São Paulo, domingo, 04 de maio de 2008

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Nota do Brasil "destrava" aberturas de capital

Elevação do Brasil ao status de grau de investimento deve atrair capital externo e revigorar processo de lançamento de ações

Em 2008, houve 3 ofertas iniciais de ações, ante 63 em todo o ano passado; para analistas, reaquecimento depende do cenário externo

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Após o boom do lançamento de ações na Bolsa de Valores em 2007, houve uma drástica esfriada neste ano. Mas, com o novo status conquistado pelo Brasil, ao ser elevado a grau de investimento pela S&P (Standard & Poor's), cresceu a expectativa de que os IPOs voltem a ganhar ímpeto.
As operações de IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) em 2007 mostraram a importância do humor do investidor estrangeiro para que sejam realizadas. O capital externo ficou com cerca de 75% do volume ofertado nos 63 IPOs que ocorreram no ano passado.
Em 2008, até o momento, houve apenas três IPOs. E, no primeiro desses, o da Nutriplant (fabricante de fertilizantes), que ocorreu em fevereiro passado, os estrangeiros levaram só 11% do que foi ofertado. A Le Lis Blanc, que abriu capital no mês passado, ainda não divulgou a participação dos estrangeiros em sua oferta.
"Em um primeiro momento, com o "investment grade", joga-se uma nova luz sobre os IPOs passados, papéis que andavam meio esquecidos na Bolsa de Valores e devem ter uma correção. Não creio que no curto prazo vá haver uma chuva de IPOs, mas em um segundo momento devemos observar um aumento no apetite por novos papéis", avalia Eduardo Favrin, diretor de renda variável do HSBC Investment.
"O país teve uns três anos de atividade forte de IPOs, com o capital externo mais disposto a investir em novas ações. Mas, com a crise de crédito americana, passou-se a preferir mais papéis ligados a commodities e ao crescimento chinês a se arriscar em novatas", diz.
A crise internacional, que teve como epicentro os problemas do mercado de crédito imobiliário dos Estados Unidos e que se aprofundou no ano passado, deixou os investidores internacionais um pouco mais reticentes em relação a aplicações de maior risco -como é o caso das ações de emergentes.
Isso explica o porquê de as empresas terem adiado sua estréia na Bolsa de Valores.
Na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), há dez empresas à espera para realizarem seus IPOs. Dessas, seis deram entrada no pedido para emitir ações há mais de seis meses. Em um ritmo normal de mercado, já deveriam ter estreado.

Destino seguro
Na quarta-feira, a S&P anunciou a elevação do Brasil à categoria chamada de "investment grade" (grau de investimento). Entram nessa classificação os países que representam menores riscos de darem calote. Para os investidores internacionais, a decisão sinaliza que aplicar no Brasil (e em seus ativos) hoje é considerado mais seguro.
Nesse cenário, analistas avaliam que o mais provável é que um montante mais vigoroso de recursos estrangeiros desembarque no país. E um dos grandes beneficiados será o mercado acionário. Mas, para isso, é importante que a crise internacional não se agrave.
Para Alexandre Póvoa, diretor responsável pela Modal Asset Management, "o Brasil ficou mais atraente após o "investment grade" e passa a chamar a atenção de outros investidores [estrangeiros]" que não têm aplicações no país.
"É claro que a situação melhorou. Mas dependemos também do mercado internacional, de como vai se comportar daqui para frente. Se o cenário lá fora não melhorar, não haverá recursos disponíveis", diz Póvoa.
Em abril, os estrangeiros entraram com força na Bovespa. Mas direcionaram os recursos principalmente para ações mais tradicionais, como Petrobras, Vale e grandes bancos.


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