São Paulo, domingo, 04 de maio de 2008

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LUIZ GONZAGA BELLUZZO

Globalização e emprego


A competitividade chinesa cresce tanto nos mercados menos qualificados como nos de tecnologia sofisticada

NA POSTERIDADE da 2ª Guerra, sobretudo nos últimos 25 anos, a concorrência entre as empresas transnacionais da tríade desenvolvida (Estados Unidos, Japão e Eurolândia) determinou a reconfiguração da geoeconomia global. A transnacionalização da grande empresa -acompanhada da ampliação e da reorientação dos fluxos de comércio- promoveu o investimento "cruzado" nos mercados dos países industrializados e suscitou a redistribuição geográfica da produção manufatureira para a periferia.
A "metástase" da grande empresa ganhou força na década de 90 e, desde então, concentrou o investimento industrial na China e na Ásia emergente. Inicialmente, a inserção dos novos atores não só expandiu o comércio mundial a taxas elevadas como também transformou a sua natureza. Nas relações comerciais entre os países desenvolvidos prevalecia o intercâmbio de produtos dos mesmos setores (por exemplo, intercâmbio de automóveis entre a Alemanha e a Itália). Com o ingresso dos "emergentes", cresce mais rapidamente o comércio entre setores diferentes.
A China, no entanto, fez a diferença. Sua "competitividade" é crescente tanto nos mercados menos qualificados como, em ritmo acelerado, nos de tecnologia mais sofisticada. Torna-se grande receptor (incluída a intermediação das praças de Hong Kong e de Cingapura) do investimento direto norte-americano e, ao mesmo tempo, ganha participação crescente no mercado de bens finais, peças e componentes dos Estados Unidos. O drive exportador chinês vai deslocando a participação de seus parceiros asiáticos em terceiros mercados, ao mesmo tempo em que estimula as importações de peças e de componentes dos países da região. Simultaneamente, os chineses sustentam a continuada elevação da taxa de acumulação de capital e a rápida graduação tecnológica de suas exportações.
Em artigo recente, Paul Krugman reconsiderou seus pontos de vista a respeito dos efeitos da globalização sobre o emprego nos Estados Unidos. Ele diz: "Tempos atrás, a economia americana oferecia empregos de boa qualidade -empregos que não tornariam os trabalhadores ricos, mas lhes concederiam rendimento de classe média. Esses bons empregos eram proporcionados pela grande empresa manufatureira norte-americana, especialmente pela indústria automotiva".
Ele continua: "Os Estados Unidos tornaram-se um país muito mais rico nos últimos 30 anos, mas desde os anos 70 o salário por hora do trabalhador típico americano mal conseguiu acompanhar a inflação".
Durante os anos 90, escreve Krugman, ainda era possível sustentar que o aperfeiçoamento educacional e o melhor treinamento poderiam restaurar a capacidade de criação de empregos mais bem remunerados na economia americana. Nos últimos anos, os trabalhadores de colarinho branco ficaram tão expostos aos programas empresariais de enxugamento, busca de fornecedores externos e transplante de fábricas -ou seja, à concorrência dos operosos e preparados chineses e indianos- quanto já estavam os desditosos assalariados de macacão.


LUIZ GONZAGA BELLUZZO , 65, é professor titular de Economia da Unicamp. Foi chefe da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Fazenda (governo Sarney) e secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo (governo Quércia).


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