São Paulo, quinta-feira, 04 de maio de 2006

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TRABALHO

Reestruturação foi anunciada e inclui redução de custos na mão-de-obra; matriz propôs fechar uma fábrica no Brasil

Volks deve cortar até 5.800 trabalhadores

ADRIANA MATTOS
CLAUDIA ROLLI

DA REPORTAGEM LOCAL

A Volkswagen do Brasil pretende demitir trabalhadores, cortar benefícios dos empregados e reduzir os custos das fábricas como parte de um amplo projeto de reestruturação da empresa no mundo e no país. Líder em exportações no mercado automotivo, a montadora, que emprega hoje cerca de 21 mil brasileiros em cinco unidades no país, é a quinta maior exportadora do Brasil.
A companhia não estima o total de funcionários que deve dispensar e nega que tenha discutido esse número com representantes dos trabalhadores. Mas informa que quer implementar medidas para reduzir em 25% os custos com a mão-de-obra na produção de novos modelos da marca VW.
Em assembléia, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (filiado à CUT) informou que a montadora quer demitir 5.773 trabalhadores das unidades de São Bernardo do Campo, Taubaté e São José dos Pinhais (Paraná) até 2008.
"Só neste ano haveria redução de 3.016 funcionários, sendo 1.793 dos que trabalham em São Bernardo", diz José Lopez Feijóo, presidente do sindicato. Como os empregados do ABC têm acordo que garante estabilidade no emprego até novembro, os cortes só ocorreriam após essa data.
"Esses números estão inteiramente errados. Não posso acreditar que eles [sindicatos] falaram isso. É um mal-entendido deliberado. Não compartilharei com isso", disse Hans-Christian Maergner, presidente da Volkswagen do Brasil. "Vamos implementar todas as medidas cabíveis. Vamos reformular nosso programa de exportação, aumentar nossa competitividade, cortar custos fixos e, depois disso, avaliaremos as conseqüências para a mão-de-obra", afirma o executivo.
Em material divulgado ontem sobre a reestruturação da companhia, a VW cita oito pontos. Entre eles, a "redução de custos fixos em 2007 incluindo a possibilidade de fechamento de uma fábrica".

Fábrica cara
Para a Volks, a unidade mais "cara", considerado o custo da mão-de-obra, é a fábrica de São Bernardo -ela custa 50% a mais do que a sua concorrente, a fábrica da Fiat, em Betim (BH). Em São Bernardo, é fabricado o Fox para exportação, além de cinco outros modelos. É exatamente a taxa de câmbio para exportação a "grande dor de cabeça" da empresa hoje e a razão desse projeto de reformulação do grupo.
A Volkswagen admite que a direção da montadora na Alemanha propôs a possibilidade de fechar uma unidade no país, mas o comando no Brasil teria sido contrário a idéia. Maergner nega ainda que a fábrica de Anchieta seja a principal candidata ao fechamento. Mas afirma que, se isso acontecer, "a Volks não será a primeira a sair da região [do ABC]". Diz ainda ter "confiança nos sindicalistas" para encontrar uma solução. "Greve nunca resolveu nada."
Os trabalhadores reagiram ao anúncio da VW. "Se for necessário fazer greve, estamos preparados. Mas isso ocorrerá na hora certa", diz Feijóo. No próximo dia 8, sindicalistas do ABC se encontrarão com os representantes do Comitê Mundial dos Trabalhadores da VW e podem definir estratégias em conjunto para dificultar os planos da montadora.
"Pelos nossos cálculos [com base na produção e na demanda], está sobrando uma planta [no país]", afirma o presidente da companhia no Brasil.
O imbróglio em que a Volks está hoje nada tem a ver com o mercado interno de automóveis, que vai bem. É resultado de uma estratégia de produção montada, em parte, numa taxa de câmbio que era favorável para a venda no exterior. Ao final de 2004, a empresa vendia ao mercado externo com o dólar cotado a R$ 2,43. No início de maio, não passava de R$ 2. A montadora passou a embolsar menos reais pelas vendas até que, em 2005, começou a vender com margem de lucro negativa. Cerca de 30% da produção da Volks é exportada. Para cortar despesas, investimentos foram reduzidos nos últimos sete anos. "Fizemos a lição de casa. Mas não adiantou", afirma o presidente da VW.
Em 2005, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) anunciou crédito de US$ 853 milhões para exportações de carros para quatro montadoras. A Volks obteve a maior parte -US$ 303 milhões.


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