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LUIZ GONZAGA BELLUZZO
Globalização e emprego
A competitividade chinesa cresce tanto nos mercados menos qualificados como nos de tecnologia sofisticada
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NA POSTERIDADE da 2ª Guerra,
sobretudo nos últimos 25
anos, a concorrência entre as
empresas transnacionais da tríade
desenvolvida (Estados Unidos, Japão e Eurolândia) determinou a reconfiguração da geoeconomia global. A transnacionalização da grande empresa -acompanhada da ampliação e da reorientação dos fluxos
de comércio- promoveu o investimento "cruzado" nos mercados dos
países industrializados e suscitou a
redistribuição geográfica da produção manufatureira para a periferia.
A "metástase" da grande empresa
ganhou força na década de 90 e, desde então, concentrou o investimento industrial na China e na Ásia
emergente. Inicialmente, a inserção
dos novos atores não só expandiu o
comércio mundial a taxas elevadas
como também transformou a sua
natureza. Nas relações comerciais
entre os países desenvolvidos prevalecia o intercâmbio de produtos dos
mesmos setores (por exemplo, intercâmbio de automóveis entre a
Alemanha e a Itália). Com o ingresso
dos "emergentes", cresce mais rapidamente o comércio entre setores
diferentes.
A China, no entanto, fez a diferença. Sua "competitividade" é crescente tanto nos mercados menos qualificados como, em ritmo acelerado,
nos de tecnologia mais sofisticada.
Torna-se grande receptor (incluída
a intermediação das praças de Hong
Kong e de Cingapura) do investimento direto norte-americano e, ao
mesmo tempo, ganha participação
crescente no mercado de bens finais, peças e componentes dos Estados Unidos. O drive exportador chinês vai deslocando a participação de
seus parceiros asiáticos em terceiros
mercados, ao mesmo tempo em que
estimula as importações de peças e
de componentes dos países da região. Simultaneamente, os chineses
sustentam a continuada elevação da
taxa de acumulação de capital e a rápida graduação tecnológica de suas
exportações.
Em artigo recente, Paul Krugman
reconsiderou seus pontos de vista a
respeito dos efeitos da globalização
sobre o emprego nos Estados Unidos. Ele diz: "Tempos atrás, a economia americana oferecia empregos
de boa qualidade -empregos que
não tornariam os trabalhadores ricos, mas lhes concederiam rendimento de classe média. Esses bons
empregos eram proporcionados pela grande empresa manufatureira
norte-americana, especialmente
pela indústria automotiva".
Ele continua: "Os Estados Unidos
tornaram-se um país muito mais rico nos últimos 30 anos, mas desde
os anos 70 o salário por hora do trabalhador típico americano mal conseguiu acompanhar a inflação".
Durante os anos 90, escreve Krugman,
ainda era possível sustentar que o
aperfeiçoamento educacional e o
melhor treinamento poderiam restaurar a capacidade de criação de
empregos mais bem remunerados
na economia americana. Nos últimos anos, os trabalhadores de colarinho branco ficaram tão expostos
aos programas empresariais de enxugamento, busca de fornecedores
externos e transplante de fábricas
-ou seja, à concorrência dos operosos e preparados chineses e indianos- quanto já estavam os desditosos assalariados de macacão.
LUIZ GONZAGA BELLUZZO , 65, é professor titular de Economia da Unicamp. Foi chefe da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Fazenda (governo
Sarney) e secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de
São Paulo (governo Quércia).
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