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TRABALHO
Reestruturação foi anunciada e inclui redução de custos na mão-de-obra; matriz propôs fechar uma fábrica no Brasil
Volks deve cortar até 5.800 trabalhadores
ADRIANA MATTOS
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Volkswagen do Brasil pretende demitir trabalhadores, cortar
benefícios dos empregados e reduzir os custos das fábricas como
parte de um amplo projeto de
reestruturação da empresa no
mundo e no país. Líder em exportações no mercado automotivo, a
montadora, que emprega hoje
cerca de 21 mil brasileiros em cinco unidades no país, é a quinta
maior exportadora do Brasil.
A companhia não estima o total
de funcionários que deve dispensar e nega que tenha discutido esse número com representantes
dos trabalhadores. Mas informa
que quer implementar medidas
para reduzir em 25% os custos
com a mão-de-obra na produção
de novos modelos da marca VW.
Em assembléia, o Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC (filiado à
CUT) informou que a montadora
quer demitir 5.773 trabalhadores
das unidades de São Bernardo do
Campo, Taubaté e São José dos
Pinhais (Paraná) até 2008.
"Só neste ano haveria redução
de 3.016 funcionários, sendo 1.793
dos que trabalham em São Bernardo", diz José Lopez Feijóo,
presidente do sindicato. Como os
empregados do ABC têm acordo
que garante estabilidade no emprego até novembro, os cortes só
ocorreriam após essa data.
"Esses números estão inteiramente errados. Não posso acreditar que eles [sindicatos] falaram
isso. É um mal-entendido deliberado. Não compartilharei com isso", disse Hans-Christian Maergner, presidente da Volkswagen do
Brasil. "Vamos implementar todas as medidas cabíveis. Vamos
reformular nosso programa de
exportação, aumentar nossa
competitividade, cortar custos fixos e, depois disso, avaliaremos as
conseqüências para a mão-de-obra", afirma o executivo.
Em material divulgado ontem
sobre a reestruturação da companhia, a VW cita oito pontos. Entre
eles, a "redução de custos fixos em
2007 incluindo a possibilidade de
fechamento de uma fábrica".
Fábrica cara
Para a Volks, a unidade mais
"cara", considerado o custo da
mão-de-obra, é a fábrica de São
Bernardo -ela custa 50% a mais
do que a sua concorrente, a fábrica da Fiat, em Betim (BH). Em
São Bernardo, é fabricado o Fox
para exportação, além de cinco
outros modelos. É exatamente a
taxa de câmbio para exportação a
"grande dor de cabeça" da empresa hoje e a razão desse projeto
de reformulação do grupo.
A Volkswagen admite que a direção da montadora na Alemanha propôs a possibilidade de fechar uma unidade no país, mas o
comando no Brasil teria sido contrário a idéia. Maergner nega ainda que a fábrica de Anchieta seja a
principal candidata ao fechamento. Mas afirma que, se isso acontecer, "a Volks não será a primeira a
sair da região [do ABC]". Diz ainda ter "confiança nos sindicalistas" para encontrar uma solução.
"Greve nunca resolveu nada."
Os trabalhadores reagiram ao
anúncio da VW. "Se for necessário fazer greve, estamos preparados. Mas isso ocorrerá na hora
certa", diz Feijóo. No próximo dia
8, sindicalistas do ABC se encontrarão com os representantes do
Comitê Mundial dos Trabalhadores da VW e podem definir estratégias em conjunto para dificultar
os planos da montadora.
"Pelos nossos cálculos [com base na produção e na demanda],
está sobrando uma planta [no
país]", afirma o presidente da
companhia no Brasil.
O imbróglio em que a Volks está
hoje nada tem a ver com o mercado interno de automóveis, que vai
bem. É resultado de uma estratégia de produção montada, em
parte, numa taxa de câmbio que
era favorável para a venda no exterior. Ao final de 2004, a empresa
vendia ao mercado externo com o
dólar cotado a R$ 2,43. No início
de maio, não passava de R$ 2. A
montadora passou a embolsar
menos reais pelas vendas até que,
em 2005, começou a vender com
margem de lucro negativa. Cerca
de 30% da produção da Volks é
exportada. Para cortar despesas,
investimentos foram reduzidos
nos últimos sete anos. "Fizemos a
lição de casa. Mas não adiantou",
afirma o presidente da VW.
Em 2005, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) anunciou crédito de US$ 853 milhões para exportações de carros para quatro
montadoras. A Volks obteve a
maior parte -US$ 303 milhões.
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