sua participação.
Chávez acrescentou que a
PDVSA e a estatal boliviana YPFB
já firmaram uma aliança estratégica para explorar um poço de petróleo na Bolívia.
Morales aproveitou a promessa
de Chávez para dar uma estocada
na Petrobras, que ontem disse
que suspenderá seus investimentos na Bolívia. "Algumas empresas disseram que não vão investir
mais e outras que vão investir
mais", disse o boliviano.
Depois que Chávez deixou o palácio, Morales deu uma interpretação diferente da do governo
brasileiro para a reunião que haverá hoje entre ele, Chávez, Lula e
Néstor Kirchner. Segundo Morales, o encontro servirá para debater a integração latino-americana
e o gasoduto do sul idealizado pelo presidente venezuelano. Nenhuma palavra sobre o conflito
com o Brasil em torno do gás.
Logo que desembarcou, Chávez
defendeu a posição de Morales.
"A Bolívia está recuperando o
controle de seus recursos energéticos para colocá-los a serviço dos
bolivianos. Com isso, Evo vai ter
mais recursos para lutar contra a
miséria, a pobreza, o analfabetismo, a desnutrição", afirmou
Quando uma repórter perguntou
a Chávez se ele iria aconselhar
Morales, o venezuelano sorriu e
respondeu: "Aconselhar? Não, felicitar". Segundo o presidente, a
Bolívia está seguindo o mesmo
caminho da Venezuela, país que
também reviu a legislação de hidrocarbonetos, impôs novos contratos às empresas estrangeiras e
aumentou impostos.
Chávez tem usado o poder proporcionado pelas reservas de petróleo da Venezuela para ampliar
sua influência na América do Sul.
Ontem, deixou claro que pretende consolidar seus laços com Morales, visto até recentemente como mais próximo de Lula.
O venezuelano afirmou que sua
prioridade é a construção do
grande gasoduto que faria a integração energética da América do
Sul, com gás da Venezuela e da
Bolívia. "A Bolívia tem uma das
maiores reservas de gás natural
do mundo. Com a Venezuela, temos uma das maiores reservas do
continente americano. Esse gás,
matéria-prima fundamental para
a energia e o desenvolvimento,
tanto a Bolívia como a Venezuela
estamos dispostos a colocá-lo à
disposição dos povos da América
do Sul", declarou.
A expectativa do governo brasileiro era que Chávez faria gestões
para amenizar as decisões recentes de Morales, mas as declarações de ontem deixaram claro que
essa não era sua intenção.
"Entre La Paz e Caracas estaremos trilhando a integração bolivariana de nosso povo", afirmou,
acentuando a identidade política
com Morales.
O convite de Lula para que o
presidente venezuelano participasse do encontro de hoje surpreendeu o economista Gonzálo
Chavez, diretor da cadeira de
mestrado sobre desenvolvimento
da Universidade Católica Boliviana. "Lula multilateralizou uma
questão que é bilateral."
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