São Paulo, sexta-feira, 04 de maio de 2007

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Diálogo está "perto do limite", diz Morales

Presidente boliviano aponta "intransigência" da Petrobras em negociações sobre venda do controle de refinarias no país

García Linera, vice, afirma que brasileira já concordou em atuar como prestadora de serviços; estatal diz que gestão não está definida


Aizar Raldes - 9.fev.07/France Presse
O presidente Evo Morales e seu vice, Álvaro García Linera


BRUNO LIMA
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ

Em ato simbólico de retomada de um campo de extração de gás, o presidente da Bolívia, Evo Morales, afirmou ontem que há "intransigência" na maneira como a Petrobras tem conduzido as negociações para a venda do controle de suas refinarias no país ao Estado boliviano. Segundo ele, seu governo tenta privilegiar o diálogo, mas está perto do "limite".
"As refinarias têm de estar nas mãos do Estado e do povo boliviano. Vamos apostar no diálogo, mas também o diálogo tem um limite quando há certa intransigência, não do presidente, não do povo, não do governo do Brasil, mas de alguns interesses seguramente externos aos interesses da Petrobras", reclamou.
Morales, que preside o país mais pobre da América Latina, disse reconhecer que "o Brasil é um país desenvolvido, líder da região em desenvolvimento industrial e econômico" e se referiu às duras negociações pelo aumento do preço do gás. "Em alguns momentos, nos perguntamos: como é possível que um pobre possa subvencionar um rico? Pedimos a compreensão das autoridades do Brasil."
O presidente boliviano voltou a dizer que a nacionalização dos hidrocarbonetos, cuja primeira fase só foi efetivada anteontem, é "irreversível".
Em tom bem mais ameno, Álvaro García Linera, vice-presidente da Bolívia, disse em entrevista à rádio Red Erbol que a Petrobras já havia concordado em atuar como prestadora de serviços após a venda do controle de suas duas refinarias.
"A Petrobras aceita uma série de medidas que vamos implementar nos próximos dias com relação ao tipo de trabalho que será feito pela refinaria como vendedora de serviço, e já não como proprietária."
Segundo Linera, a controvérsia segue no preço a ser pago pelas refinarias. O vice declarou que a proposta da Bolívia é pagar "entre US$ 50 milhões e US$ 60 milhões" -quantia que, segundo a Petrobras, está bem abaixo do valor de mercado. Ele acrescentou ainda que uma consultoria internacional será contratada para avaliar as refinarias e facilitar um acordo.
"Estamos avançando nas negociações. Os preços são altos, mas o ponto fundamental [em discussão] não é a transferência, já que ambas as partes decididiram a transferência, e a recuperação já está definida."
À Folha, o gerente-geral de exploração e produção da Petrobras na Bolívia, Fernando Borges, confirmou que a empresa estaria disposta a prestar serviços de refino por algum tempo até que os técnicos da estatal boliviana YPFB tenham condições de assumir sozinhos as operações. Ele não detalhou, porém, que contrapartidas seriam exigidas pela Petrobras.
"Aceitamos vender até 100% das refinarias, desde que o preço seja justo", afirmou Borges.
A Petrobras vinha dizendo que era inaceitável ser prestadora de serviços nas condições colocadas pelo decreto de nacionalização. O documento dispõe que o controle das refinarias deverá ir para a YPFB.
A Petrobras no Brasil se limitou a informar que não há nada definido sobre o modelo de gestão das refinarias na Bolívia.
Morales recebeu relatório das primeiras 24 horas de controle total sobre a extração. O presidente da YPFB, Guillermo Aruquipa, disse que o faturamento foi de US$ 7,72 milhões. "Só com exportações ao Brasil a YPFB emitirá nessas 24 horas fatura de US$ 3,5 milhões."


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